"Logo mais, amanhã já vem".
"Chega dessa pele, é hora de trocar".
Ás vezes nos cansamos de uma pessoa próxima, de suas manias, defeitos, arestas. Queremos muda-la, tudo nela que já foi visto como diferente, hoje te incomoda, quando queremos apenas se afastar, quando esquecer parece o melhor caminho. Mas e quando essa pessoa é você? É nesse momento que é preciso recomeçar, mudar, ser uma nova pessoa, fazer como serpente e trocar de pele.
Meu corpo está tremendo; minhas mãos latejando pela força; meus olhos, vermelhos como fogo; a estante de madeira, despedaçada no chão; meu interior grita, pois nunca sentiu uma carga de estresse tão grande de uma vez, como um cano que estoura pela pressão que recebe sem válvula de escape, e agora essa água jorra para todos os lados, sem se importar quem vai atingir.
Olho fixamente nos olhos da minha mãe por quase um minuto. Ambas sabem que mesmo sem me pronunciar, eu quero dizer que tudo aquilo é culpa dela. Saio do quarto, levo as malas na mão e peço o celular de volta. Minha mãe apenas obedece, calada, está estática, nunca me viu assim.
Entro no elevador, olho para os botões, não sei o que fazer. Num impulso, aperto para o último piso, onde há a piscina e uma vista de toda a cidade. Me encosto no elevador espelhado, apenas começo a chorar, não me arrependo de nada, mas meu corpo acha necessário esvaziar. Quando chego, deixo as malas e corro até uma cadeira, consigo ver vários prédios ao redor do meu e em frente, o mar. As lágrimas percorrem meu rosto sem pressa, agora entendo o porquê delas. Assim como minutos antes minha mente sentiu uma enorme carga de raiva, nesse momento, ela se vê em frente de emoções que não consegue nomear, somente um misto de raiva, tristeza e angústia por ter que estar fazendo isso com a mãe que sempre amou. É duro ter que magoar alguém para seguir em frente.
Limpo as lágrimas e envio uma mensagem para meu pai, ele diz que chega em minutos, tenho certeza que minha mãe vai acompanhar pela janela os últimos segundos de tudo.
Digo ao meu pai que esqueci o taco e o dia segue sem grandes novidades. Amanhã, segunda, viajamos. 4 dias atrás eu descobri que eles estavam se divorciando, 3 eu ouvi a briga que me destruiu e conheci Sofia, 2 eu tive a última noite com Artur e passei parte da madrugada na praia, 1 fui a um julgamento definir quem iria sofrer, e agora estou aqui no hotel pensando na estante e no futuro, uma enorme quantidade de informações que qualquer jovem é incapaz de organizar e lidar bem.
"Filha, você tá bem? Voltou da casa da sua mãe diferente. "
"Pai, olha o tanto de coisas que estão acontecendo comigo, é como se você obrigasse uma galinha a voar! Acha mesmo que estou bem? ", falo alto.
"Só queria saber como você estava".
"Eu tô mal, só quero me afundar na cama desse hotel pensando nisso tudo, até que eu durma de vez, mesmo que agora seja apenas 7 da noite, só me deixa em paz um pouco"
Meu pai não tem culpa disso, mas não consigo estabelecer uma relação de confiança com alguém que parece mais um novo padrasto do que um pai. Um exemplo disso é que não contei para ele de Sofia, afinal, nem para mim mesma consigo explicar essa confusão de sentimentos.
É tão irônico quando alguém que já te levantou, hoje te derruba. Derrubar, é o verbo que define o que Sofia está fazendo. Me sinto uma criança triste, mas que se alegra no pula-pula, porém, esse brinquedo quebra e o que era sinal de felicidade vira mais uma dor, um machucado. Ela não me responde, apenas visualizou meu pedido, como se já não houvesse tantas perguntas na minha cabeça, ela me dá outra sem resposta. Esse é o pior. Esse ato que me faz perder as esperanças e começar a questionar se tomei a decisão correta.
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Por Um Instante
Teen FictionBeatriz nunca foi muito boa com escolhas, mas agora ela precisa decidir quem vai machucar. Sua mãe que é superproterora, sempre a protegeu de tudo, a colocando numa bolha, mas Beatriz quer mudar, quer se conhecer. Seu único ponto fora da cur...