Capítulo 13

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   Maratona - cap. 1/6

Vila Reinhart ainda dormia quando atravessei suas ruas, rumo à estação. Parei um momento, em frente ao palacete do teu pai. Súbito, tive consciência de que realmente um mundo novo começava. Eu, o menino pobre e órfão, tinha forçado uma abertura. Era por minha causa que o imenso casarão havia cerrado as portas. A família mais rica e influente do lugar fugira para não enfrentar o rapazinho da beira do rio. Eu era forte. Senti isso naquele instante.
Peguei a minha maleta e andei para a estação. O trem apitou e partiu. Vila Reinhart foi ficando para trás e, logo, desapareceu, engolida pelas curvas dos morros.
São Paulo. A estação, gente, vozes, sons. Fiquei atordoado.
Meu terno de formatura me pareceu desajeitado. Me senti um caipira a mais na grande cidade. A verdade é que ninguém reparava em mim.
A tarde estava quente, em breve, escureceria. Um pouco de pânico quando deixei a estação e enfrentei o movimento das ruas. As luzes se acenderam. Eu não sabia para onde ir. Letreiros anunciavam hotéis e pensões " familiares". Eu me dei conta do quanto era só e inexperiente. Tive medo da cidade imensa e desconhecida. Meus propósitos - tão firmes e adultos na minha cidadezinha - pareciam agora tolos e ridículos.
Parei, na frente da estação, pensando no que fazer.

   - Precisa de carregador?

Um velhinho simpático sorria pra mim. Tinha um rosto Franco, aberto.

   - Não, senhor. Preciso é de uma informação. O senhor conhece alguma pensão barata onde eu possa alugar um quarto?

Ele me olhou, em silêncio. Depois:

   - De onde você é?

   - De Vila Reinhart.

Ele franziu a testa.

   - Nunca ouvi falar.

   - É uma cidade pequena e sem importância.

   - Por que não se hospeda com algum amigo?

   - Não conheço ninguém.

   - Parentes?

   - Não tenho ninguém. Minha mãe morreu.

Ele coçou a cabeça.

   - Acho que posso ajudá-lo. Perto daqui tem uma viúva que aluga quartos para estudantes. Ela não aceita qualquer um. Pede referências. Mas você tem uma cara tão inocente que talvez a convença. Vamos até lá.

Fomos andando pelas ruas apinhadas. As pessoas caminhavam apressadas, sem olhar para os lados, fisionomias cansadas e tensas, vincos na testa e nos cantos da boca.
Meu guia contava a sua vida, viera do Nordeste, quarenta anos atrás, também perseguindo seus sonhos.

   - Cheguei de pau-de-arara. Tinha 20 anos e muita fome no lombo. São Paulo era a terra da promissão. Tive um primo que veio e voltou rico. Isso me decidiu. O máximo que consegui foi ser motorista da Prefeitura. Vivi modestamente. Me aposentei e hoje carrego malas, para melhorar o feijão com arroz. Chegamos. É no segundo andar.
O edifício era cinzento e triste. Subimos a espreita escada de cimento. Ele tocou a campainha. Uma senhora miudinha, de óculos e cabelos grisalhos presos num coque, olhou pela portinhola. Só depois é que abriu a porta.

   - Como vai, Seu João? Trouxe a roupa mais cedo esta semana?

   - Não, senhora. Trouxe pensionista para a senhora.

Ela me examinou detidamente.

   - De onde ele vem? - perguntou.

   - De Vila Reinhart.

   - Tem carta de recomendação?

Antes que eu abrisse a boca, Seu João respondeu:

   - Não, senhora. Mas ele é filho de uma prima da minha mulher. Só não vai lá para casa porque não temos lugar.

Ela pensou uns momentos.

   - Bem, se é um parente de Dona Joana, o caso muda de figura. Tenho uma cama vaga, num quarto com mais dois rapazes. O primeiro pagamento é adiantado.

   - Está bem.

E estava mesmo. O que eu mais desejava era tomar um banho e dormir. A viagem tinha me deixado exausto. Levei Seu João até a porta. Agradeci a ajuda e quis dar-lhe uma gorjeta. Ele recusou.

   - Guarde o dinheiro, rapaz. Vai precisar dele. Vejo você daqui a dois dias, quando trouxer a roupa para Dona Maria. Boa sorte. E tenha cuidado.

   - Obrigado por tudo. O senhor foi muito bacana.

Subi. Dona Maria tinha arrumado minha cama.

   - Você está com cara de fome e sono. Jantamos às 7 e meia. Mas vou lhe preparar um lanche enquanto toma banho.

Sorri, agradecido.

   - A senhora adivinhou.

   - Seus companheiros de quarto ainda não chegaram do trabalho. Pedirei que não façam barulho.

Meu cansaço me salvou das explicações quanto ao parentesco com a tal de Dona Joana. E foi bom. Sempre fui um desastre na hora de mentir. Tomei um café com leite reforçado, me joguei na cama, e não vi mais nada até a manhã seguinte.

* E que comece a maratona ❤️🤭
* Espero que gostem❤️.
* Se gostarem favoritem e comentem ❤️.
               
  *Bjs bjs ❤️

~❤️𝑈𝑚𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒 𝐴𝑚𝑜𝑟❤️~ Adaptação Sprousehart ❤️ Onde histórias criam vida. Descubra agora