Até mais

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Quando vejo, uma das mães está na porta, batendo com força.

—Saímos em quinze minutos.

Rolo da cama e entro nas roupas que usamos para viajar — calça de moletom rosa, uma camiseta branca e a blusa de capuz velha e confortável do coro, caso faça frio no avião. Corro para conseguir minha vez no banheiro. Ainda fede a vômito.

— Que nojo, Ana! Ainda teremos muito o que conversa, no caminho de casa.

Faço o que tenho que fazer, escovo os dentes usando a torneira do chuveiro, e deixo o lugar livre para a Gabi. Vou até a cama, pego um elástico e prendo o cabelo. Enfio a camiseta de dormir e os cosméticos na mala. A maquiagem está na bolsa. Posso arrumar o rosto depois. Quem se importa? Vamos tomar café da manhã no ônibus. Fecho o zíper da mala e estou pronta para ir.

Ana está péssima. Arrumo sua mala enquanto Gabi ajuda-a a colocar a roupa.

Manu não sai do banheiro.

Felipa bate à nossa porta.

— Vamos, meninas. O avião não vai esperar.

Amaldiçoo para sempre os voos das oito da manhã para Paris.
Pego minha mala; desisto do elevador, vou arrastando-a, pampam-pam, por três lances de escada. Deixo-a perto do ônibus e volto para buscar a Ana.

E lá está ele. Henrique. Parecendo mais pálido na brisa fresca da manhã, aconchegando-se no blusão de hockey do Ynne, tentando abafar aquela tosse. Está pior. Traz uma rosa cor-de-rosa na mão. Olha para a minha calça.

— Achei que você gostasse de rosa.

Faço uma careta.

— Manuela gosta de rosa.

Ele franze a testa.

— Desculpe.

Pego a flor e cheiro-a.

— Mas adoro isso.

— Eu queria...

— Obrigada.

— Ontem à noite...

— E.

Chegamos perto e damos o último beijo no país das maravilhas.

Ele sussurra:

— Até mais.

Eu o absorvo. Nossos corpos se enroscam e nossos lábios movimentam em harmonia.

Não o solto até o ônibus buzinar.

—Até.

As meninas não param de gritar “óóó” quando subo. Que saco. Todas assistiram àquele momento deliciosamente particular. Dou-me conta de como devo estar horrível. Henrique nem vacilou. Faço uma das meninas mais novas mudar de lugar para poder sentar na janela e vêlo.. Encosto o rosto no vidro e procuro-o.

Ele acena. Tosse. Acena novamente.
Droga. Droga. Droga.
Espero que ele não esteja doente.
Como um croissant nojento com recheio de chocolate embalado em plástico enquanto o ônibus desce a autoestrada suíça. Contorna o lago e passa por alguns vinhedos. As meninas começam a contar quantos lugares parecidos com castelos encontramos pelo caminho.
Inclino-me sobre o fichário de música, prendo a rosa nos anéis e rabisco. Continuo rabiscando no aeroporto de Genebra enquanto esperamos nosso voo, e em todo o trajeto até Paris.

Meu coração é seu E o seu é meu.
Você é o que desejo...
Não vou viver até ter o seu beijo.
Com o seu amor,
Posso mudar meu destino.
Circulo a data
Em que meus novos sonhos ganharão vida.
Você cairá das estrelas.
Felizes para sempre.
Como nas velhas histórias.
Você pode acreditar

A Bela e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora