Fim

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O concerto com os meninos do Ynne cantando ‘Cante para me levar ao céu.

As pessoas conversam sobre Henrique. Alguém dá uma palestra sobre o apoio à lei do consentimento presumido e a importância de guardar na carteira o cartão de doador de órgãos. O Ynne canta. E a câmara. O coro dos garotos jovens arrebata o coração de todos com a altura ascendente de suas vozes tão puras. Até os Yn mais jovens se apresentam. Eu escuto de longe, em pé com meu vestido rubi para não amarrotá-lo.

Meu nome é anunciado e meus pés me carregam ao palco. Eu ensaiei. Posso fazer isso por ele esta noite, O piano toca uma introdução tilintante. Entra um violino. Olho para o mar de pessoas que já o amavam quando meu solo o trouxe magicamente para minha vida.

Meus olhos se fecham e eu começo a cantar.

Não leve para longe o seu amor
Não leve para longe o seu toque. Sem seu sorriso, nunca encontrarei A estrela em que você brilha.

Respiro fundo, balanço a cabeça e abro os olhos para a imagem indistinta diante de mim. Inspiro uma grande quantidade de ar antes de entrar no refrão. Não estou neste palco. Não há ninguém assistindo. Somos apenas Henrique e eu.

Quem será o menino que vai curar meu coração?
Quem será o menino que vai alimentar a minha canção?
Onde encontrarei um amigo?
Quem será o menino que vai me salvar?
Quem será o menino que me fará cantar?
Você me fez viver me fez ser quem sou.
Se for embora, leve-me com você, Pegue a minha mão.

Minha voz vacila. Respiro fundo e sinto um toque na palma da mão. Sua mão, sua força, sua paz fluem para dentro de mim outra vez, como na noite em que ele morreu.

Você falou em paz e descanso, De uma alegria que invadiu o seu peito, E então fechou seus olhos preciosos.

Deus o libertou.

Conforme canto, Henry me preenche e promete que nunca me deixará.

Então vou continuar,
Para sempre cantar á sua canção.
Se tenho que viver sem você agora,
Vou amar o melhor que puder,
Mas sussurre quando estiver perto de mim, e estarei em casa.

Vou para a repetição do refrão e enxergo a plateia com nitidez. Estão comigo, lágrimas riscam seus rostos, e eu percebo que também estão à procura. De beleza. De amor. De vida. Encontrei tudo isso quando Henrique segurou minha mão, sorriu e disse: “Você canta para eu dormir”. Eu sei o que é beleza agora, por causa dele. Sei o que é o amor graças a ele. Sei que posso ser forte. Por favor, Deus, ajude-me a ser forte.

A escala muda na ponte, e de alguma forma minha voz se eleva, tomada por uma força que não é minha.

Juntos, meu amor, encontraremos alguém que...
Possa nos ajudar a continuar respirando sem você...

A nota se estende. Agarro-me a ela o máximo que consigo. O mar de estranhos fica embaçado e um rosto emerge.
Ana está aqui, com o rosto cheio de dor, testemunhando o quanto eu amava Henrique. Meus olhos encontram os dela e meu refrão muda.

Você pode ser a menina que vai curar meu coração?

Pode ser a menina que vai alimentar a minha canção?

Por favor, você pode ser minha amiga?

Pode ser o menina que vai me salvar?

Pode ser o menina que me fará cantar?

Pode me ajudar a viver como a pessoa que realmente sou?
Se for embora, leve-me com você, Pegue a minha mão.
Se for embora, leve-me com você, Pegue a minha mão.

A Bela e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora