I've been a bad, bad girl
I've been careless with a delicate man
And it's a sad, sad world
When a girl will break a boy just because she can("Criminal", Fiona Apple)
– Jungkook-ssi – chamei baixo, a mão inerte próxima a seu ombro, mas sem tocá-lo. – Jungkook-ssi.
Ele sequer se mexeu. Pressionei de leve seu ombro com a pontinha dos dedos. Foi então que ele começou a despertar aos poucos, o corpo parecia tão esgotado que qualquer micro movimento demandava esforço. Reparei em seus dígitos da mão esquerda. Havia marcas avermelhadas, os vergões quase imperceptíveis das cordas do violino.
– Desculpa – foi sua primeira palavra quando recuperou a consciência, a voz pastosa e os olhos apertados. – Tenho uma prova importante amanhã e, como a senhoria estava fora, acabei praticando na sala mesmo...
– Não precisa pedir desculpa. Não me incomodo que fique aí... Mas não parece muito confortável pra dormir.
Ele esboçou um sorriso. Meu coração deu um pulo no peito.
– Tem razão – passou a mão pelos cabelos para assentá-los, mas acabou por bagunçá-los mais. – Vou pro meu quarto.
– Fica à vontade, Jungkook-ssi.
Nessa hora, reparei que o olhar dele não parava de fugir dos meus olhos, escapando um pouco mais pra baixo. Lembrei que estava usando uma blusa decotada por conta do calor que fazia naquele dia.
– Boa noite, senhoria – ele pareceu subitamente constrangido. Levantou em um pulo, catou o violino e o arco e foi para dentro.
Fiquei parada no meio da sala, impressionada com o quão bagunçada ele tinha me deixado por tão pouco. Eu, do alto dos meus 34 anos, desestabilizada por um moleque de 21 que nada tinha feito além de adormecer sem querer na minha sala.
***
Mais tarde, já deitada (porém longe de conseguir pegar no sono), comecei a ouvir uns barulhos pela casa. Porta de geladeira abrindo, vidro tilintando, água correndo, gavetas sendo mexidas.
Encontrei Jungkook sentado à mesa da cozinha, um copo d'água à sua frente e uma cartela de aspirina logo ao lado.
– Não consigo dormir – disse, como se me devesse alguma justificativa. – Acho que tô com febre. Logo na véspera dessa prova...
Me aproximei dele e, sem pensar, pousei a mão em sua testa.
– Não tá muito quente... Espera, vou procurar um termômetro.
Sem que eu esperasse, Jungkook segurou minha mão, impedindo que me afastasse. Desceu-a até seu pescoço.
– Aqui. Aqui é onde tá mais quente.
Queria ter respondido alguma coisa mas o medo de gaguejar me impediu. Sua pele queimava sob meus dedos. Reparei que nas pontas de seus cabelos se acumulavam algumas gotinhas de suor, e que havia um rubor despontando em seu rosto.
– Tá pelando, Jungkook-ssi – retirei a mão depressa. – Quer que eu te leve pro hospital?
– Não precisa tanto, noona – seus olhos se arregalaram à menção da palavra. Os meus também. Era a primeira vez que ele me chamava daquela maneira. – Desculpa.
– Não tem problema...
Problema não tinha. O risco que corria caso ele continuasse me chamando de noona era a minha pele começar a queimar feito a dele e não haveria aspirina ou hospital que desse jeito.
De repente a casa escura me pareceu ainda mais sombria. Eu não me reconhecia mais. Desejei tocar seus lábios corados pela febre, senti-los ardendo no meu corpo, minha mãos passeando por onde podia estar ainda mais quente...
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Good Boy
FanfictionUma escritora reclusa aluga um quarto em seu apartamento para o universitário e violinista Jeon Jungkook. O rapaz, quieto e tímido, parece a companhia ideal para a mulher introvertida e inteiramente dedicada ao trabalho. Contudo, a convivência entre...