Contramão-PARTE II

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         Estou em choque. É inacreditável que seres tão humanos como pais, que compartilham senão do amor com o filho, possam tirar o ser mais importante da própria casa, por simplesmente amar pessoas do mesmo sexo.

Imediatamente me lembro de Paula gritando comigo quando descobriu de Sofia. É tão cruel, injusto. Sinto o mesmo amargo na boca e a dor no peito.

"Calma Tomás, respira. Eu vou falar com meu pai, a gente vai resolver isso juntos. "

" Não tem solução Beatriz, eu conheço meus pais, não vão voltar atrás"

" Eu vou retornar, enquanto isso, fica calmo, tudo vai ficar bem. "

Desligo o celular e corro para o quarto de meu pai. Não sei como ele irá reagir, mas nesse momento minha preocupação está maior que as expectativas.

" Pai! Preciso fazer algo. "

" O que? ", ele pergunta. A essa hora da manhã, Marco, metódico como é, seu dia já começou a muito tempo. Ele está lendo um livro.

" Lembra do Tomás? "

" Aquele amigo no qual você dormiu na casa semana passada? "

" Ele mesmo. Ele foi expulso de casa. ", falo ofegante.

" Por quê? "

" Os pais dele descobriram que ele é gay. Agora ele não tem para onde ir. Ele bem que poderia ficar aqui até encontrar um lugar. "

" Claro. E onde ele mora? Melhor, onde ele está? "

" Ele mora no Núcleo Bandeirante, perto de Brasília. ", digo e faço uma longa pausa olhando nos olhos dele. Então continuo: " Você não sabe o quão é importante para mim. ", declaro o abraçando.

" Agora multiplique por 100, não chega nem perto do quanto você é para mim. Da mesma forma que deveria ser para os pais desse garoto. Vamos busca-lo. "

Meu pai pega as chaves do carro e durante o caminho ligo para Tomás. Ao falar que estou indo, fica emocionado.

Chegamos no prédio no qual Tomás mora. Ele está sentado nas escadas e ao me ver levanta abruptamente, ele carrega uma mala e uma mochila que está em suas costas. Seus olhos estão vermelhos.

Ele me abraça forte, parece querer encontrar um lar em meus braços. Enquanto me abraça, falo: " Ei, vai ficar tudo bem. "

E então ele me solta, olha em meus olhos e eu continuo.

" Você vai ficar lá em casa, não se preocupe com isso. "

" Mas, Beatriz..."

" Lembra quando você me salvou? Agora é minha vez de fazer algo por você, eu também sou LGBT, entendo o que está sentindo. "

Ele dá um sorriso de lado e meu pai buzina.

"Eu não posso ficar nesse lugar por muito tempo, dá multa. "

Pego a mala de Tomás e entramos no carro.

...

" Eu não sei como te agradecer, Bia. Tudo o que você e seu pai estão fazendo por mim. ", ele diz quando entra no meu quarto.

" Bem, sobre mim, você pode agradecer só de continuar sendo esse amigo, afinal, amigo é para isso, né? Já meu pai, eu realmente me surpreendi com a atitude dele, na hora nem tinha pensado, porque a gente nunca toca nesse assunto, mas pelo visto, ele não vê problema algum de alguém gostar de homem, ou de mulher, ou dos dois. ", falo me deitando de bruços na cama, olho para Tomás que está sentado em um banco.

Por Um InstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora