Demorei para reconhecer o local, pois parecia que não o via vaziam séculos, mas não, eu apenas quis apagar que já tinha estado lá, morado lá, por que doía demais lembrar que aquilo não me pertencia mais. Tudo parecia estar lá, mas algumas casas não eram mais as mesmas, e as pessoas de minha infância não estavam mais lá, só haviam fantasmas, lembranças existentes agora somente em minha memória.
Eu me lembro de estar de pé no início dessa rua, agora totalmente iluminada, de esquina a esquina, brilhos fortes e com cores brilhantes, como luzes de natal. Andando por essa rua, haviam desenhos pintados nas calçadas, nas ruas e casas, desenhos familiares que passavam na televisão quando eu era criança. Mas essas luzes faziam com que os desenhos criassem vida, uma linda ilusão de movimento tomava conta da cidade, como uma homenagem à infância.
Olhando para o céu, podia-se ver um projetor, fazendo com que aquele lindo espetáculo reluzente tomasse conta de cada pedacinho daquela cidade, deixando cada vez mais bonito de se ver. O pensamento que estava me ocorrendo era como conseguiram fazer com que tal coisa funcionasse, tão grande, bonita e criativa daquela forma, mas a cada centímetro de luz que encontrava pela frente, cada desenho que eu via tomando vida na frente de meus olhos, aquele pensamento se dissipava aos poucos.
Passei a noite percorrendo aquela cidade, cada desenho cintilante e animado me fez sentir aquela incrível nostalgia de quando o mundo se movia, o movimento que só você podia ver, quando o chão entre os sofás se tornava um penhasco e você um equilibrista tentando atravessar, e se caísse, podia voar.
No fim daquele lugar luminoso, sentada em meu quarto observando o nascer do sol, ouço o tocar de meu despertador, fazendo com que cada holograma criado desaparecesse, me tirando daquela incrível fantasia noturna. Agora de pé, são cinco da manhã, desligando o som de meu celular e juntamente com a vaga lembrança dos lugares incríveis em que minha mente esteve esta madrugada, me despeço...