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Quando bato no chão do porão ela diz:

Sra. Delaila- Você vai ficar ai até aprender que deve respeitar os horários da casa, oque eu digo deve ser ouvido!

Tento protestar mas minhas costelas estão doendo muito, tenho medo de ter quebrado algo, a única coisa que consigo fazer é soltar um gemido e tentar me arrastar até a escada mas ela já fechou a porta.
Sento e me encosto na parede, meu corpo todo dói, respiro com dificuldade e tudo fica escuro.

Estou novamente naquele templo, aqui me sinto calma e nenhuma dor me incomoda, olho ao redor pensando se devo ir até a biblioteca e ver se a mulher continua lá mas escuto uma risada vindo de outro lugar.
Começo a caminhar na direção da risada, passo por um corredor e dou de cara com um lugar lindo, é um campo aberto, cheio de flores, as nuves estão por todos os lados e me pergunto como pode ter flores e grama se estamos flutuando, vejo mais à frente a mulher dos cabelos brancos, ela está de costas para mim, e tenho um sobressalto quando percebo que ela esta conversado com o lobo, aquele lobo da floresta, ele olha diretamente pra ela, ainda brilha como se fosse algo sobrenatural, seus pelos tão brancos refletem a claridade que tem aqui.
Percebem que estou observando e a mulher se vira para mim com um sorriso doce no rosto, já o lobo me fita com intensidade, os olhos azuis pareciam dizer algo mas não entendo oque.

Quando penso em falar com eles e me aproximar mais, a imagem vai sumindo aos poucos e acordo assustada.

Kaila- De novo sonhando com essa mulher.

Murmuro baixinho. Percebo que as dores diminuiram um pouco, olho ao redor, o porão é muito escuro, só tem uma janelinha bem pequena, com prateleiras em todas as paredes, estão cheias de coisas, como ferramentas, brinquedos velhos,cadernos usados e muito mais, também tem várias caixas num canto no chão, tento me levantar e com muito esforço consigo, vou caminhando até a porta, só que como pensei está trancada, bufo em frustração, volto a descer a escada e me sento novamente, minha barriga ronca alto, também não jantei, olho pela janelinha e está começando a clarear, o povo da casa deve estar dormindo tranquilamente ainda.
Depois de um bom tempo, e de ter procurado algo para comer já estou a ponto de chorar, gritei muito mas não obtive resposta, não deve ter ninguém em casa.

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As horas passam lentamente, está anoitecendo e ouço barulhos na casa, a familia Ferrier deve ter chegado, sinto pequenas tonturas por conta do tempo sem comer. Quando estou quase dormindo no chão escuto o barulho da porta sendo destrancada, vejo a senhora Delaila e me sento um pouco encolhida, ela desce a escada e vem até mim, se agacha e fala:

Sra. Delaila- Espero que você tenha aprendido ratinha, nunca mais desobedeça as regras da casa! Nós te escolhemos mesmo sendo uma órfão inútil, seja grata com oque tem, com a família que tem!

Não aguento isso e digo irônica.

Kaila- Bela família em.

A senhora Delaila me olha nervosa e da um forte tapa na minha cara, depois saí do porão deixando a porta aberta. O tapa arde muito e sinto uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, mas não ligo para isso, a fome que estou sentindo faz com que me levante e vá até a cozinha.
A casa está silenciosa, acho que todos foram se deitar, a senhora Delaila também deve ter ido para o quarto, chego na cozinha e vejo que esta tudo uma bagunça, muitas vasilhas sujas, no chão tem comida espalhada, na sala de jantar os pratos ainda estão todos lá, nunca vi as coisas tão bagunçadas assim, parece que juntou a sujeira desde o café da manhã até a janta.
Suspiro cansada.

Kaila-Pelo jeito o castigo ainda não acabou.

Antes de limpar toda a bagunça começo a preparar algo para comer.
Quando termino de me alimentar e limpar a cozinha já são três horas da manhã, vou em direção do meu quarto para tomar um banho e depois dormir, tenho que ir na escola pois já faltei ontem, tomo meu banho frio e rápido porque a está hora da manhã fica difícil encarar a água gelada, visto minha roupa de dormir, uma calça moletom preta e uma blusa verde com desenhos de estrelas. Deito-me na cama e logo já estou dormindo.

Lá estou eu novamente o mesmo templo acima das nuvens, estou usando um vestido muito bonito com bordados pretos, estava meio distraída olhando para ele que não reparei na mulher que chegava perto de mim.

- Você está muito linda minha luz.

Tomo um pequeno susto quando escuto sua voz, mas logo me tranquilizo por ver quem era, não entendo o motivo, mas essa mulher me acalma muito.

Kaila- Obrigada.

Reparo melhor nela, está sempre com um vestido branco, os cabelos também brancos e brilhantes soltos, toco instintivamente meus cabelos, nem se comparam aos dela.
Ela sorri para mim, parece ter lido minha mente, pois fala.

- Você é uma jovem magnífica, só ainda não se conheceu bem o suficiente, muitas coisas vão mudar em sua vida.

Penso um pouco no que ela diz e quase rio, eu magnífica? Só em sonhos.
Mais uma vez ela me surpreende.

- Você ainda verá, agora quero te mostrar uma coisa. Venha.

Vou andando atrás dela, passamos pelo mesmo corredor que dá no jardim bonito em que eu fui da última vez, e lá estava ele, o lobo, sentado perto de uma árvore parecia nos esperar e quando chegamos mais perto ele se levanta e me encara, os olhos azuis sempre refletindo algo que não posso entender.
Ele se vira para a mulher ao meu lado e faz um pequeno aceno com a cabeça, como se estivesse comprimentando-a, fico muito surpresa e ela deve ter percebido pois logo me fala.

- Este é um lobo muito especial, ele vai te ajudar e te proteger, quero que confie nele.

Kaila-  Me proteger do que? Do que você está falando?

Ela somente me olha um pouco triste, como se quisesse realmente me explicar

- Sinto muito minha querida luz, mas não posso te dizer nada ainda, com o tempo tudo será revelado.

Dizendo isso a imagem dos dois some e estou de volta no meu quarto com o despertador gritando como louco. Olho as horas e vejo que são cinco da manhã, hora de começar a preparar o café dos Ferrier.
Preparo todo o café e vou até a horta pegar umas verduras para o almoço, deixo as coisas arrumadas para quando chegar ser mais rápido.
Já são seis e meia e todos estão tomando café na sala de jantar, não quis ficar lá esperando eles, ainda estou com um pouco de medo da senhora Delaila. Quando escuto que todos já sairam e foram cumprir seus afazeres tomo meu café, organizo tudo e vou até meu quarto me preparar para a escola.
Hoje o dia esta quente e agradável, tenho que aproveitar os dias assim pois depois do solstício de inverno vai ser muito frio e neva bastante.
Depois de tomar meu banho visto um short jeans preto rasgadinho, o meu grande companheiro all star azul escuro, ele ta bem desgastado mais é o meu preferido não me largo dele, e por fim o uniforme.

Depois de sair de casa pego minha bicicleta, não se passou muito tempo e avisto o Connor me esperando, fico imaginando se ele também me esperou ontem.

Kaila- Oláá! Como vai você?

Connor- Poxa! Não chegue assim de fininho, quer me matar do coração? Eu ainda sou muito novo, o mundo precisa apreciar a minha beleza!

Ele diz isso é passa a mão pelos cabelos ruivos sempre bagunçados. A única coisa que consigo fazer é dar uma gargalhada.

Connor- Mais respondendo a sua pergunta, estou ótimo e você? Porque faltou ontem?

A Herdeira da Luz. ( Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora