Pérola
Acordei revigorada para a batalha que estava se iniciando. Agora sabia o quão baixo um ser humano medíocre como meu ex poderia descer. Decência era algo que tinha sido riscado do seu caráter e penso agora que os sinais sempre estiveram a um palmo do meu nariz, e eu cega não quis ver. Davi tinha uma pose arrogante que confundi com apenas um jeito de se posicionar diante das coisas. Eram comentários maldosos que fingi entender como apenas bobagens que costumamos falar sem se dar conta.
Durante nosso relacionamento fui deixando de lado uma parte de mim. Interpretei seu controle como cuidado e a maneira como sempre se desfazia de algo que eu conquistava, como ciúmes de um homem apaixonado. E isso era o que mais me atormentava agora. A lembrança das vezes que ele me diminuiu e eu permiti me causam raiva. Não dele, mais de mim. Na minha cabeça toda aquela necessidade de se mostrar superior era apenas insegurança de um homem que lutou para se fazer praticamente do nada. Idiota! Agora sei o quando fui uma completa idiota.
Carol sempre tentou me alertar para o que acontecia, mas como ela e Davi nunca pareceram se entender eu não ouvi. Para mim era uma implicância apenas. Ficava até chateada quando ela me dizia que não me reconhecia mais. Que eu estava me tornando uma seguidora fanática de tudo o que Davi dizia que era o certo para mim. Olhando agora friamente para todas as mudanças que ao longo do relacionamento ocorreram comigo, noto que estava em um relacionamento abusivo, aonde aos poucos fui me perdendo pelo caminho.
Quando comecei a namorar Davi eu almejava tantas coisas para minha vida e fui deixando tudo de lado apenas para agradá-lo. A culpa era somente minha e isso me irritava mais ainda. Tinha sido criada para ser uma mulher independente. Segura em não me contentar com nada que não fosse suficiente ou me fizesse feliz. Agora eu me sentia somente uma sombra de um homem mesquinho.
Agora seria diferente. Essa Pérola que estava vendo diante do reflexo do espelho não se deixaria dominar por mais nenhum homem. Eu me bastava e iria conquistar o meu lugar ao sol, como sempre quis. Ia começar tirando do meu armário aquelas roupas de vovó que Davi dizia que ficavam lindas em mim. Aquele cretino tinha me modificado até na maneira de vestir.
Pérola: Hoje começa realmente a minha vida. Homem nenhum vai me modificar novamente. - falei alto para que até as paredes fossem testemunhas da minha promessa.
(...)
Carol tinha me convidado para almoçar com ela em seu restaurante preferido. Segundo a minha amiga, Roberto estava prestes a fazer o pedido. Ela estava quase pirando com essa possibilidade. Não sei como ela colocou isso na cabeça, já que não soube me explicar o porquê dessa suspeita, quase certeza como disse. E somente por esse motivo é que eu ainda a estava esperando naquele restaurante. minha amiga estava praticamente uma hora atrasada e se eu continuasse a beber suco a sua espera, iria acabar com as laranjas daquele local.
Já estava prestes a chamar o garçom e pedir a conta quando meus olhos travaram no casal que adentrou o local. Paralisei diante da cena grotesca a minha frente. Davi tinha o braço enlaçado na cintura da paquita vadia que ria chamando a atenção das pessoas. Para quem sempre foi tão exigente com o meu comportamento em público, ele até que estava gostando do show da sariema oxigenada.
Por mais que eu soubesse que o melhor era ir embora, minha diabinha interior falou mais alto. E foi nessa hora que os olhos de Davi cravaram nos meus e vi seu sorriso debochado despontar. Ali tive a certeza que não acabaria bem aquele encontro e não seria eu a perdedora do dia.