Capítulo 6

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As lágrimas não aguentaram no saco lagrimal de Raquel, a história de Mia para além de verdadeira era das histórias mais comoventes que esta já tinha ouvido. Pela sua boca não saía nem uma palavra, apenas tentava parar o choro, porém sem sucesso.

Vinda do quarto a voz de Maria suou:

-Mia!?

-Mãe?

Ambas correram para se abraçar, a mãe da menina parecia estar sóbria, coisa que Mia já não via à algum tempo. Maria estava num estado de horror, assim que viu a policia a bater à sua porta com um mandato para levar os seus filhos consigo, nem o álcool, nem o tabaco e muito menos aquelas injeções de heroína poderiam curar a dor que aquela mãe iria sentir ao ver os filhos serem levados como pássaros engaiolados.

As palavras de Mia não foram suficientes para mudar a ideia da assistente social, tanto ela como o irmão foram levados no caro de Raquel até à Associação "A Casa do Caminho". A instituição era ótima, sem dúvida, mal chegaram, os irmãos foram transferidos para um quarto onde ficavam juntos, pelo menos nos primeiros tempos, até se habituarem tanto às auxiliares como às educadoras e também às restantes crianças de lá.

Dias, meses, anos se passaram, Maria não podia ir visitá-los, foi-lhe dito pela policia, que se os fosse visitar poderia ser alvo de um processo crime.

Todos os dias Martim perguntava pela mãe à irmã e Mia dizia que a mãe estava a vê-los por uma televisão mágica e que todos os dias ela vinha dar-lhe um beijinho de boa noite depois de eles adormecerem.

Porém, dois meses após a saída dos meninos de casa, Maria não aguentou e acabou por se suicida ingerindo duas embalagens de paracetamol que a levaram a uma overdose. O corpo foi encontrado pela policia judiciária depois de uma vizinha ter ligado para a esquadra dizendo que já não via Maria à bastante tempo e que todos os dias ia à sua porta um homem com muito mau aspeto gritar a dizer que ela não se escapava de pagar o que lhe devia.

Concluindo, Maria suicidou-se por duas razões, uma porque lhe tinham retirado os filhos que eram a única coisa que lhe dava ânimo para viver e outra pelo facto de estar endividada até à ponta dos cabelos e não conseguir pagar essa divida.

Mia vei-o a descobrir que a mãe faleceu dois anos depois, já teria dezoito anos na altura, feitos à pouco, Martim faria oito na semana a seguir. Foi um choque para ela, ainda por cima teria que contar ao irmão de forma a que ele não ficasse muito mal com a situação.

-Martim, posso falar contigo? – perguntou Mia interrompendo a brincadeira do irmão com Nádia, uma menina muito querida da idade dele, que tinha chegado à poucos dias ao orfanato.

-Espera um bocadinho Nádia, eu já volto!

Os irmãos foram para o quarto onde tinham a certeza de que ninguém os iria incomodar.

-Tim a mana tem uma coisa para te contar está bem?

-Sim Mia conta rápido, se não a Nádia pode chatear-se comigo.

-Lembras-te da mana te dizer que a mamã tinha uma televisão mágica por onde ela nos conseguia ver todos os dias?

-Sim, mas eu sei que isso não era verdade.

-Era sim Martim, mas a mamã agora já não precisa de televisão para nos ver, ela agora está com Jesus.

-Porquê?

-Jesus veio buscá –la para ir viver com ele para o céu e ela agora consegue ver-nos lá de cima das nuvens.

-A mãe morreu Mia?

-Sim Martim, mas ela agora está muito melhor, ela agora está com todos os anjinhos lá no céu e continua a vir todas as noites aqui ao nosso quarto dar-nos um beijinho de boa noite.

-Prometes que ela vem todas as noites?

-Prometo! E até faço melhor, todas as noites vamos deixar uma bolacha e um copo de leite na nossa mesa de cabeceira, assim quando ela vier ver-nos pode comer a bolacha e beber o leite, que me dizes?

-Sim! Assim a mãe sabe que nós ainda gostamos dela e que não queremos que nenhuma família nos adote!

-Exatamente!

A conversa terminou por aí, Martim saiu feliz do quarto e foi a correr dizer a todos os meninos que a mãe dele estava no céu com Jesus e que estava bem. Mia sentia que tinha cumprido a sua missão e isso também lhe foi dito pelas educadoras do orfanato. A partir daí, todas as noites Mia acordava para comer a bolacha e beber o leite para que o irmão acreditasse que a mãe vinha vê-los.

Os dias iam passando, e não havia noticias de Dona Genoveva, os médicos disseram que lhe avisariam caso ela acordasse do coma, mas nunca mais ligaram. O pai de Mia soube que eles tinham sido retirados à mãe e que esta se tinha suicidado, porém nunca foi lá buscá-los, talvez os gémeos dos quais também era pai já lhe dessem bastante trabalho.

E se um dia eu voltasse a ser criançaOnde histórias criam vida. Descubra agora