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Escuto o despertador tocar e o desligo. Mais um dia cansativo e cheio de tarefas, mas me levando com prazer, me sinto feliz em ter um teto sobre a cabeça.
Vou até o banheiro que fica no meu quarto, é simples e com uma janela pequena que está quebrada, em dias frios o vento castiga, mas hoje estou com sorte está uma temperatura muito agradável.
Depois de me vestir vou até a cozinha para começar a preparar o café da manhã, quando fica pronto aguardo até que todos acordem. Aqui é assim desde que cheguei, não posso tocar na comida até que todos já tenham comido, antes me importava e até me sentia triste mas agora já acostumei. Faz seis anos que fugi do orfanato onde morava e os Ferrier me acolheram como empregada.

""Quando saí correndo do orfanato não conseguia pensar em nada, as coisas que presenciei, minhas mãos sujas de sangue faziam meu estômago se revirar, passei dois dias andando sem rumo pela floresta até que encontrei uma bela casa, não sabia se sentia alívio ou medo, e se descobrissem oque tinha acontecido? Vão por a culpa em mim, eu vou ser presa, me aproximo devagar e quando vejo um homem sair da casa meu coração dispara, me escondo atrás de um arbusto e rezo para que ele não me veja, quando ele já sumiu de vista vou até a casa, talvez eu consiga um pouco de comida.

- Oque você pensa que está fazendo aqui garotinha?

Dou um pulo com o susto, o homem esta agora na minha frente, o medo que ele tente fazer o mesmo que aquele porco fez não me deixa responder.

- Eu perguntei oque você está fazendo aqui! Quer que eu chame a polícia ?

Ele pergunta já ficando nervoso, tudo que faço é negar com a cabeça, o mesmo fica me olhando por um momento, parece estar pensando.

- Você pode ser útil aqui, não parece ter coragem suficiente para roubar algo. Tenho uma proposta a fazer, você tem quantos anos menina?

Kaila- Onze.

Respondo ainda com medo, não sei oque esse homem quer.

- Você pode morar aqui, desde que seja nossa empregada, as moças mais jovens não trabalham por menos de um salário e as senhoras não servem para muita coisa, seu único pagamento será à moradia e comida, mas você terá que fazer tudo sozinha.

Não sei oque responder, porque ele seria bom assim comigo? As últimas coisas pelo que passei me ensinaram que não devo confiar em alguém assim, mas então eu à vejo, parece um anjo com belos cabelos loiros e um vestido branco que balança com o vento, ela chega perto do homem e os dois conversam baixo, depois ela se vira para mim sorrindo.

- Desculpe se meu marido foi grosseiro, o Henrique é assim mesmo, eu sou a senhora Delaila, quer fazer parte dessa família querida?

Senti um quentinho no peito, não podia me imaginar tendo uma família e agora eu podia ter uma mãe bonita como ela, dei um sorriso discreto e concordo, mal sabia eu que as coisas mudariam drasticamente.""

O primeiro a chegar a mesa é o senhor Henrique Ferrier, sempre muito elegante, está manhã usa um terno escuro e os cabelos pretos delicadamente arrumados.

Sr. Ferrier- Bom dia.

Kaila- Bom dia senhor.

Não se passa muito tempo e sua esposa chega, senhora Delaila Ferrier, usando um vestido azul tão escuro quanto seus olhos, tem belos cabelos loiros na altura dos ombros e corpo muito bonito para uma senhora de 40 anos.
Assim que a vi, me senti uma mendiga, estou usando uma calça jeans esfarrapada, regata branca e uma sapatilha que tenho a muitos anos. Os cabelos nem se comparam, tenho cabelos negros compridos, a pele palida e os olhos verdes, a unica coisa que me trás algum atrativo, meu corpo até que é razoável, mas não tenho curvas como a senhora Delaila.

Sra. Delaila- Bom dia meu amor.

Diz dando um beijo na bochecha do senhor Ferrier e se sentando para começar o café, me ignora totalmente.
Fico parada, somente esperando receber alguma ordem, quando levanto o olhar da mesa vejo vindo os filhos do senhor e da senhora Ferrier, Gadriel e Beatriz.
Gadriel é um garoto bonito, com seus 19 anos cabelos loiros como a mãe e olhos castanhos como os do pai e pele clara, tem o porte físico de um atleta e seria realmente um bom partido se não fosse tão mesquinho e gostasse tanto de humilhar as pessoas. A Beatriz é o contrário do irmão a pele um pouco mais morena, cabelos negros que descem em cascata até a cintura, olhos azuis e boca carnuda, tem 17 anos e é muito metida e maldosa.
A única coisa que os dois tem em comum é a incrível vontade de transformar a minha vida em um inferno.

