Capítulo 12

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O palacete dos Reinhart foi fechado. A família decididamente não pretendia voltar mais, abandonara tudo.
O escândalo abalou a cidade. Minha mãe perdeu as últimas freguesas. Não fosse meu emprego na Estrada de Ferro, teríamos passado fome. Era muita audácia, um garoto da beira do rio, amar a moça mais rico do lugar.
O velho Gomes havia fechado a loja. Aos poucos, fui sendo procurado para consertar os aparelhos elétricos. Não havia outro que pudesse fazer isso. Eles não tinham escolha.
O tempo foi passando. Intensifiquei meus estudos sobre a  eletricidade. A guerra terminava. Novos horizontes se abriam para os que tinham ambição e determinação. Um mundo com maiores possibilidades começava a surgir. Eu me preparava para construir, nele, o meu lugar.
Foi duro suportar a tua ausência. Dominava a vontade de largar tudo e correr até onde estavas. Mas não podia ir de mãos vazias. Tinha que lutar.
A noite do baile foi ficando esquecida. Eu já não era " o filho da costureira". Sabiam meu nome, procuravam meus serviços. Nem por isso me aceitavam como igual.
Por mais de uma vez, fizeram-me saber que ias casar. Eu me desesperava.
Certa noite, cheguei tarde em casa. A velha sinalização da Estrada entrara em pane. Ultimamente, eu vinha insistindo junto à direção para que fosse substituída por outra, mais moderna. Estava tão absorvido no problema que, a princípio, não reparei que a casa estava às escuras. Só quando abri a porta e um silêncio pesado veio ao meu encontro é que me dei conta de que alguma coisa acontecera ali.
Mamãe estava caída sobre os braços, na mesma posição em que tantas vezes a encontrava dormindo em cima da costura. Toquei seu ombro para despertá-la. Inutilmente. Estava morta.
Não sei como tive forças para providenciar tudo. Alguns vizinhos me ajudaram. Atravessei a noite chorando sobre seu corpo.
Quando joguei o primeiro punhado de terra sobre o seu caixão, decidi que, agora mais do que nunca, eu devia vencer por mim e por ela.
Voltei a pé do cemitério. O céu azul, enorme, ampliava a minha solidão. Dali para a frente, eu contava apenas comigo.
Nos dias seguintes, tratei de me desfazer das coisas que não ia levar. Decidi ir embora de Vila Reinhart. Dei os trastes para os vizinhos, encaixotei meus livros e ferramentas,fiz a mala. Não havia muito o que pôr nela. Pedi demissão do emprego. A cidade ficou sabendo que eu partia.
Na véspera da viagem, encontrei o velho Gomes, na praça. Fazia tempo que não nos víamos. Seu cabelo estava todo branco e ele andava meio curvado. Abriu o rosto num sorriso:

   - Então vai nos deixar, Cole?

   - Viajo amanhã cedo.

   - E quando volta?

   - Não sei. Talvez nunca mais.

   - Bobagem! Quem bebeu água do rio, termina sempre voltando. Até os Reinhart vão acabar aqui de novo. Ouvi falar que a filha deles não casou até agora. É de estranhar. Uma moça tão bonita!

Meu coração disparou. Era bom ouvir de alguém o que eu me repetia todos os dias. O velho continuou:

   - O Comendador era uma fera. Homem acostumado a mandar. Mas os tempos estão mudando. A guerra virou tudo de pernas para o ar. Quando você subiu lá da beira do rio para ir estudar no ginásio, foi um escândalo. Eu devia favores aos Reinhart, como toda cidade devia. Não tive outro jeito...

Percebi que, à sua maneira, ele pedia desculpas.

   - Não se preocupe, Seu Gomes. O senhor foi bom pra mim.

   - Se não fosse você, eu teria fechado aquela biboca bem antes. Três meses depois que começou a trabalhar, você já entendia da coisa muito mais do que eu. Fui um moleirão dizendo amém ao Comendador, quando ele me mandou despedir você.

   - Não pense nisso agora.

   - Tá certo...

Ele piscou um olho.

   - Vou andando. Boa sorte, rapaz. Se existe alguém que merece tudo de bom, é você!

*Último capítulo antes da maratonaa ❤️
* Espero que gostem❤️.
* Se gostarem favoritem e comentem ❤️.
               
  *Bjs bjs ❤️

~❤️𝑈𝑚𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒 𝐴𝑚𝑜𝑟❤️~ Adaptação Sprousehart ❤️ Onde histórias criam vida. Descubra agora