Capítulo 05

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Márcio



Depois daquele beijo no restaurante minha vida entrou em um verdadeiro espiral. Pensamentos confusos povoaram minha mente e a concentração que tanto me orgulhava em ter, virou coisa rara. Fome? Sono? Tudo se misturava. A verdade é que fiz por brincadeira. Fiz para me divertir com a cara do babaca que estava todo cheio de si a minha frente, mas acabei me ferrando muito com isso. 

Pela primeira vez em anos dispensei as fodas casuais e preferi o silêncio como companhia. Nem me reconhecia mais a cada vez que saia de meu apartamento praticamente dançando balé, somente para não correr o risco de encontrá-la. Aquela mulher piscava encrenca e eu já tinha as minhas próprias para me preocupar.

Cinco dias já tinham se passado e meu plano de não cruzar com ele estava, eu disse estava sendo bem sucedido. Até que aquele encontro na portaria do prédio colocou tudo a prova. Tinha acordado atrasado, depois de conseguir pegar no sono já com o dia clareando e praticamente estava correndo quando a vi. Ela e a amiga que apareceu no restaurante entravam no prédio em meio à risadas. Pelas roupas deveriam estar vindo da academia ou até mesmo de uma caminhada matinal. Tentei fingir cegueira crônica, mas não tinha como me fingir de surdo também depois que meu nome ecoou como um alarme. A amiga louca, que lembrei se chamar Carol não estava disposta a me livrar dessa.

Carol: MÁRCIO! - até o pobre do porteiro se assustou - Que bom encontrar você. - minha vizinha parecia querer abrir um abismo diante dos pés e pular. - Topa uma saída hoje a noite? 

Márcio: Bom dia! - decidi cumprimentar primeiro, assim ganharia tempo para arranjar uma desculpa.

Pérola: Bom dia. - sua voz foi quase um sopro sem vida.

Carol: Bom que o dia está maravilhoso pra todo mundo, né? - essa criatura não tinha noção do que estava fazendo. - E então, topa?

Márcio: Infelizmente não vou poder. - falei tentando parecer realmente triste por negar. - Tem um jantar com um cliente e depois cama.

Carol: Com o cliente?

Márcio: Oi? 

Pérola: Pelo amor do Pai, Carol! - ela estava totalmente envergonhada com as loucuras da amiga. - A Carol tomou muito sol na cabeça, Márcio.

Carol: Ah, para né, Pérola! Quero só saber se o fator cama envolve o cliente, afinal seria um desperdício para o mundo. Se bem que pelo que você me contou, os gemidos são de mulheres, né? - não me aguentei e gargalhei para desespero da minha vizinha que estava roxa de vergonha.

Márcio: O jantar é com o cliente, mas a cama hoje será solitária mesmo. E só pra constar: nada contra, mas pau só o meu mesmo.

Carol: Obrigada santinha das promessas. - ergueu as mãos em sinal de agradecimento. - As periquitas necessitadas agradecem a benção.

Pérola: Vamos pelo amor de Deus, Carol. O Márcio deve ter coisa mais importante pra fazer do que ouvir suas loucuras. - falou tentando arrastar a amiga que nem se moveu.

Carol: Vamos comemorar minha promoção hoje e se por acaso sua cama ficar grande demais, aparece lá. Garanto que não irá nem lembrar o que é cansaço. Me passa teu número e te mando a localização. - não tive como sair dessa e entreguei a alma ao diabo loiro a minha frente.

Depois de falar mais algumas loucuras, Carol finalmente se despediu e saiu em direção ao elevador na maior cantoria, enquanto Pérola parecia querer matar a amiga.

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