Capítulo 37

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Sentada, observei Fred brincar com Ruby em um brinquedo de frente a lanchonete, ao meu lado Stevie também fazia o mesmo.

— Se algum dia tiver duvida de que ele gosta da senhorita, apenas pare e pense. Reviva tudo o que passou e verá que ele sempre esteve com a senhorita, desde sua chegada no palácio até a saída. Mesmo que não tenha percebido.

— Tenho medo, Stevie. No momento, só quero viver em paz e voltar ao normal. Vi coisas horríveis e fiz coisas piores ainda, mas me arrependo muito. Quero ter uma família um dia, mas esse dia terá que esperar um pouco, enquanto as coisas se ajeitarem. — digo, brincando com o canudo do copo. Olho para Fred e uma tristeza me invade.

Suspiro por um tempo, mas Stevie percebe.

— O que lhe incomoda tanto?

— Confiança igual vidro.

— Entendo. Dê um tempo para si mesmo. Você sabe o que passou mais que ninguém, você sabe a verdade de sua historia. Então, não se preocupe com o que as pessoas dizem. E em relação à confiança? Com o tempo você aprende em quem deve confiar de verdade.

­— Você é um ótimo conselheiro! Devia cobrar por cada um.

— Para moças bonitas como você é de graça. — Brincou.

Sorrir, sentindo minha auto-estima lá em cima.

Fred estava cansado quando jogou seu corpo pesado na cadeira com Ruby do lado.

— Ela tem muita energia! — disse quase sem ar.

— Normal para uma garota de cinco/seis anos. — Digo.

Naquele dia decidi que seria melhor dormir em um hotel e ir para casa no dia seguinte. Liguei para Laura para avisar e ela me assegurou que tia Liza e todos os outros estavam bem. Meu quarto era bem simples e nada muito caro, só iria dormir uma noite por isso evitei desperdiçar dinheiro. Ruby dormiria comigo no mesmo quarto, enquanto Fred e Stevie dividiriam outro quarto com duas camas de solteiro.

— Hey, eu queria agradecer... — disse Ruby, pulando em cima da cama para debaixo dos lençóis.

­— Não tem o que agradecer meu anjo.

— Tem sim. Você me deu comida! Ninguém nunca quis me dar um pedaço de pão amanhecido.

— Meu deus, você parece gente grande falando assim. Mas olha, não precisa me agradecer, só quero seu bem. E pode ter certeza de que eu faria de tudo por você. — Abracei-la enquanto nos ajeitávamos debaixo dos lençóis.

­­— Obrigada. Você é meu anjo da guarda, minha mãe tem mandou pra me guiar. Como ela disse antes de...

Fez-se um silêncio por um bom tempo, até que percebi que Ruby dormia comas mãos embaixo do rosto.

Endireitei meu corpo e puxei o edredom para mais perto dela para que se esquentasse bem. Ela nunca mais passaria pelo que passou de novo, só se eu não estiver mais aqui para impedir.

No dia seguinte acordei as seis e quarenta e um. Levantei para tomar banho, enquanto Ruby dormia, passei mais ou menos dez minutos no banho para enfim sair do banheiro. A pequena garotinha estava sentada a beira da cama olhando para a sandália que ganhara no dia anterior. Ela estava sonolenta ainda, como se tivesse acordado naquele instante.

— Vamos tomar café? — indago.

Já estava perto das dez horas quando voltei para a casa de tia Liza, desta vez ela estava em casa. A ansiedade não me deixava dar mais um passo em direção a porta, talvez eu estivesse com medo da minha nova realidade (a realidade de sempre). Ruby deu três batidas na porta e foi para trás de mim. Ouvi passos presunçosos de dentro de casa.

A filha da rainha (HIATOS)Onde histórias criam vida. Descubra agora