Há exatamente três meses eu vivia um tormento noturno. Como se já não bastasse está desempregada e com um coração fodido, ainda tinha aquele maníaco tarado do meu vizinho que parecia ter o Sex Appeal do mundo em suas calças. A cada noite eu me via acordada ouvindo os gemidos e a infernal batida da cama na parede que dividia os nossos apartamentos. Um inferno de orgasmos múltiplos!
Aí você pode estar se perguntando o porquê não ter tomado providências junto a síndica sobre essa constante zona de sexo ao lado. E eu te afirmo que foi a primeira coisa que fiz, mas para meu espanto ouvi uma sonora gargalhada que foi seguida de um conselho nada sutil: se preocupe com sua vida e deixe que os outros transem em paz! É mole?
Nunca fui uma mulher que se incomodasse com que os outros faziam de suas vidas e com quem levavam para a cama. Já tive minha cota de aventuras e confesso que tenho uma mente bem aberta para relacionamentos e formas de prazer, mas aquilo não era normal. Cogitei até a hipótese de ser loucura da minha cabeça. Ultimamente não posso dizer que sou uma pessoa com equilíbrio. Os últimos acontecimentos na minha vida me tiraram do eixo. Depois que peguei meu digníssimo noivo safado com a cara enfiada no meio das pernas de sua secretária e por consequência tive que ouvir dele que a culpa era minha por ser frígida e não lhe dá pleno prazer, me tornei uma bagunça total.
Para completar seu golpe de misericórdia, ainda fui demitida. Afinal a gênia aqui era a noiva do dono da editora onde trabalhava. Agora eu estava com um chifre enorme, desempregada e ouvindo os gemidos de prazer dos outros. Devo ter sido uma pessoa muito má na encarnação passada.
Mas hoje acordei decidida a confrontar o tarado. Nunca tinha visto seu rosto. O que conhecia dele era somente o seu cheiro que ficava impregnado no elevador todas as manhãs. Ouvi a senhora do 702 comentar que ele era um verdadeiro deus grego. Acredita que a velhinha até se abanou passando essa informação para a amiga da hidroginástica? Deus grego ou a cara da fome, ele iria ouvir poucas e boas hoje. Ah se ia! Estava de prontidão na minha porta desde que o dia clareou.
xxx: Bom dia ,Pérola! - o Sr. Antenor, meu vizinho da frente me cumprimentou ao sair de seu apartamento.
Pérola: Bom dia! - tentei sorrir. Afinal o pobre homem não tinha culpa da libido do outro. - Como está a D. Heloísa? - perguntei por sua esposa hipocondríaca. Aquela devia ter casado com o dono da farmácia ou pelo menos com o maqueiro do hospital.
Antenor: Amanheceu com uma enxaqueca. - falou preocupado - Estou indo à farmácia comprar o medicamento que o médico receitou. Não sei onde iremos parar com os preços desses remédios! - se lamentou e tive vontade de lhe dizer que o problema não era o preço dos remédios, e sim a doida da mulher que tomava até remédio de cavalo para as doenças que cismava que tinha. - Para um aposentado fica impossível ter saúde.
Pérola: O senhor já tentou meditação? - ele me olhou como se eu tivesse duas cabeças brigando em cima de meu pescoço. - Falei bobagem, né? Desculpa, mas é que não tenho dormido muito bem ultimamente.
Antenor: E o Davi? - perguntou pelo traidor e tive vontade de vomitar. - Nunca mais o vi por aqui.
Pérola: Morreu. - o pobre homem arregalou os olhos e colocou a mão no peito assustado. - Foi atropelado por um jumento. Fatal!
Antenor: Meu Deus! A vida é um sopro! - se lamentou - Um rapaz tão novo morrer dessa forma...
Pérola: Fatalidades da vida. - falei fingindo uma tristeza. - O que conforta é que o jumento está bem. Peguei até um apreço pelo animal, acredita?
Antenor: Qualquer coisa que precisar... - assenti agradecida e quase perguntei se ele não teria uma arma carregada para me ajudar a resolver o problema com o taradão ao lado. - Vou comprar esse remédio antes que Heloísa piore dessa dor.
Pérola: Obrigada e melhoras para D. Heloísa.- o homem foi em direção ao elevador e logo entrou nele.
Já estava impaciente a espera do taradão quando ouvi a porta ser destrancada. Afiei a língua pronta pra proferir os desaforos quando ele saiu do apartamento e tudo que consegui fazer foi ficar sem palavras. O homem não era simplesmente um deus grego. Era o próprio Olimpo em sua glória. Todos os sinais de alerta estavam ali: lindo, gosto, cheiroso, olhar dominante e capaz de fazer uma mulher gozar a noite toda só com aquele sorriso de canto sacana. O que eu fiz? Praticamente entrei correndo em meu apartamento. Fugir daquele homem era o mais prudente a fazer. Eu tinha uma vaga ideia do que um homem como aquele era capaz de despertar em uma mulher e não iria testar até que ponto eu era imune.