Capítulo 2

184 24 0
                                    

Numa cidade pequena, não só as paredes, mas até as ruas e o vento têm ouvidos. A notícia de que eu ia freqüentar o ginásio se espalhou rapidamente. Antes mesmo da matrícula, todos comentavam a novidade. Os bairros da cidade eram claramente separados, como as camadas sociais. E o fato do filho da costureira do bairro mais pobre subir para o quarteirão calçado e ajardinado foi considerado ofensivo. Nas conversas de porta de cinema ou na confeitaria, Oswaldo Matos, o coletor, chegou a comentar em voz alta, para que todos ouvissem:

   - Isso é um absurdo! É o que dá o ensino ser público! Nossos filhos vão ter que sentar no mesmo banco do filho da mulher mais pobre daqui! Precisamos convencer o padre a fundar um ginásio particular, para evitar essa promiscuidade! Odeio esse tipo de mistura!

A "mistura" não era tão mistura assim, nem o ginásio tão democrático. Soube disso no dia da matrícula. Havia taxas a serem pagas por certas regalias. Tive que renunciar a todas. A principal, foi relativa à carteira individual. Seria colocado um banco, no fundo da sala, para todos os que não pudessem pagar pela carteira.
Fui depois à loja do Seu Gomes. Se ele não me desse o emprego, adeus ginásio! O velho me olhou por cima do óculos, quando entrei.

   - Chegou em boa hora. O rádio da Dona Olga está pronto. Você pode entregar?

   - Agora mesmo. Na volta preciso falar com o senhor.

Entreguei a encomenda o mais rápido que minhas pernas puderam. O velho Gomes ficou surpreso com a minha eficiência.

   - Já de volta?
  
   - Era perto. E não gosto de perder tempo.

   - Você é um menino esperto.

   - Seu Gomes, eu gostaria de trabalhar com o senhor. Tenho jeito para aprender as coisas. E preciso de um ordenado fixo para pagar os meus estudos.

   - Ouvi dizer que você matriculou-se no ginásio. Admiro a sua coragem. Estou mesmo precisando de um ajudante, não só para fazer as entregas, como aqui na loja também. Pode começar amanhã. Depois de uma semana, combinaremos o ordenado. Primeiro quero ver se é capaz de me ajudar no conserto dos rádios.

Saí correndo, o coração aos pulos. Tinha conseguido a garantia do que precisava para continuar os estudos. Fui direto para casa, contei tudo a mamãe. Depois, desci a ribanceira do rio, deitei no capim macio da margem e fiquei sonhando com os teus olhos verdes.

 
  * Espero que gostem❤️.
  * Se gostarem favoritem e comentem ❤️.
               
  *Bjs bjs nenéns❤️

~❤️𝑈𝑚𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒 𝐴𝑚𝑜𝑟❤️~ Adaptação Sprousehart ❤️ Onde histórias criam vida. Descubra agora