meu último dia ruim

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Vocês já ouviram falar em último dia bom? Então, isso é sobre meu último dia ruim.

Na verdade, eu tive dias ruins depois deles, mas eles foram diferentes. E de todos os dias ruins que eu tive antes deles, esse foi o pior.

Na maior parte das minhas crises, sempre tinha alguém comigo. Quando não tinha ninguém era mais difícil de fazer passar e elas se prolongavam até que alguém viesse e percebesse. Eu nunca consegui realmente lidar com uma crise sozinha.

Quando eu comecei com os remédios, eles ajudaram. Principalmente os remédios para dormir. Quando uma crise vinha e eu tava sozinha, eu tomava um deles e em pouco tempo eu tava dormindo. Quando eu acordava, eu ainda sentia as consequências das crises, mas aí já tinha alguém por perto pra me ajudar.

No meu último dia ruim tinha muita gente por perto. Infelizmente eram pessoas que nem sabiam como me ajudar (tinha até uma gatinha, que eu acabei "adotando" depois disso).

Essa foi a minha última crise, todos os dias ruins que vieram depois dela eram mais fáceis de passar. Ela começou devagar, várias horas antes. O efeito do antidepressivo e as pessoas envolta ajudavam a disfarçar. Foi a minha primeira crise depois que os remédios começaram a fazer efeito e eu literalmente conseguia sentir eles agindo, tentando evita-la.

Funcionou por um tempo, mas ela veio do mesmo jeito. Horas depois, quando eu já não conseguia fazer minhas mãos pararem de tremer e os meus olhos já não ficavam secos. Foi nessa hora que o gatinho entrou em cena e teria funcionado se não fossem aquelas mensagens.

A crise veio forte e de uma única vez. Eu nem senti aquela coceira no nariz que vem antes de começar a chorar, também não esperou pelas lágrimas. De repente, eu não conseguia parar de chorar, gritar e me contorcer.

Eu fui pro meu lugar seguro, o lugar onde eu passei a maior parte das minhas crises. O chão e a parede fria ajudavam, mas não foram o suficiente. Eu pedi pra ficar sozinha, mas eles não foram embora também.

Eu já não consigo ter certeza do que eu pensava naqueles longos minutos em que eu fiquei sentada no chão do banheiro (eu nem preciso dizer que não eram bons pensamentos), mas eventualmente eu fui pra cama. Não pareceu uma boa ideia no começo, já que a crise só parecia piorar.

Eu não conseguia mais parar de chorar e eu me sentia tão fraca que nem barulho eu não fazia mais. Eu já tinha tomado o remédio para dormir, mas ele simplesmente não fazia efeito. E então, em algum momento no meio disso tudo, meu primo me abraçou e eu simplesmente apaguei.

Quando eu acordei, era outro dia. Minha cabeça doía muito e meus olhos estavam tão inchados que eu mal conseguia enxergar. Eu não conseguia comer, então tomei outra pílula para dormir com o estômago vazio mesmo.

No fundo, eu sabia que não deveria ter feito isso, mas funcionou então eu não liguei.

Quando eu acordei outra vez, o dia já estava quase no fim e eu estava tão esgotada que não demorou para eu conseguir dormir novamente. Sem remédios dessa vez.

No terceiro dia, eu finalmente conseguia sentir que a crise tinha terminado. Eu consegui sair da cama sem ter que lutar contra o meu corpo isso. Mas eu ainda estava com muita raiva e ela demorou alguns dias para passar.

Só que eventualmente, ela passou. E aí eu consegui perceber quão bem eu estava.

Durante a crise, me lembro de ter pensado que tinha regredido todo o trabalho feito em meses de terapia. Mas não, a crise simplesmente me fez perceber que a terapia, os remédios e todo o resto (seja lá o que esse resto for) tinham funcionado.

Eu me sentia bem. Realmente bem. E mesmo que dias ruins tenham vindo depois desses, eu não tive mais nenhuma crise.

Demorou, incrivelmente menos do que eu achei que demoraria. Ainda assim, doeu muito. Mas eles estavam certos de qualquer forma.

No fim, acabou passando.

dói, mas passaOnde histórias criam vida. Descubra agora