not necessarily a girl.

637 59 4
                                    

— EU ACHEI QUE NÓS ESTIVÉSSEMOS BEM LUCAS! — Chloe gritava no meio do corredor durante a troca de aulas, chamando a atenção de alunos e professores que passavam por ali.

Já haviam se passado duas semanas desde a festa de Emma, e tudo parecia estar bem para Lucas. Exceto aquilo que ele mais preservava: seu namoro.

Sabe a sensação de que vocês estão andando em círculos para manter um relacionamento que significava tanto para ambos, mas tudo está chato e você não sabe como o salvar? Ele estava assim.
Amava Chloe e não tinha dúvidas disso, apenas estava confuso se devia continuar em algo que ele não via mais futuro.

— Você não me ama mais? — Falou com lágrimas nos olhos, fazendo Lucas se sentir péssimo por deixá-la pensar coisas desse tipo.

— É claro que eu amo você Chloe! Eu só estou um pouco confuso, mas tudo voltará a ser como antes! — Limpou as lágrimas que escorriam dos olhos dela, e sorriu fraco. — Eu nunca vou deixar de te amar, entenda.

Ele queria ser sincero, não só com a namorada, mas consigo mesmo, porém dessa vez suas palavras não trouxeram a segurança que ele esperava.

De longe havia um Eliott que apenas olhava todo o drama. Ele não estava feliz em ver Lucas daquele jeito, gostava de ver o rapaz sorrindo e alegre por ai. Vendo toda a cena, um único pensamento rodeada sua cabeça: se a pessoa que você diz amar, não te traz mais os mesmos sentimentos que antes, não acende aquele fogo em seu interior e não te deixa ansioso toda vez que olha para seu rosto, você realmente a ama ou seu relacionamento caiu em comodismo?

[...]

Naquela tarde após o intervalo, Lucas não queria voltar para as aulas, já havia entregado tudo que precisava e agora eram apenas leituras e atividades chatas, ele não precisava disso. Faltava poucos minutos para soar o sinal e ele estava andando sozinho pelo pátio, enquanto sua namorada que estava bastante chateada almoçava com suas amigas e e seus amigos estavam longe o suficiente falando sobre coisas que provavelmente o deixaria irritado.

— Lucas? — Se preparou para xingar o indivíduo que atrapalhava seu momento de sossego, mas ao virar viu o rosto preocupado de Eliott. — Você está bem?

— Já percebeu que você está sempre perguntando se eu estou bem? — Sorriu e olhou para o mais alto, que revirou os olhos.

— Desculpe por me preocupar. — Girou os tornozelos se preparando para voltar a sua mesa, mas foi puxado antes.

— Eu estou em um dia ruim...Não quis soar arrogante. — Olhou para Eliott com um pequeno e tímido sorriso, fazendo o mesmo sorrir junto.

— Eu não tenho mais aulas importantes...

—Se eu quero ir embora? Não me pergunte duas vezes. — O puxou pela alça da mochila e foi andando até a parte de trás da escola, onde tinha um muro com buracos feito pelos alunos para fazer exatamente o que eles faziam, fugir de aulas chatas.

Caminharam para longe dali, longe de buzinas de carros, pessoas falando ou qualquer barulho vindo da cidade. Caminharam e conversaram sobre diversas coisas, riram, faziam piadas sobre as coisas que o outro contava, se distraiam em meio de suas infinitas conversas que nem ao menos notaram que um dava ao outro a sensação de que naquele momento ele poderia fazer e dizer o que quiser pois sabia que não seria julgado.

Pararam de andar quando chegaram em um parque, estava um pouco vazio e haviam apenas algumas crianças brincando com seus animaizinhos, alguns casais andando de mãos dadas, na verdade, da faixa etária de Lucas e Eliott haviam apenas os dois, levando em conta que os outros deveriam estar estudando em suas salas de aula.

— Você não parecia muito bem hoje, antes sabe? — Eliott falou se sentado na frente de Lucas, que se encostava em uma árvore.

— Essas discussões com Chloe estão me matando. Eu a amo, mas ela insiste que eu devo viver para ela, e eu achei nós tivéssemos passado dessa fase. Até semana passada estava tudo bem. — Colocou sua mochila em seu colo e apoiou seus braços na mesma. — Nós vamos fazer dois anos juntos, mas eu acho que já não é como antes.

— Já pensou em sei lá, terminar? — Perguntou como se fosse óbvio e passou a mão por seu cabelo.

— Eu não posso. Ela é tudo pra mim, tem estado comigo até quando eu quero sumir. Não sei o que faria sem ela. —

— Então você está com ela porque a ama, e sim por que ela te da apoio? Eu não entendi. — E novamente o pensamento sobre um relacionamento confuso rodeada a cabeça de Eliott.

