Capítulo 6

148 22 3
                                    

Não se falou de outra coisa em toda cidade, durante uma semana. Teus quinze anos te fizeram mais bela. Era como se, de repente, tomasses consciência de que eras mulher. Os rapazes sentiram a mudança. Começaram a te cercar. E havia ameaças e olhares quando vinhas até a minha recém-conquistada carteira pedir auxílio para os teus deveres de matemática. Ficávamos muito próximos, resolvendo problemas. Eu sentia o teu cheiro e me perdoa no teu verde olhar. Não sei como acertava os cálculos.
Um dia, deste comigo embatucado com uma versão para o inglês.

   - Alguma dificuldade?

   - Estou apanhando para fazer o trabalho que o professor pediu.

Teu rosto se iluminou. O sorriso clareou seus olhos.

   - Eu posso quebrar o teu galho!

E me ajudaste, feliz por poder fazê-lo. Eras boa aluna na matéria, tinhas professor particular. Dali em diante, virou ritual fazermos juntos os deveres de inglês. E mesmo quando superei as dificuldades e fui capaz de seguir sozinho, continuei fingindo que não sabia nada para merecer o teu auxílio.
Teu primo Jorge continuava a me perseguir. Apesar dos três anos de convivência diária, eu continuava segregado, excluído da turma. Minha presença era tolerada de má vontade. Diariamente, encontrava bilhetes debaixo da carteira. Até uma gilete colocaram na minha cadeira. Não me cortei por sorte. Acho que foi o instinto que me fez olhar a cadeira, àquela manhã, antes de sentar. A revolta cresceu dentro de mim. Eu vinha suportando, em silêncio, toda espécie de humilhação. Chegara ao limite. Permaneci de pé, mesmo quando o professor mandou sentar. Ele me olhou, com estranheza, quase que com raiva.

   - Cole, por que ainda está de pé?

   - Não posso sentar, professor.

Ele franziu a testa.

   - E o que o impede?

   - Gostaria que o senhor mesmo verificasse.

Ele se irritou com a minha ousadia.

   - Afinal, por que você está querendo armar confusão?

   - Será fácil o senhor ver, se vier até aqui.

Ele ficou furioso, tomando minha obstinação por desrespeito.

   - Sente, imediatamente, ou se retire da sala. Vou comunicar ao diretor sua insubordinação.

   - Mas comunique também que colocaram uma gilete na minha cadeira e, por isso, recusei sentar.

   - O que você está dizendo?

   - A verdade. Por isso insisti para que o senhor mesmo visse. A lâmina ainda está aqui.

Ele veio até o meu lugar. Depois voltou para o seu estrado, sacudindo pesadamente a cabeça. Ficou de pé, na frente da mesa, com os braços cruzados, enquanto eu retirava a gilete e me sentava. O silêncio era pesado. Então ele falou:

   - Desta vez vocês se excederam. Percebi que hostilizaram este rapaz, desde o 1° ano, por motivos que não vou discutir. Mas para tudo há limites. Não tolerarei abusos aqui dentro. Espero que o culpado se apresente até o fim das aulas. Do contrário, toda a turma pagará por ele.

O ambiente permaneceu tenso durante a manhã. Os alunos se entreolhavam, cabreiros. As aulas terminaram sem que ninguém se manifestasse. Quando bateu o último sinal, o professor tirou os óculos e  aguardou. Ninguém se mexeu para sair.

   - Estou esperando que o culpado se apresente. Ficaremos aqui até que ele se decida.

O silêncio continuou. Os minutos se arrastavam. Estava claro que ninguém se acusaria. O professor tornou a insistir:

   - Se alguém teve coragem para fazer uma brincadeira tão maldosa, devia ter para responder por ela...

E continuou com o sermão sobre dignidade, hombridade e responsabilidade. Que foi de todo inútil. Eu estava cansado daquilo. Todos estavam. Então, uma das moças pediu licença e se levantou.

   - Professor, acho que sei quem foi. E já que ele ficou mudo, penso que é meu dever acusá-lo. Quando entramos na classe, ouvi Jorge dizer para o Marcos que o Cole ia ter uma surpresa. Estou certa que foi ele.

Jorge ficou roxo. Ainda tentou negar. Mas vendo o outro descoberto e não querendo ter culpa no cartório, Marcos confirmou a acusação da colega.
O professor ficou indignado:

   - Jorge, você está suspenso por uma semana. Levarei o caso ao conhecimento do diretor e pedirei que fale com o seu pai. Para você, Marcos, três dias de suspensão por não ter impedido a brincadeira ou me avisado. O Cole podia ter se machucado seriamente.
Foi um rebuliço: um parente dos Reinhart punido por causa do filho da costureira! Eu estava quebrando tabus. O pai de Jorge não aceitou o castigo do filho. Falou alto por toda a cidade: " Esta aldeia não vai para frente por causa de coisas assim. Onde já se viu deixarem o filho da costureira matricular-se no mesmo ginásio onde estudam os filhos das melhores famílias?"
Minha mãe perdeu algumas freguesas, que acharam melhor deixar bem claro de que lado estavam.
Jorge me deixou em paz o resto do ano. E a turma seguiu seu exemplo. Ser ignorado incomodava menos.

* Tô postando três capítulos hoje porque amanhã não vai dar pra postar, sorry ❤️🤦.
* Espero que gostem❤️.
* Se gostarem favoritem e comentem ❤️.
               
  *Bjs bjs ❤️

~❤️𝑈𝑚𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒 𝐴𝑚𝑜𝑟❤️~ Adaptação Sprousehart ❤️ Onde histórias criam vida. Descubra agora