Capítulo 4

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A menina ficou parada a olhar para a pobre senhora desaparecendo no horizonte, até que Martim a puxa e pede de novo para irem ao parque.

Mia e o irmão acabaram por chegar antes que o "POP's" fechasse, foram lá e pediram dois cachorros quentes que seriam o almoço. A tarde passou a correr, Martim e Mia divertiram-se imenso no parque, mas ao virarem a esquina, em direção à rua esguia e sinuosa, que dava para sua casa, viram o mesmo homem que Maria tinha como companhia nessa manhã à porta de sua casa.

-Mia é aquele o homem que estava a falar com a mamã de manhã!

-Tens a certeza Martim?

-Absoluta!

Mia sabia que não era boa altura para voltar para casa, aquele homem não parecia ser de confiança. Estava a escurecer a pouco e pouco, mas a menina tinha medo do que iria encontrar mal entrasse por aquela porta de madeira lacada preta.

-Mia achas que já pudemos ir para casa? – Perguntou Martim cansado de andar às voltas pelo quarteirão.

-Acho que sim pequenote, vamos lá embora que quando chegarmos a mana prepara-te um chocolate quente pode ser?

-Siiim! – respondeu o menino todo contente.

Viraram novamente a esquina e o caminho estava livre, não havia sinais do homem nem de Maria. Eles foram aproximando-se da casa branca que por sinal era a última da rua e entraram lentamente com receio do que poderiam ou não encontrar lá dentro.

-Mia, Martim? – perguntou uma voz vinda do quarto da mãe dos meninos.

-Mãe? – respondeu num tom de pergunta Mia.

-Mia podes ser tu a fazer o jantar hoje? Eu não estou com cabeça para estar na cozinha.

A menina respondeu que sim à mãe, mas não era pelo facto de ela querer fazer o jantar, era sim porque ficou feliz de a mãe ter falado com ela depois de tanto tempo.

Os dias foram passando assim, nesta monotonia, era visível a força de Mia para aguentar a escola e as tarefas de casa, mas acima de tudo o facto de acompanhar sempre o desenvolvimento do irmão. Já Maria ia arrastando-se pelos becos do Porto, rodando a bolsa todos os dias a espera de um homem com dinheiro que a viesse acariciar.

Mia continuava a escrever no seu diário todos os dias, transmitia para o papel toda a sua dor, para que depois pudesse passar para o irmão os bons momentos.

As férias de Verão chegaram, já se passaram dois anos da partida de seu pai para algures, Martim tinha crescido cinco centímetros desde então e tinha agora seis anos. Já Mia estava igual, mas só por fora, o seu desenvolvimento a nível psicológico tinha sido terrivelmente violado nestes dois anos. Continuava uma menina forte, é verdade, continuava a ajudar o irmão em tudo e até mesmo a mãe que já pouco parava em casa. Porém era uma menina triste, pois não tinha o apoio de ninguém para além de Martim, Jojoca, Jujuba e Tritão.

Certo dia Mia decidiu sair de casa e levar o irmão a passear, coisa que já não faziam há algum tempo.

-Martim que me dizes de ir à praia? – perguntou a rapariga.

-Sim sim, quero muito ir à praia, Mia vamos!

-Então vai ao quarto vestir os teus calções de banho e buscar a toalha para sairmos rápido.

O menino vestiu-se rápido e depois de ajudar a irmã a preparar o lanche saíram de casa em direção à praia que ficava mais ou menos a uns dez minutos de casa da ex família Silva.

Pelo caminho iam fazendo jogos para passarem o tempo. Até que, dois quarteirões depois da sua casa, viram a dona Genoveva a ser alvo de murros e pontapés por parte de uma senhoras muito infelizes que simplesmente gostavam de implicar com ela.

-Mia Mia, olha aquela senhora está a levar pancada! – disse Patrícia do outro lado da rua.

-Já chamaram a polícia? – perguntou a menina.

-Não sei, acabei de chegar, mas acho que não.

Mia apressadamente pega no telemóvel e liga para a polícia e para o 112, que aparecem pouco tempo depois, ainda aquelas malditas mulheres estavam a bater na pobre senhora sem que ela se pudesse defender.

-Afastem-se todos, ia dizendo o guarda para a multidão, que estava ali a assistir ao que se pode chamar de um filme de ação ao qual Mia queria que os vilões morressem no final.

As senhoras foram presas por atentarem contra a vida da dona Genonveva, e foi Mia que a acompanhou ao hospital, deixando Martim com Patrícia.

E se um dia eu voltasse a ser criançaOnde histórias criam vida. Descubra agora