— É claro que não! Eu a amo, mas não como antes, só que tudo tem sido uma bagunça na minha vida, e eu acabei deixando isso afetar meu namoro. —

— Por acaso já passou pela sua cabeça que você está com ela, pois quem te ajuda a enfrentar seus problemas, está sempre te apoiando é ela e você não vive sem isso porque é ela quem te guia? Tipo, você não sabe o que fazer então corre para Chloe pois ela vai iluminar seu caminho. — Falou olhando diretamente no fundo dos olhos de Lucas, que pensou por alguns minutos e deu de ombros.

— Você não sabe muito sobre isso para quem nunca esteve em um relacionamento? — O olhou rindo e como resposta recebeu um dedo do meio de Eliott. 

— Eu leio livros, assisto filmes e séries, e também tive amigos que namoravam. Não é porquê eu nunca estive com alguém que sou burro quanto a isso. — Piscou para o amigo que até então sorria, mas logo ficou tímido.

Passaram as próximas horas ali jogando assunto fora, descobrindo mais sobre o outro, em alguns momentos ficavam como crianças tentando dar formas de coisas para as nuvens, em outros apenas um falava e outro escutava com atenção para dar sua opinião, e vice versa. De tudo fora falado ali, de livros a matérias favoritas, de namoros a tipo de massa que mais gostavam.

Com seu jeito de ver as coisas, Eliott via uma amizade nascendo. Para ele, Lucas era alguém especial e diferente de qualquer outro amigo que ele já teve em vida. Ele parecia o compreender de forma que nenhuma outra pessoa fazia, eram diferentes em muitas coisas, mas muito parecidos em várias outras. E tais coisas chamaram atenção dele.

— Temos que ir embora. Droga. — Lucas olhou no visor de seu telefone e notou que logo daria o sinal, eles precisariam correr se quisessem encontrar os amigos no portão.

— Eu me recuso a sair daqui. — Se sentou em posição de índio e cruzou os braços sob o peitoral, como se estivesse em um protesto.

— Eliott você acabou de chegar na escola e já está matando aula, você nem deveria estar aqui para começo de conversa. — Estendeu a mão para que o mais alto pudesse a segurar para dar apoio na hora de levantar e assim o fez.

— Você é uma má influência para mim Lallemant. — Colocou sua mochila nas costas e saiu com o nariz empinado, sem olhar para trás.

— Mas foi você que quis ir embora! — Lucas o seguiu rindo.

— Eu só falei que não tinha aulas importantes, ia sugerir de nós ficarmos na biblioteca, você que saiu me puxando pelo pátio. — O olhou rindo e a resposta de Lucas foi um leve soco em ombro. 

O caminho de volta para a escola foi em completo silêncio entre os dois, o único som era o barulho da cidade, e isso não os incomodava. O momento era bom e ambos gostavam da idéia de apenas ter o outro ali, mesmo que sem falar nada.

— Você já encontrou alguém que tenha chamado sua antenção? — Lucas perguntou enquanto viravam a esquina da escola, e sentou o olhar do mais alto em si.

— Tipo, gostar de alguém? —

— Sim. —

— Eu encontrei uma pessoa, mas ainda acho muito cedo para dizer se já gosto ou não. — Deu de ombros olhando para o menor.

— Eu conheço a garota? —

— Bom...Precisa ser uma garota? — Parou na frente do portão e no momento que iria ser respondido, Beatrice correu gritando em sua direção. — Meu pai amado Bea!

— Aonde você estava? Os meninos falaram que você sumiu após o intervalo. — Chloe disse se aproximando de Louis, para a surpresa de Lucas que até então não sabia que eles se conheciam.

— E você? Também não estava na aula de química, e perdeu uma atividade de inglês que valia ponto extra. — Louis disse encarando os dois rapazes a sua frente, e notando a tensão ali. — Eliott?

— Nós estávamos na biblioteca. Lucas não se sentia muito bem, e eu fui fazer companhia pra ele. — Falou tentando não encarar as pessoas a sua frente que já o olhavam, então focou seu olhar em Lucas, que parecia estar na mesma situação que ele.

— Desculpe querido, mas se ele estava passando mal você deveria ir até a enfermaria, e não a biblioteca. —

— Ele— Lucas o interrompeu antes que ele se perdesse em suas próprias mentiras.

— Eu precisava desabafar, não estava me sentindo bem por isso. Não quis preocupar você nem os meninos, então procurei por Eliott. — Sorriu para Chloe e beijou sua testa.

Enquanto um cobria a mentira do outro, Louise e Beatrice encaravam Eliott como se soubessem exatamente o que passava em sua cabeça, e que toda aquela história era mentira. Já Arthur e Yann chegaram apenas momentos depois, ficando perdidos com a situação.

— Vamos Demaury, tenho que te passar a matéria que você perdeu enquanto estava na... — Louis parou sua fala para poder se virar e encarar Lucas. — Biblioteca.

Acompanhados de seus devidos grupos de amigos, cada um seguiu seu caminho enquanto ouviam milhares de perguntas sendo feitas, e os mesmos os ignoravam já que tentavam entender o que começava a nascer no meio daquela amizade repentina. 


my soulmate. • elu (em edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora