Capítulo 5

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Fizeste 15 anos. Estavas cada vez mais bonita. A cidade inteira preparou-se para a festa. Teu pai mandou vir orquestra de fora. Os convites foram impressos em São Paulo. Eras o único assunto da cidade. Até o velho Gomes comentava os preparativos, enquanto consertávamos os rádios.

   - O Comendador vai oferecer churrasco na praça para os pobres. O clube está ficando uma beleza, pintado de novo. E vem flor de São Paulo que não acaba mais. Você não estuda com ela?

   - Estamos na mesma classe. Mas não pertenço ao mundo dela.

   - Você tem coragem, rapaz. Deve ser duro enfrentar as feras.

Levantei a cabeça e olhei longe, para a praça deserta àquela hora.

   - Tem sido muito duro. Mas vou vencer. Esta cidade ainda vai se orgulhar de mim.

Na véspera do teu baile vieste a mim - eu agora ocupava uma carteira. Afinal, tinha conseguido pagar a taxa. Meu antigo banco fora retirado da sala.

   - Cole, aqui está o seu convite. Gostaria que você fosse à minha festa.

Jorge escutou. Não perdeu a ocasião de me humilhar.

   - Ora, Lili, o filho da costureira no seu baile, era só o que faltava! Imagine a fúria do seu pai. Além disso, nem roupa ele tem. Só se a mãe der uma de alfaiate.

Empalidecemos ao mesmo tempo. A indignação pelo insulto me fechou a garganta. Tu falaste por mim:

   - Você morre de inveja porque ele é o melhor aluno da classe e você só consegue passar em segunda época. Pois fiquei sabendo que pobreza não é defeito.

Sem querer, tu me feriste fundo, mencionando minha pobreza. Voltaste para o teu lugar sem perceber o quanto aquele convite queimava as minhas mãos.
Pouco almocei, àquele dia. Minha mãe me olhou preocupada, mas nada disse. A tarde se arrastou, pesada, triste.
Ao consertar um rádio, machuquei a ponta do dedo. O corte foi profundo. Seu Gomes me mandou à farmácia fazer um curativo e tomar injeção antitetânica.
Não pude jantar. O dedo latejava, eu remoía para dentro as tuas palavras - " pobreza não é defeito!".
Minha mãe não tirava os olhos de mim. Até que não agüentou mais:

   - Meu filho, o que foi desta vez?

Contei a história do convite, omitindo a maldade de Jorge e tua inocente observação.

   - Eles não perdem ocasião de te magoar. E eu ainda pressinto muito sofrimento para nós dois. Tenha cuidado, meu filho. Não vá se apaixonar por essa moça. Seria sofrer em vão.

Levei um choque. Teria minha mãe adivinhado o que eu mesmo não ousava me confessar?
O dia do teu aniversário amanheceu azul e quente. Era sábado, não havia aula nem trabalho. Vaguei pela beira do rio todo, evitando pensar na noite que se aproximava. Vi as luzes da cidade se acenderem. Iluminado, o palacete do teu pai anunciava a festa. O vento trazia as vozes do povo que se aglomerava na praça, onde serviam o churrasco para aqueles que não tinham acesso ao clube. A música começou. Então voltei para casa e me enfiei na cama, na esperança de não ouvir nada nem pensar mais. Mas a música atravessava a noite, penetrava pelas paradas de madeira do nosso casebre e mordia os meus ouvidos. Eu te imaginava toda de branco, os cabelos louros soltos nos ombros, os olhos verdes refletindo as luzes do salão - e sofria. E me virava na cama, perseguindo o sono que não vinha.
Velei, insone, a tua festa. Só quando a música cessou, já com a primeira claridade da manhã, é que consegui adormecer, para sonhar com teus olhos, muito perto de mim, num salão florido e vazio. Te tomei nos braços e dançamos ao som da música invisível. Eu sentia o teu perfume, os teus cabelos macios que me acariciavam o rosto. Foi a primeira vez que sonhei contigo, de olhos fechados.

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~❤️𝑈𝑚𝑎 𝐻𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒 𝐴𝑚𝑜𝑟❤️~ Adaptação Sprousehart ❤️ Onde histórias criam vida. Descubra agora