— Parece que você tem Alexitimia.
— O quê?
— Alexitimia. Não é uma doença que se possa diagnosticar, embora associada a problemas médicos ou psiquiátricos.
— Mas é uma doença? Tem cura?
— É uma disfunção afetivo-cognitiva, mas está longe de ser uma perturbação de personalidade, como psicopatia, por exemplo.
— E o que te faz pensar que eu tenho isso?
— Alexitímicos vivem numa permanente ausência de capacidade de expressão emocional.
— O quê?
— Você geralmente nomeia os sentimentos de acordo com o que aprende com outros, não como se tivesse certeza do que sente. E alexitímicos apresentam dificuldade em nomear, expressar, descrever sentimentos e diferenciá-los de sensações corporais. Uma imaginação pobre, o que poderia caracterizar sua dificuldade para escrever sobre fantasia e talvez o grande bloqueio criativo pelo qual está passando. Ainda apresentam um funcionamento cognitivo baseado no concreto, no funcional, no utilitário. Em outras palavras, Alexitimia nada mais é do que a falta de palavras para descrever emoções. Dificuldade de falar dos seus próprios sentimentos.
— Eu...
— Sim?
— Não sei como me sinto quanto a isso.
— Exatamente, Tom!
— Pode ser que eu não saiba como amar Taylor?
— Pode ser que ela não entenda sua forma de amar.
— Por que eu só descobri isso agora? É de agora? Ou vem da infância?
— Provavelmente da infância, apesar de não sabermos ainda quais as causas. Traumas emocionais na infância podem causar isso.
— Como pais que brigam intensamente, o tempo todo?
— Provável.
— Tem cura?
— Se continuar comigo por bastante tempo, posso te ajudar com seu desenvolvimento emocional.
— Andrew?
— Sim?
— Isso pode ter sido intensificado pela Taylor?
— Não posso descartar nada.
— Então vou precisar muito de você.
Há poucas coisas na vida piores do que um término traumático. Aprendi isso da pior maneira possível. Algumas pessoas podem achar um exagero, mas nada na minha vida foi mais traumático do que meu término com Taylor. Ok, talvez não seja fácil de entender sem que saibam nossa história. Resolverei isso em um segundo.
Taylor Smith foi meu primeiro amor. Nascemos em Houston, no Texas, e não saímos do estado por bastante tempo. Crescemos juntos e fomos amigos por muito tempo, até eu me apaixonar. Não lembro com precisão se tinha 15 ou 16 anos quando me declarei para ela. O fato é que estávamos em uma festa de Halloween e eu subi no palco, fazendo uma declaração pública e vergonhosa. Por sorte, ela aceitou ser minha namorada e eu senti que era o homem mais feliz do mundo. Não era. Logo depois descobri que meu melhor amigo, James, também era apaixonado por Taylor e estava tendo o pior momento de sua vida com nosso relacionamento. Entretanto, ele não se afastou de mim ou me culpou por estar apaixonado pela linda garota loira, mais nova que nós dois. Nem me insultou por ter pedido ajuda a sua irmã, Hope, para conquistar Taylor. E, mesmo que Hope soubesse de sua paixão por Taylor, James nunca sentiu raiva dela. Ou de mim. Ou de Taylor. Apenas se contentou com o coração partido.
Eu, por outro lado, não tenho tamanha força. Taylor terminou comigo alguns dias depois para virar atriz e eu quis morrer. Não superei, um segundo que fosse. Foi um pouco frio, confesso, mas ela acreditava que só assim alcançaria seus sonhos. E alcançou. E eu os meus. Tornei-me escritor, colocando em um papel uma brincadeira que fizera com Hope sobre uma assassina que utilizava tesouras para realizar seus crimes. O livro foi um verdadeiro sucesso e eu fiquei rico, antes mesmo dos 20 anos.
Então conheci Frankie, Harry, Ethan, Becky e Sean. E com Harry veio Chloe, com Ethan veio Summer e com Frankie veio Felicity. Então só sobrou eu, já que Becky e Sean foram o primeiro casal entre nós. Ou melhor, eu não tinha sobrado, até alguns dias antes. Frankie era o solteiro quando eu perdi meu título de "comprometido. No começo daquele ano, 2016, Taylor aceitou namorar comigo novamente, após diversos empecilhos e diversas idiotices que ambos fizemos (como ela ter obrigado Sean a fingir ser seu namorado e eu ter beijado Becky, apenas para irritar Sean). E, para mim, parecia que estava tudo perfeito com Taylor. Mesmo com seus compromissos artísticos e filmagens, nós arranjávamos tempo para ficarmos juntos. Só que eu estava sendo cego, como ela acusou dias depois. Ao que tudo indica, ela nunca me amou e só era conveniente namorar comigo.
Conveniente.
E, tirando isso, eu tenho um bloqueio profundo em relação ao seu discurso. Apenas sei que foi um término péssimo.
Terrível.
De qualquer forma... Fui chamado a Vancouver dias depois do término, para compactuar com algo que eu já não acreditava mais: casamento. Ou melhor, um pedido de casamento. De Frankie para Felicity. E eu estava no meio, como um integrante da banda que ele usou. A mesma banda do aniversário de Becky, meses antes.
Bem, longa história...
De qualquer forma, eu ajudei no pedido, tocando James Arthur para que nosso desafinado Frankie cantasse. E até que foi bonitinho. Eu apenas não prestei muita atenção nisso, porque estava com a cabeça cheia de pensamentos por uma garota. E, pela primeira vez em minha vida, essa garota não era Taylor. Era Charlottie, melhor amiga de Felicity. E a primeira garota a agir estranho comigo, como se me odiasse sem me conhecer. Ou me achasse repulsivo. Ou qualquer coisa assim. Eu não sei. Não consegui entender. Aliás, nem consegui interpretar o que senti com isso. Ou com o que aconteceu depois, e isso me preocupou.
Felicity e Frankie, após vários segundos surtando, separaram eu e Charlottie dos demais, deixando-me profundamente... Não sei. Apenas foi intenso. E então, quando os dois contaram até três e perguntaram juntos "vocês querem ser nossos padrinhos?", recriando a cena da banda The Vamps convidando Connor Ball para ser baixista deles, percebi que havia algo de errado. Eu sempre fora muito ruim para interpretar os sentimentos dos outros, ou para expressar os meus. Entretanto, naquele momento eu não sabia direito o que sentia. Sabia que devia ficar feliz, e sabia que estava com algum sentimento positivo. Mas eu travei. Aceitei, porque sabia que não era educado não responder. Só não sabia ao certo como expressar o que sentia, e nem sabia o que sentia. E eu passara dias a fio sozinho, após o término com Taylor, então era a primeira vez que eu tinha que lidar com pessoas de novo. Não foi muito bom para meu emocional, afinal, ele parecia morto.
Foi assim que percebi que Taylor me deixara doente.
Literalmente.
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Iminência Estelar
Storie d'amoreCasamentos são lindos, mas também podem ser um verdadeiro caos, principalmente para os padrinhos. Tom ainda está superando o fim de seu primeiro e único relacionamento, com sua namorada de escola. E, ainda assim, precisa fingir que acredita no amor...