Por Um Instante

Máscaras-PARTE II

         Os problemas e os erros do passado se não resolvidos, sempre voltam. Eu estou aprendendo isso da pior forma. Sinto que fiz uma bola de neve e depois fugi, mas no caminho ela apenas se transformou em algo maior.

" Mãe, o que você está fazendo aqui? ", falo quase que soluçando. Já não me importo com meu choro.

" Eu vim ver minha filha ", ela fala se aproximando de mim.

" Me ver? Faz meses que você sequer me liga "

" Seu número estava fora de área "

" Você sabe muito bem que podia pedir o novo para meu pai "

Ela se cala. Sinto que ela quer me abraçar, e talvez eu também queira, porém isso não é nada fácil para as duas. Ela é orgulhosa. Eu não sei o que faço. É tão estranho estar perto de alguém que já te magoou muito, mas que já te amou tanto também.

" Mãe, por que passar meu endereço para o Artur? Se você queria acabar com tudo, está feito. Sempre foi assim né? Você sempre quer acabar com a felicidade dos outros porque não é feliz "

" Beatriz! ", meu pai chama minha atenção.

" Filha, eu quero apenas conversar. Mas parece que agora não dá né. Enfim, eu vou passar 2 semanas aqui em Brasília, quando estiver melhor..."

" Pela primeira vez você consegue me entender. Realmente, hoje não dá. Passar bem ", falo subindo as escadas.

Minha cabeça está explodindo. Entro no quarto, bato a porta, coloco meus fones de ouvido, a primeira música que toca é Setevidas da Pitty, o volume no máximo. Pego meu caderno de desenhos e começo a imaginar o que vou passar para o papel. Me vem a mente o que sinto estar acontecendo comigo novamente: a estante caindo. Então começo a desenhar uma estante despedaçada. Desenhar e escutar música são minhas válvulas de escape em momentos de raiva e tristeza.

...

Durante a semana meus amigos e meu pai viram meu refúgio em meio a tantas turbulências de uma só vez. Nunca desenhei tanto. E tento aproveitar o tempo que tenho para revisar as matérias, afinal, semana que vem é semana de provas, além de que daqui a três semanas, o PAS (vestibular) chega.

No sábado seguinte, eu e meu pai assistimos ao filme: ANAVITÓRIA, choro durante todo o filme, pois Sofia as adorava, as músicas e os relacionamentos me fazem retornar ao passado.

" Você ainda tá bem mal, né filha? "

" Como eu não fico, pai? Tudo que não poderia acontecer, aconteceu "

" Filha, foram as consequências"

" Eu sei, pai. Eu sei que eu magoei a Sofia, o Artur, minha mãe "

" Sua mãe só ficou magoada com você pela sua decisão de ficar comigo ou você está me escondendo algo? "

" No dia que eu fui pegar as malas, ela tomou meu celular e viu que eu tinha pedido a Sofia em namoro e começou a gritar. Eu fiquei alterada, reconheço que exagerei quando peguei seu taco de beisebol, olhei para ela, disse que ela era minha estante e em seguida estraçalhei a estante. Disse que eu não era mais a filha dela, enfim, na hora me aliviou, mas não é a melhor forma de demonstrar raiva "

" Meu Deus, Beatriz. Por isso que você nem trouxe o taco e que ela passou meses sem ligar. Ok que isso não justifica, mas as duas erraram "

" É, ela deveria assumir "

" Bem, se você assumir que também errou, pedir perdão, é possível que ela também faça o mesmo. E isso também vale para a Sofia e o Artur "