Capítulo 14

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Maratona - cap. 2/6

Acordei cedo com o movimento dos dois rapazes no quarto. Assim que me viram desperto, foram se sentando.

   - Eu sou Antônio, gaúcho, arribado há dois anos da capital. O outro é Carlos, mineiro caladão, mas boa-praça.

   - Meu nome é Cole. Cheguei ontem do interior.

   - Veio estudar ou trabalhar?

   - As duas coisas. Só não sei por onde começar...

   - Que é que você sabe fazer? - perguntou Carlos.

   - Conserto aparelhos elétricos. Estudei tudo o que pude sobre o assunto.

   - Comece comprando jornal. E apronte as pernas! - falou Antônio - A gente se vê de noite. Nós dois trabalhamos num banco. Estamos criando coragem para fazer um curso, à noite.

Eles se foram. Segui o conselho de Antônio. Comprei um jornal, recortei os anúncios que me pareceram possíveis, tomei informações de rua e itinerários e sai.
Foi uma semana dura. A resposta era sempre a mesma: não. As razões variavam: eu era muito jovem, não tinha carta de recomendação, o serviço era de muita responsabilidade. Começava a desesperar. Minhas economias davam para dois meses de pensão. E o começo das aulas estava próximo. Se não conseguisse trabalho, teria de desistir dos estudos.
Os rapazes me animavam. Antônio era brincalhão e extrovertido. Carlos, quieto e acomodado. Era a primeira vez que eu tinha amigos, gente para quem eu era Cole.
A segunda semana passou. Nada de emprego. Uma tarde, eu vinha voltando cansado, de mais uma tentativa. Peguei o ônibus errado. Quando percebi que ia em direção contrária, puxei a campainha. Desci numa zona totalmente desconhecida. Nas ruas estreitas, alinhavam-se diversas lojas. Procurei o ponto de ônibus que me levasse para o centro. Então vi a placa - " Consertam-se rádios e aparelhos elétricos. Foi como reencontrar um rosto amigo.
A loja era pequena e apertada. Um garoto me atendeu de má vontade

   - Quero falar com o dono.

   - Ele está lá dentro. É cobrança?

   - Não. Quero falar com ele.

   - Passe por trás do balcão. O velho está furioso.

A oficina não era muito maior que a loja. Não havia janelas e a iluminação vinha de uma única lâmpada, colocada no centro da peça. O homem, inclinado sobre um rádio desmontado, resmungava sozinho. Alguma coisa me lembrou o velho Gomes. E isso me fez sentir em casa. Ele levantou a cabeça quando entrei.

   - Se é conta para pagar, pode ir dando o fora. Só faço pagamento às segundas-feiras.

   - Estou procurando trabalho. Entendo bastante de eletricidade.

   - Entrou no lugar errado. Todo mundo acha que sabe endireitar essas drogas elétricas. Como se fosse fácil! Não preciso de ajudante para ter que ensinar o que é uma válvula e para o que serve!

   - Tenho prática. Estudei muito. Consertei os sinais da Estrada de Ferro e...

   - Chega de conversa! Se sabe mesmo consertar um rádio, comece por esse aqui. Faz dois dias que trabalho nele e está cada vez pior.

   - Deixe ver.

O defeito era simples. Deu mais trabalho remontar o que o velho havia desmontado, que consertá-lo. Ele me observava, por cima do ombro. Quando terminei:

   - Está pronto?

   - Agora é só ligar.

   - Experimente.

O homem ligou o aparelho e sintonizou numa estação. O som de um chorinho invadiu a loja. Ele tirou os óculos:

   - Abro a loja às 8. Amanhã esteja na porta 15 minutos antes. Depois combinamos o seu ordenado. Como é seu nome?

   - Cole Sprouse.

Eu tinha um emprego. O resto viria com o tempo.
Cheguei tarde na pensão. Dona Maria fechou a cara.

   - O jantar é às 7 e meia, Seu Cole!

   - Desculpe o atraso. Tive que fazer teste numa loja de eletricidade. Consegui trabalho.

O rosto dela desanuviou.

   - Que bom! Tome seu banho, enquanto esquento a janta.

Os meus companheiros ficaram felizes com a novidade. Eram bons amigos. Antônio foi logo dizendo:

   - Precisamos comemorar. Que tal um cinema e depois um chope?

Enquanto bebíamos, num barzinho da Av. São João, a conversa girava em torno dos meus planos.

   - E você pretende entrar na faculdade? - perguntou Carlos.

   - Primeiro preciso me firmar no emprego, o suficiente para trabalhar à tarde e à noite, deixando a manhã livre para estudar.

   - E você vai agüentar o rojão?

   - Estou acostumado.

   - Você parece que sofre de alguma coisa recolhida.

Olhei a espuma do copo.
Contei-lhes minha história. Ouviram calmamente. Quando terminei, Carlos comentou:

   - Você tem que se apressar, companheiro. A paciência das mulheres é curta.

   - Ela esperará por mim - respondi. - E agora vamos dormir. Amanhã tenho que chegar cedo no emprego.

Seu Tomás tinha um gênio miserável. Tive ocasião de verificar isso na primeira semana. Ele despediu o garoto que cuidava do balcão, aos gritos, porque não varrera direito a loja. Por mais que eu me esforçasse, tinha sempre um reclamação na ponta da língua. Fora disso, era um homem decente e honesto. Descobri, com o tempo, que vivia só. Esse fato me levou a ter mais paciência com ele.
No trabalho, tinha um defeito grave: era muito desorganizado. A oficina vivia de pernas para o ar e se perdia muito tempo procurando as ferramentas que ele nunca sabia onde havia guardado. Decidi fazer-lhe uma proposta.

   - Seu Tomás, eu gostaria de trabalhar este final de semana.

Ele me olhou surpreso:

   - Por quê? Não temos tanto serviço assim.

   - Eu queria pôr em ordem a oficina. E se o senhor permitisse, pintar as paredes de branco. Fica mais claro para a gente trabalhar.

Ele coçou o alto da cabeça, sinal de que estava pensando. Demorou um pouco para responder:

   - Está bem. Você entende do riscado. Mas não pense que vou lhe pagar mais por isso. Para mim, não vejo necessidade de tanta ordem.

Mas na segunda-feira, quando deu com a sala pintada de branco, o material limpo e arrumado nas prateleiras, seu rosto se abriu. Bateu no meu ombro e falou:

   - Gosto de você, rapaz. Tem cabeça e não tem preguiça. Isto aqui mudou de cara! Esta segunda-feira começou bem, apesar de ser dia de pagar contas.

E não parei aí. Convenci-o a pintar e reformar a frente da loja, fazer uma vitrine, encomendar novo letreiro, e ter um pequeno estoque de aparelhos elétricos e lustres. O negócio cresceu, os lucros subiram, meu ordenado dobrou e antes do fim do segundo ano eu era sócio na loja.
Continuei morando na pensão de Dona Maria e dividindo o quarto com Carlos e Antônio. Perdi minha timidez. Aprendi a rir, a brincar com as pessoas. Freqüentava cinemas, teatro, lia tudo o que podia. Apesar do horário apertado, dei jeito de fazer um curso regular de inglês. Vila Reinhart se estimava na minha memória. A tua lembrança, porém, permanecia viva, a me empurrar para a frente.

* Sorry por atualizar só agora, mas é que todos temos problemas, né?!
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  *Bjs bjs ❤️

~❤️𝑈𝑚𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒 𝐴𝑚𝑜𝑟❤️~ Adaptação Sprousehart ❤️ Onde histórias criam vida. Descubra agora