Capítulo III - Parceiros

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Data:
6 DE NOVEMBRO DE 2038
Horário:
11:40

- Morreram?! Os dois?! Quem fez isso?!

- Jade, tenta se acalmar...


- Foi o android.

- Gavin! Você sabe que não foi nada disso!

- Qual é, Kammilly! Quem mais faria isso?! O filho dele?!

- O Leo é problemático! Sabe disso mais do que ninguém!

Connor observava tudo de longe. Havia acabado de chegar no Departamento, se mostrando confuso com toda aquela gritaria abafada que vinha da sala de reuniões e, como o Tenente ainda não estava presente, decidiu investigar.

- Jade, o Carl teve um ataque cardíaco. Você já sabia que a saúde dele estava frágil e as emoções desta noite podem ter desencadeado isso tudo - a loira explicava calmamente - Pelo que sabemos o Leo e o android tiveram uma discussão. Parece que discutiram por causa das pinturas, não ficou muito claro.

- Mas que droga...

As mãos trêmulas de Jade cobriam seu próprio rosto, tentava esconder todas aquelas lágrimas que continuavam a escorrer sem trégua. Se lembrava do exato momento em que prometeu acompanhar seu falecido amigo até a exposição, outra promessa que não teve a capacidade de cumprir. Era isso o que ela mesma pensava.

- Sinto muito...

A Aspen colocou a mão no ombro de sua amiga, acariciando o local suavemente. Odiava vê-la daquela forma e mesmo não querendo se viu na obrigação de dar aquela notícia pessoalmente, afinal queria acalmá-la e tranquilizá-la como sempre fazia.

- Vamos tomar um pouco de água e lavar esse rostinho, o Capitão quer conversar com você - ela ajudou a menor se levantar com todo o cuidado - E não se preocupe, o velório dele vai ser nesta noite e vai estar liberada para participar.

Connor permaneceu do lado de fora em silêncio, aquele realmente não era o momento ideal para interferir na conversa. Sentiu algo estranho com aquela cena, porém tentou ao máximo ignorar e voltar para a mesa de Hank, porém ao invés disso acabou por se aproximar de uma outra que ficava logo ao lado.

Haviam dois porta-retratos coloridos, brilhantes e muito bem decorados com desenhos. Foram pintados a mão pela mesma criança dos desenhos na parede do apartamento de Jade e nelas haviam fotos de quatro pessoas.

PORTA-RETRATO 1

Jason Collins: Falecido
Idade: 4 anos
Nascimento: 25/05/2029
Óbito: 25/05/2033
Causa da morte: Traumatismo craniano; acidente de carro
Antigo Domicílio: Michigan Drive, 105. Detroit

Joshua Collins: Falecido
Idade: 26 anos
Nascimento: 01/01/2007
Óbito: 25/05/2033
Causa da morte: Traumatismo craniano; acidente de carro
Antigo Domicílio: Michigan Drive, 105. Detroit

PORTA-RETRATO 2

Andrew Collins: Falecido
Idade: 47 anos
Nascimento: 05/10/1995
Óbito: 12/12/2030
Causa da morte: Pulmão perfurado; tiro
Antigo Domicílio: Michigan Drive, 105. Detroit

Rachel Collins: Falecida
Idade: 27 anos
Nascimento: 01/12/1994
Óbito: 22/07/2012
Causa da morte: Hemorragia pós-parto
Antigo Domicílio: Michigan Drive, 105. Detroit

O android continuou a observar atentamente todas as informações coletadas, voltando para "o mundo real" ao notar a detetive retornar sozinha para sua mesa.

- Esperando o Hank, Connor? - Ela perguntou com um sorriso suave. Mesmo tentando disfarçar seus olhos vermelhos e sua expressão facial a deduravam.

- Um dos policiais disse que o tenente costuma chegar tarde - foi rápido em responder.

- Vão ter dias que é a gente que vai precisar ir atrás dele - avisou com uma breve risada - Fica a vontade pra ficar com a mesa que fica de frente com a dele. Eu tinha escolhido ficar distante porque ele gosta de privacidade. Isso foi no começo da minha carreira quando ele me odiava.

- Por qual motivo ele te odiava?

- Por eu ser muito nova e não ter tanta experiência, mas logo começamos a nos dar bem.

- Hank e Jade, na minha sala agora!

A dupla voltou a atenção para Capitão Fowler, encontrando o Tenente, que havia acabo de chegar. Então sem perderem tempo seguiram o mais velho até a sala de vidro.

- Eu recebo dez novos casos envolvendo androids todos os dias - explicava Fowler impaciente - Sempre tivemos incidentes isolados, senhorinhas perdendo seus modelos do lar e coisas desse tipo... Mas agora, temos relatos de agressão e até homicídio, como aquele cara ontem à noite. Isso não é só um problema da CyberLife. Agora, é uma investigação criminal e a gente precisa dar um jeito nisso antes que piore de vez. Quero que investiguem esses casos pra ver se estão relacionados.

- Por que eu? - Perguntou Hank - Por que sobrou pra mim essa merda de caso? Eu sou o policial menos qualificado do país pra lidar com ele. Não sei nada sobre androids Jeffrey! Eu mal sei trocar as configurações do meu telefone.

- Estamos sobrecarregados. Assim como as de Jade, as suas qualificações estão ótimas para esse tipo de investigação e só estou mantendo ela na equipe por conta dos divergentes. Quanto mais gente trabalhando nesse caso mais rápido vamos resolver.

- Mentira! - Ele se levantou, já perdendo o único pingo de paciência que possuía - A verdade é que ninguém quer investigar esses androids e eu é que tenho que pagar o pato!

- A CyberLife mandou esse android para ajudar na investigação. É um protótipo de última geração. Será o parceiro de vocês no caso.

- Nem fodendo! Não quero outro parceiro e muito menos esse cuzão de plástico!

- Hank - Fowler aumentou seu tom de voz -, você tá começando a me irritar de verdade! Você é um tenente da polícia, tem que fazer o que eu mando e calar essa tua boca grande!

- Sabe o que minha boca grande tem a dizer, né?!

- Tá, tá... - ele respirou profundamente - Vou fingir que não ouvi isso para não ter que perder meu tempo escrevendo no seu relatório disciplinar, porque já tá parecendo a porra de um livro! Essa conversa acaba aqui!

- Jeffrey, qual é! Por que faz isso comigo? Você sabe o quanto eu odeio essas porras. Por que tá fazendo isso?

- Olha, já estou de saco cheio de você reclamar. Ou faz o seu trabalho ou entrega o distintivo. Agora, se me der licença, eu tenho trabalho a fazer!

Sem dizer mais nada Hank saiu do escritório, batendo a porta com toda a sua raiva.

- Fica de olho nele, Jade - ordenou o Capitão - Tô contando com você pra fazer essa investigação andar.

- Com licença, Capitão - pediu antes de se retirar, sendo seguida pelo android até a mesa do Anderson - Hank, vou falar com a Kammilly e ver se ela tem alguma informação atualizada dos casos disponíveis. Vê se esfria a cabeça.

- Vai me deixar mesmo sozinho com esse robô?

- Conversa com ele, não custa nada.

- Custa o meu tempo e a minha saúde mental!

- Qual saúde mental? - Perguntou se mostrando confusa, apenas para irritá-lo ainda mais.

- Vai se foder!

Um sorriso vitorioso se formou nos lábios da mulher, que deixou o local. Aquilo sim seria uma baita aventura em sua visão.

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