Minha intenção é esquecer o passado, um selinho talvez seria o suficiente, mas para o garoto que não sei o nome, não é. Suas mãos vão de encontro a minha nuca, seu corpo parece querer grudar no meu como fita. Minha mente tenta sincronizar o fato de eu estar beijando alguém, ao mesmo tempo que quer interromper para não se envolver e ainda esquecer. Sua intensidade me assusta, porém de um jeito bom, mas chega, eu estou no corredor de um colégio.
" Eu... eu tenho que ir", falo buscando uma saída rápida à situação inesperada. Ele apenas me deixa ir, ainda está perdido.
Ando com pressa, não sei o que está acontecendo comigo. Beijar outra pessoa assim para deixar o passado ir funciona, mas por apenas alguns segundos. É como apagar um incêndio com um balde d'água, o desespero somente fica mais claro, as chamas vão continuar ardendo. Eu queria diluir aquele olhar triste dele que só eu percebo, noto porque já estive assim, fingindo estar bem por fora e com a dor te consumindo por dentro, porém beija-lo trouxe um bem-estar tão momentâneo e ilusório quanto para mim.
Quando o sinal toca volto para a sala, é estranho fingir que nada aconteceu, mas pelo menos hoje é sexta e não vou ter os últimos 2 horários, estou sem professor de filosofia. Sento na cadeira, todos estão chegando, inclusive o garoto que beijei e que senta na cadeira da frente.
" A novata já chegou beijando o Felipe, vocês viram? Quer competir com a Melissa para ver quem é a mais rodada da sala, é? ", diz um garoto em pé. Ele consegue me tirar do estado de aflição para de estresse em alguns segundos.
" Você deve estar na liderança de o mais babaca né? ", levanto e falo olhando em seus olhos, minha cabeça parece estar fritando e meus batimentos em velocidade máxima.
" O Lucas já ganhou faz tempo esse troféu".- Diz outro garoto que senta a 2 cadeiras da minha.
" Cala a boca aí ô 'viadinho'", Lucas retruca.
" Gente, chega! ", interrompe a professora de inglês.
Aquilo doeu em mim. Com certeza Lucas já ficou com várias garotas e eu ao beijar um garoto me torno automaticamente rodada, puta ou desvalorizada? Outra coisa também machucou, entretanto pela primeira vez. Provavelmente o garoto que me defendeu é gay, e por isso o que disse parece não ter algum valor aos olhos de Lucas e outras pessoas que pensam igualmente. Penso em todas as vezes que naturalizaram a homofobia perto de mim e eu estive calada, mas agora doí, afinal eu sei que faço parte desse grupo, antes ignorava as evidências. Quero gritar para o mundo que é tão natural quanto ser heterossexual, que o amor que senti por Artur e por Sofia era o mesmo, que não há motivo para odiar alguém que só quer amar. É tão injusto, um ódio gratuito.
" Então turma, nesse início do semestre vamos ver o que vocês ainda lembram, se trata de um trabalho de revisão", fala a professora animada, ela tem os cabelos longos e loiros, seu jeito jovem deixa a aula menos cansativa, mesmo assim a turma resmunga pelo trabalho logo na primeira semana de aula.
" Vocês vão se reunir em grupos de 4 pessoas e apresentar em inglês, é óbvio. No dia da apresentação, um de seus parceiros do grupo será sorteado, e por isso vocês precisam saber responder as perguntas "what is he or she like" and " what does she or he look like" para treinar o vocabulário e a pronúncia de vocês.
As 3 pessoas em minha frente combinam de formar um grupo, se entreolham e o garoto que eu beijei me chama para fazer parte. Aceito, é isso ou nada.
"Qual é seu nome mesmo? ", pergunta uma garota de cabelos castanhos claros ondulados, pele branca e olhos lindos, além de serem castanhos também.
"Beatriz, e o de vocês? ", respondo aproximando minha cadeira do grupo.
" Melissa "
"Felipe ", diz o garoto que já cansei de me lembrar que o beijei.
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Por Um Instante
Teen FictionBeatriz nunca foi muito boa com escolhas, mas agora ela precisa decidir quem vai machucar. Sua mãe que é superproterora, sempre a protegeu de tudo, a colocando numa bolha, mas Beatriz quer mudar, quer se conhecer. Seu único ponto fora da cur...