Capítulo 04

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Pérola


Não tem criatura no mundo que me faça acreditar que aquilo foi só um beijo. Estava mais para sexo fodástico com direito a chicotinho e eu implorando para ser amarrada. Agora eu sei o que J. K. Rowling quis fazer com os dementadores. Aquele homem sugou minha alma e o pior é que eu queria mais. Quando paramos o beijo, a contragosto de minha parte, confesso - fiquei imaginando o que mais aquela língua pecadora era capaz de fazer. Tive que comprimir as coxas porque por pouco não gemi. E tudo só piorou quando o encapetado gostoso sussurrou no meu ouvido, não dando a mínima importância para as duas múmias que nos olhavam com cara de espanto.

Márcio: Está me devendo uma, vizinha. - a voz rouca do homem me fez hiperventilar. E para completar a cena Carol estava parada nos olhando com um sorriso que mostrava todos os dentes que tinha na boca.

Carol: U A U ! Isso que é ser atropelada por uma Ferrari e nem ter tempo de anotar a placa. - desembestou a falar enquanto vi Davi a olhando com escárnio. - Que cara é essa amiga? Tá recebendo santo? Entidade? Tá invocando o quê?

Sheila: E essa é quem? - nem tive tempo de responder, porque Carol já veio passando por cima da vaca.

Carol: Alguém que você com certeza não vai querer conhecer. - olhou para Davi e Márcio parecia se divertir com o circo que se armava. - Olá, Davi? Veio aqui assumir uma postura de homem e pagar o que deve ou pedir um desconto.

Davi: Acho melhor irmos. - não respondeu Carol e saiu praticamente voando com a esquelética ao seu lado.

Carol: Agora podem me explicar a cena que presenciei? - nos olhava curiosa. - Podem pular a parte em que um engolia a boca do outro, pois isso ficou bem claro.  - nesse momento o garçom resolveu se juntar a nós. - Ô meu anjo, me traz um tarja preta e um copo com água.

Garçom: Perdão?

Carol: Ah! Se tiver rivotril, Sertralina ou Fluoxetina também serve. Preciso acalmar os nervos.

Márcio: Desculpa. - gargalhou para em seguida falar - Pode trazer somente a água por enquanto. - o homem saiu tão rápido que desconfio que ele preferiria ter visto o capeta do que ouvir as loucuras da minha amiga. - Vamos sentar?

Carol: Você engoliu a língua dela com a quele beijo?

Pérola: Carolina Marques!

Carol: Graças a Deus! - falou dramaticamente levantando aos mãos para o alto.

Pérola: O Márcio só me ajudou com o Davi.

Carol: Sabe, Márcio... - disse batendo os cílios. - Tô tão precisada de ajuda...

Márcio: Gostei de você. - o descarado estava adorando tudo aquilo e o pior é que eu não podia ser grosseira com ele depois do que ele fez por mim. Mesmo que preferisse apenas tivesse agido como uma pessoa normal. Mentira! 

Carol: Agora que já provamos que nessa mesa só tem amor, que tal me contarem de onde se conhecem e o que foi que perdi enquanto dormia?

Pérola: Davi sendo Davi.

Márcio: Sinto em ter que deixar vocês, mas meu amigo acaba de chegar. - Logo a nossa frente um moreno lindo acenou para ele. - Mas tenho certeza que outras oportunidades virão. Adorei conhecer você, Carol. - a vadia da minha amiga olhava encantada pra ele. - E você, vizinha. - falou olhando diretamente para meus olhos. - Não esqueça que sou um cara que cumpre promessas e sempre cobro dívidas.  saiu me deixando de boca aberta com o descaramento.

Pérola: Eu posso explicar... - murmurei vendo uma Carol prestes a fazer uma inquisição.

Carol: Claro que pode! Vamos lá! Arrasa na explicação que estou louca pra saber. - comecei contando a minha conversa com o advogado e tudo o que aconteceu após sair de seu escritório. Contei todos os detalhes tentando ganhar tempo até chegar ao episódio presenciado por ela . Carol me olhava como se estivesse ouvindo uma história inventada. Não me parou nenhuma vez. O que era estranho se tratando dela.

Pérola: Então o gostosão que você viu acabou me ajudando . - terminei meu diário de bordo quase sem fôlego.

Carol: Gostosão é? 

Pérola: Ei, eu não falei gostosão. - protestei

Carol: Falou sim! 

Pérola: Ele nem é tudo isso...

Carol: Porra, amiga! - falou alto atraindo a atenção dele e do amigo que estavam algumas mesas distantes da nossa. - De onde saiu esse homem?

Pérola: O apartamento vizinho ao meu, já disse.

Carol: Não perguntei seu endereço residencial, sua sonsa.

Pérola: E eu lá quero saber de onde ele saiu.

Carol: Quer saber onde ele vai entrar, né? - começou a rir.  Tentei manter a pose séria e durona, mas é impossível perto dessa maluca. - Eu nunca vi isso! Como que um homem pode ter um rosto tão fofo e delicado, mas ao mesmo tempo tão másculo e hipnotizante? Sem falar do corpo que parece uma escultura. Será que tem pinto pequeno? - a maluca achou de falar isso no exato momento que o garçom retornou trazendo nossa água. O pobre homem quase deixou a bandeja cair e mal colocou os copos na mesa, saiu como um raio.

Pérola: Você não tem filtro, mesmo. - meneei a cabeça em negação.

Carol: E você tem cara de pau de sobra. Fica aí com essa armadura desenxabida como se não tivesse sido afetada pelo boy, mas bem sei que gostou da pegada.  Reclama de mim, mas é mais adiantada que eu. Agora quero saber é do pinto do Márcio! 

Pérola: Não preciso ouvir isso. - tapei os ouvidos. - Tenho direitos e isso está na constituição.

Carol: Deve ser da cor do danoninho. - ela acreditava mesmo no que dizia

Pérola: Danoninho? Sério?

Carol: Rosinha, gostosinho, quanto mais você põe na boca, mas vontade dá de comer. - depois dessa nem que fosse a pessoa mais centrada conseguiria ficar sem rir. Minha amiga não tem limites em suas loucuras, mas o que posso fazer se sem ela minha vida não teria graça?

Pérola: Agora falando sério, como vou olhar para esse homem depois disso? Você tem ideia do que é ouvir esse tarado todo madrugada? Ele é um libertino, cara de pau, tarado! 

Carol: Aham... Você realmente pensa que vou acreditar nessa sua raiva depois do que vi? - ela me lançou um olhar sinuoso que tinha algo por trás. - Ela faz a cobra subir, a cobra subir, a cobra subir...

Pérola: Vamos pedir algo para comer. - decidi olhando a procura do garçom - Assim você entope esse poço de loucura que chama de boca e me deixa sossegada.

Carol: Ah, Pérola minha amiga, você engana o papa, mas não me engana!

Pérola: Então é isso que pensa de mim? Estou chocada! - finjo uma indignação.

Carol: Amiga, voc~e se livrou de um traste. Está livre! Agora sim voc~e pode viver sem aquele pinto mole te colocando pra baixo. Explorar sua vida, sua sexualidade, se encantar por tudo e por todos, meu amor. Apareceu um vizinho gato, limpinho, cheirosinho, danoninho, minha filha. Aproveita. E se for apenas uma foda, pelo menos você gozou. Quem sai perdendo? Ninguém! - ela diz como ponto final da discussão. É como dizem... contra fatos, não há argumentos.


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