Gadriel- Bom dia familia.

Beatriz- Bom dia.

Os pais dão um sorriso à eles e voltam a comer. Estão conversando sobre a escola, amigos e como vai ser incrível a festa de 18 anos da Beatriz daqui alguns meses. Eu fico parada olhando pra eles e imaginando como seria bom poder fazer parte daquilo, fazer parte realmente dessa família.
Assim que terminam o café, se levantam da mesa e vão para seus respectivos lugares.
Senhor Ferrier vai até sua empresa de eletrônicos acompanhado do filho que está se preparando para começar a fazer uma faculdade de administração e um dia poder tomar conta de todo o dinheiro dos seus pais, a senhora Delaila também trabalha, ela tem uma empresa que providencia viagens, está agora com filiais espalhadas por todo o país.
Beatriz por enquanto é a que tem a vida mais fácil, só estuda, e infelizmente na mesma escola que eu, pelo menos nisso os Ferrier foram bons comigo, estudo em uma ótima escola.

Tomo meu café o mais rápido possível e arrumo a mesa. Subo até meu quarto que fica no sótão da casa de dois andares e com três quartos sobrando. Irônico não?
É um lugar confortável, quando cheguei aqui estava sujo e cheio de entulho mas reformei tudo, tenho uma velha cama de solteiro que era do Gadriel, uma estante que achei jogada no quintal e eu mesma a pintei e deixei quase nova, ela tem muitos livros que ganhei do senhor Potter uma pessoa muito importante e dono da única biblioteca que temos por aqui.
Visto meu uniforme que é uma blusa azul escuro com duas linhas brancas na vertical no lado esquerdo e o nome da escola do lado direito acima do meu seio, pego a mochila e saio as pressas.
Tenho que andar 10 quilômetros até chegar na escola particular que frequento.
Subo na minha bicicleta e começo o trajeto.

Moramos em uma vila um pouco afastada da cidade grande, o senhor Ferrier diz que prefere a calma de morar nesta vila do que ficar a todo momento na cidade mesmo isso lhe rendendo o trabalho de ir de carro até lá todos os dias para trabalhar. A casa deles é uma bela construção com ar rústico, ela fica no topo de uma colina, atrás da casa tem uma grande floresta e logo abaixo da colina depois dos grandes portões que separa os senhores Ferrier do resto das pessoas está a vila.

Estou andando despreocupada, pensando na vida, quando ouço alguém gritar. Olho para trás e vejo uma pessoa tentando me alcançar, tento ir mais rápido mas logo ele está ao meu lado.

- Pensou que ia fugir de mim?

Fala com uma voz assustadora.

Kaila- Bem que eu queria seu idiota.

Sorrio com ternura para Connor. Ele viveu comigo por um tempo no orfanato enquanto ainda aceitavam meninos por lá, sempre me ajudou e me defendia das meninas maiores. Mais aí as freiras que cuidavam do lugar se mudaram deixando ele nas mãos de um homem que se dizia padre, e os meninos tiveram que ir para um orfanato só para eles, foi ai que meu pesadelo começou. Ele se chama Connor Mackenzie e o fato de termos o sobrenome igual faz muitas pessoas acharem que somos irmãos.

Connor- Não diga isso, eu sei que você não viveria sem mim.

Diz ele se gabando. Connor tem os cabelos ruivos, pele clara e com sardas, olhos negros como a noite, um grande sorriso e covinhas na bochecha.

Kaila- Quem te disse isso?Está muito enganado viu.

Connor- Não precisa esconder seu amor minha querida Kaila, só sinto muito te magoar, mas não posso me casar com você.

Ele diz isso e começa a rir como um doido quase caindo da bicicleta, ele tem a mesma idade que eu mas parece ser uma criança as vezes.
Vamos conversando sobre a festa que vai ter na vila, uma festa que temos todos os anos, para comemorar o solstício de inverno. Estavamos tão entretidos que nem percebemos quando chegamos na cidade, estar com ele me faz lembrar do dia que voltamos a nos encontrar.

A Herdeira da Luz. ( Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora