Capítulos VIII - Sentimentos

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Data:
7 DE NOVEMBRO DE 2038
Horário:
22:10

A chuva se mostrava intensa naquela noite e, assim como a temperatura, despencou de uma só vez. Jade não parecia tão incomodada, tendo seu corpo confortavelmente aconchegado no sofá e enrolado nos cobertores em busca de mais calor.

Os olhos castanhos da jovem repousavam na televisão à frente, encarando, fixamente, o canal de notícias. Não fez questão de prestar atenção no que era dito, sua mente muito ocupada com as viagens que fazia através das lembranças. Ver Hank à beira da morte a fez se encolher, o coração disparar e a respiração falhar. Só então se lembrou do motivo de estar com a televisão ligada, uma tentativa falha de se distrair.

Pegou o controle largado ali ao lado e começou a navegar pelos canais em busca de qualquer outra coisa, se assustando no momento em que ouviu a campainha estrondosa tocar. Ao invés de se levantar mutou o aparelho, permanecendo ali em silêncio.

- Detetive Collins? Sou eu, Connor.

Escondeu a cabeça embaixo dos cobertores tão macios e quentes, como se apenas aquilo fosse capaz de fazê-lo ir embora.

A campainha tocou novamente, penetrando no fundo de sua cabeça já dolorida. Desta vez o barulho persistiu mais do que o esperado, obrigando-a deixar seu esconderijo.

- Desculpe incomodá-la a essa hora, detetive. Mas temos um novo caso.

Um sentimento estranho de deja vú a atingiu, lembrando-se rapidamente daquela mesma noite. A noite em que todo aquele caos com os divergentes começou.

- Cadê o Hank? - Ela perguntou com um tom de voz arrastado.

- Eu já sabia que estava aqui, então, para não perdermos muito tempo, decidi vir buscá-la primeiro.

A Collins não respondeu, apenas deu espaço para que o android pudesse entrar, fechando a porta atrás de si.

- Entendo que não está bem depois do que aconteceu mais cedo com o divergente, mas sua participação neste caso é de extrema necessidade e importância.

- Você é um android, Connor. Não precisa de mim pra resolver um caso.

- Minhas instruções estipulam que devo acompanhar você e o Tenente Anderson em todas as investigações.

- As instruções que dizem isso, mas e você? O que você diz sobre isso?

- O que quer dizer com esta pergunta, detetive?

- O que você quer fazer?

- O que eu quero não é importante.

- Quer dizer então que você quer algo?

Conseguiu ver perfeitamente seu LED mudar de cor no mesmo instante, além de notar o android demorar mais do que o normal para responder:

- Não - respondeu com hesitação - Sou uma máquina programada para obedecer.

- Salvou eu e o Hank ao invés de ir atrás do divergente - se aproximou - Contradizeu suas instruções pra salvar os humanos!

- Onde está querendo chegar com isso? - O biocomponente trocou o amarelo pelo vermelho, podendo ser visivelmente visto vestígios do que parecia ser nervosismo e tensão.

- Deixou o divergente fugir! Por que deixou ele fugir?!

- Não podia deixar vocês morrerem! - Respondeu com o tom de voz mais elevado, nem sequer parando para analisar as possíveis respostas que tinha disponíveis.

- Por quê?!

- Eu não sei, ok?! E-eu não sei...

O silêncio voltou a reinar no local, nenhum dos dois ousando olhar para o rosto do outro. O LED de Connor demorou um pouco para mudar de cor, permanecendo no amarelo.

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