Admirável chip novo- PARTE I

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   "Pane no sistema, alguém me desconfigurou. Aonde estão meus olhos de robô? "

"Mas lá vêm eles novamente, eu sei o que vão fazer. Reinstalar o sistema"

                                                                                  FASE 1

    Nós nunca temos certeza das consequências de nossas escolhas, apenas escolhemos ou alguém escolhe isso por nós. A decisão inicial foi minha, mesmo que fosse apenas uma brincadeira, porém quem me escolheu foi você, e aos poucos eu queria cada vez mais sentir aquela adrenalina percorrendo minhas veias.

     "Beatriz, obrigado por estar aqui, mas para mim não é tão fácil contar para alguém o que se passa dentro de mim, nem com meus amigos", falava o garoto da minha sala. Nós estávamos sentados no banco em que Paulo sempre se isolava, e naquele dia resolvi me aproximar de seu olhar tristonho.

"E onde estão seus amigos agora? ", questionei.

"Ah, meus amigos não estudam aqui. Uma parte deles é virtual, mas tem vezes que um contato de quilômetros de distância abraça mais do que as pessoas ao seu redor, nessa escola por exemplo "

"Tudo bem então. Um abraço meu ajuda? "

"Ajuda...sua fofa", ele disse ao me dar um abraço forte. "Sabe Beatriz, seria bom se o mundo fosse como você, gentil. Eu tento ser, mas na maioria das vezes não consigo saber que parte de mim sou eu ou o que dizem que sou."

"Ah, você que é um fofo", falei ao dar um beijo em sua bochecha.

Me levantei e segui. Eu tinha o hábito de escutar as pessoas, algo que peguei do meu pai, mesmo que não fossemos nada próximos.

Durante o intervalo, enquanto procurava meu namorado Artur, me lembrei das últimas palavras de Paulo: "Na maioria das vezes não consigo saber que parte de mim sou eu ou o que dizem que sou". Eu compartilhava do mesmo medo. Às vezes me sentia sem personalidade, como se todos já tivessem se encontrado, menos eu. Mas minha linha de raciocínio foi interrompida quando encontrei Artur encostado na parede.

"Oi príncipe! ", falei colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.

"Oi, Beatriz", ele respondeu com um olhar frio, o olhar que me dá medo, o olhar que me fazia acreditar que havia outro Artur além do que conhecia.

"Aconteceu alguma coisa? ", pergunto a ele mantendo meu tom calmo.

" Eu que te pergunto. Poxa Bia, você me conhece, sabe que não sou um desses garotos ciumentos, mas também não é tão confortável te ver assim com os outros enquanto estou aqui, te esperando ", ele, que é mais alto do que eu, responde olhando acima dos meus olhos.

" Me desculpa, não te vi o intervalo inteiro e ele estava mal, apenas quis ajudar"

"Você sabe como são meus amigos com essas coisas, adoram encher o saco. Enfim eu tenho que ir, tenho que fazer a prova de segunda chamada"

Ele se foi e me deixou parada, engolindo a seco que eu não poderia acolher alguém pelo seu ciúme desnecessário. Eu deveria ter falado algo, mas ficar na zona de conforto pareceu melhor do que uma discussão.

Passei todas as aulas pensando. Se eu não sabia o que realmente eu era, me parecia justo descobrir. Porém se encontrar me parecia bem mais complicado, tal qual ter que procurar em uma multidão de gostos, de dons, de tipos de pessoa, de qualidades e defeitos, um lugar no qual eu me sentisse confortável. Como procurar em um vagão lotado de pessoas alguém de bom humor.

Pensei também em Artur. Nem sempre ele fora assim, no início era mais carinhoso, me conquistava todos os dias, todavia, eu já sentia o desgaste do relacionamento na pele. Mas mesmo assim, não havia mais intenso dentro de mim que o amor por ele.

Por Um InstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora