Capítulo 3

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No dia seguinte, Mia acordou com o velho despertador às sete e meia da manhã, era sábado, ou seja, dia de limpezas na casa da família Silva.

A menina levantou-se silenciosamente, para não acordar o irmão, vestiu uma roupa confortável e dirigiu-se à cozinha, onde normalmente estaria a mãe já com os panos e os detergentes na mão. Assim que lá chegou, deparou-se com algo que nunca esperava ver naquela divisão. O local que anteriormente estava minimamente arrumado, agora continha latas de cerveja e maços de tabaco sem fim, uns espalhados pela mesa, outros pelo chão, aquela cozinha estava uma real pocilga.

-Mãe!? - gritou Mia na esperança de ouvir uma resposta.

Mas a resposta tardou a vir, portanto a menina começou as limpezas mesmo sem ela.

Já estava quase na hora do almoço e Mia já tinha tudo arrumado, quando Martim sai do quarto assustado:

-Mana, eu acabei de ver a mamã da janela do nosso quarto, ela está lá fora com um senhor feio e ele estava a dar uma pica no braço dela... ela está doente?

-Uma pica Martim, tens a certeza disso? - perguntou a irmã mais velha desconfiando do que a mãe poderia estar a fazer.

-Sim, era uma pica como a que o doutor deu no meu rabo quando eu estava muito quente.

Nesse instante, Maria entra em casa, bate a porta com imensa força e quase sem roupa, encanra os filhos com os olhos inchados e vermelhos sabesse lá do quê.

Martim quando vê a mãe naquelas figuras desata a chorar assustado, mas Maria, com os olhos em água, apenas vira costas e vai para o seu quarto.

Mia pegou no irmão ao colo e abraçou-o na tentativa de o conseguir acalmar.

-Tim olha para a mana, vamos fazer um jogo?

Mas o menino só chorava.

-Calma pequenote, eu estou aqui, achas que eu vou deixar que alguma coisa de mal te aconteça?

O menino acenou com a cabeça negativamente.

-Então olha, vamos limpar-te essas lágrimas e vamos passear, queres? Vamos ao parque?

-Sim! - respondeu ele soluçando.

Mia limpou as lágrimas ao irmão, vestiu-o, pegou em algum dinheiro do seu porquinho mealheiro e saíram de casa.

Pelo caminho, a rapariga ia tentando distrair o menino, fazendo vários tipos de brincadeiras. Até que de repente, a mesma senhora que lhe tinha dado o caderno no dia anterior passa por eles.

-Bom dia Mia, está tudo bem? - perguntou a mendiga.

-Bom dia, sim, está mais ou menos e com a senhora? - respondeu a irmã de Martim.

-Comigo está tudo ótimo querida, pela manhã, um passarinho chilreou-me ao ouvido que tu ias passar por mim e olha cá estás tu!

-Posso fazer-lhe uma pergunta?

-Claro que sim!

-Mia... vamos ao parque! - pediu Tim, cansado de estar ali.

-Calma Martim já vamos! - respondeu a irmã.

-É melhor ires Mia, daqui a pouco está na hora de almoço e o senhor dos cachorros quentes fecha para a sua pausa!

-Mas como é que a senhora sabe que eu vou ao "POP's"? - perguntou a rapariga assustada.

-Acho que com dois euros não consegues ir comer a um restaurante e pelo que vi bem cedo, a tua mãe não está apta para fazer o almoço hoje...

-A senhora viu a minha mãe?

-Miaaa...! - pedia o menino insistentemente.

-Vai lá Mia! - disse a senhora.

-Sim vamos... mas espere, como é que a senhora se chama?

A mendiga sorriu e ao aproximar-se do ouvido da menina disse:

-Genoveva!

E se um dia eu voltasse a ser criançaOnde histórias criam vida. Descubra agora