Sozinho

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Espera, volta aí, quem foi embora?

-O Miguel, seu monitor.

Nessa hora minhas pernas ficaram moles e minha boca secou e meu coração disparou, não, isso era mentira, ele não podia ter feito o que disse que ia fazer, o Miguel não podia ter indo embora.

-Por que... por que ele foi embora? -Com dificuldade perguntei ao diretor.

-Ele disse que estava com problemas pessoais e pediu afastamento, mas eu acredito que o senhor está bem adaptado a escola, e suas notas estão boas, mas se você quiser posso colocar alguém no lugar dele para te ajudar. -Ele não me olhava, mexia em um papel e eu ainda não sabia o que dizer, ele realmente fez o que disse que ia fazer, mas tudo bem, eu não precisava dele.

-Não, eu me viro sozinho, posso me retirar? -Me levantei e fui até a porta.

O diretor me chamou e eu me virei e o olhei.

-Só te peço, por favor, não vai na onda desses alunos, você parece ser diferente deles, então não arrume mais confusão.

-Pode deixar. -Sair e quase que correndo tentei ir para meu quarto quando eu trombo em alguém.

-Aí!

-Desculpa. -Eu todo desajeitado como sempre olho para quem eu quase derrubei no chão. Era a Isabela.

-Nossa, a onde vai com tanta pressa, quase que perco meu braço. -Ela passava a mão no bravo direito e tinha um meio sorriso no rosto, até que ela ficava um pouco bonita rindo.

-Desculpa, Isa, eu não te vi. -Olhei em volta e não tinha ninguém dos corredores, todos já estavam na sala.

-Nossa sou tão invisível assim? -Ela me perguntou arrumando seus óculos fundo de garrafa.

-Eu tenho que ir, desculpa de novo. -Sai de lá correndo sem esperar ela me responder e fui para um corredor que já conhecia bastante, e por um minuto pensei antes de bater na porta.

Bati e a porta abriu sozinha e com cuidado eu entrei no quarto.

O quarto estava vazio e escuro, acendi as luzes e não tinha mais nenhum pertence do Miguel, eu sentei na cama e fiquei olhando o quarto, ainda tinha o cheiro dele. Sentir uma lágrima escorrer no meu rosto, e a limpei com urgência.
Não, eu não ia me lamentar por isso, cada um sabia o que fazia, eu só tinha que aprender a viver sem aquele idiota rabugento da minha rotina.

Sair do quarto e fui para fora da escola, queria tomar um ar, vi um cara sentando em um banco perto da fonte e quando cheguei mais perto vi quem era.

Ele estava de cabeça abaixada é muito abatido. Sentei do lado dele e ele me olhou rapidamente para ver quem era e voltou a sua posição.

-Você está matando aula? -Eu perguntei com receio, não sabia se ele iria voltar a falar comigo.

-E você tá fazendo o mesmo? -Sua voz era fraca e ele não me olhava, ergueu a cabeça e olhou para frente.

-Não tenho cabeça para assistir a aula de história hoje. -Eu estava mal, mas Matheus parecia bem pior.

-E eu não tenho cabeça para ouvi ninguém, nem você. -Ele se levantou e isso foi como um balde de água fria em mim.

O Herdeiro do Tráfico Onde histórias criam vida. Descubra agora