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Já anoiteceu e confesso que estou bem cansada, o treino foi produtivo consegui até fazer algumas bolas de fogo, estamos agora sentados perto do lago o calor da tarde acabou e uma brisa fresca passa por nós. O Treevor parece um pouco inquieto, acho que quer perguntar algo.

Kaila- Pode falar.

Dou um leve empurrãozinho em seu ombro e sorrio. Ele contesta por um momento se deve ou não falar. Depois olha para mim.

Treevor- Bom, sei que é um assunto pessoal mas fiquei curioso, você estava gritando o nome de uma garota quando perdeu o controle. Era alguém importante?

Meu corpo se retrai só de ouvir sobre isso, prometi que ia explicar, sinto que posso confiar nele, afinal é meu guardião.

Kaila- Era umas das mais importantes.

Digo enquanto abraço meus joelhos, ele olha para mim esperando que continue mas ai lembro de algo.

Kaila- Você não devia saber? Pensei que estava comigo desde que era pequena.

Treevor- Teve uma época que não estive junto de você, um tempo depois que o Connor foi embora, Melissandra teve problemas, ela ainda não sabia bem como me manter aqui e usava seus poderes diariamente, acabou que ela enfraqueceu muito rápido e tive que viver com ela por dois anos, para que pudesse se recuperar e pensar em um modo de me deixar completamente vivo sem ficar daquele jeito.

Isso explica muita coisa, sei que se ele estivesse comigo teria me protegido.

Kaila- Pois oque aconteceu foi justo nessa época, tinham tirado o Connor do orfanato porque as freiras não tinham mais dinheiro para sustentar ele e o padre que tomou conta do lugar não aceitava meninos e meninas juntos, eu estava sozinha, não tinha amigos além do Connor mas ai as coisas mudaram, uma garota da minha idade chegou ao orfanato.

Respiro fundo antes de continuar e fico encarando a água do lago, diversas imagens passam pela minha cabeça.

Kaila- Sem nem perceber nos tornamos amigas, ela era incrível e muito parecida comigo, gostavamos de ler e de brincar perto das árvores, e claro as outras garotas não gostavam dela por ser tímida, tinha belos cabelos loiros e olhos azuis como o céu, seu rosto era como de uma princesa e seu nome Alice. Começamos a passar todo o tempo juntas, contavamos sempre uma com a outra e mesmo sendo mais fraca ela tentava me defender dos outros, superando seu medo, um dia perguntei porque ela fazia isso e ela me disse, "é porque eu te amo, você é minha melhor amiga, a única família que tenho", eu fiquei tão feliz em ouvir aquilo, mal sabia que ia acabar tão cedo.

Meu corpo se arrepia e sei que estou prestes a chorar, o fantasma que está ao meu lado choraminga.

Kaila- Todas as garotas mais velhas tinham medo do padre e eu nunca soube o porquê, todos os dias uma delas era chamada para sua sala e quando saia estava diferente, com o olhar vago e as vezes até com alguns machucados. Eu e Alice nunca procuramos saber oque acontecia, o padre não dava muita ideia para as garotas mais novas, até que um dia ele passou por nós, me encarou e depois sorriu indo para sua sala. Um tempo depois fui chamada para ir até lá, eu estava assustada, pensei que tivesse feito algo errado. Ele pediu para que me sentasse no sofa que tinha em sua sala e foi oque fiz, lembro dele me elogia e dizer como eu tinha crescido, mas ai começou a pedir coisas estranhas.

Nesse momento já estou chorando, o Treevor chega mais perto e me abraça.

Treevor- Não precisa continuar.

Sei que ele diz a verdade mas tenho que superar isso. O rosto daquele velho nojento parece pairar em minha frente, e fecho os olhos quando recordo das suas palavras.

"-Agora meu bem, quero que abra suas perninhas para mim.

- Eu não vou fazer isso.

- Sim, você vai. Não vai querer que eu machuque esse seu belo rosto não é meu bem?

Ele tenta passar a mão em meus cabelos mas o empurro para longe, vejo que fica bravo e segura meus pulsos com uma só mão, ele beija meu pescoço e começo a gritar.

- Não adianta, ninguém vai te ouvir. Agora fique quietinha, vou te dar muito prazer meu bem.

Choro ainda mais, não quero que ele me toque, sinto algo se esquentar em meu peito e logo ele da um grito de pavor me soltando. Suas mãos estavam queimadas.

- Você é um demônio, faça isso parar, vai ser minha!

Não sei oque aconteceu, mas me sinto aliviada por ter feito ele parar. Vejo seu rosto ficar cada vez mais vermelho de raiva e então ele sai da sala, penso que ele teria desistido mas pouco tempo depois volta e dessa vez trás consigo a Alice, meu coração se aperta quando vejo ela em suas mãos.

-Você vai fazer isso parar, se não sua amiguinha aqui vai sofrer.

Tento chegar perto deles mas ele pega uma faca e coloca contra o pescoço dela. Seus olhos estão arregalados e estava prestes a chorar.

- Eu não sei oque está acontecendo, por favor, solte ela.

Ele somente ri e olha para a Alice.

- Você é bem bonitinha, mas quero sua amiga, vamos ver se ela realmente te ama. Você vai fazer isso em seu corpo parar, se não fizer eu mato ela.

Tento fazer meu corpo ficar menos quente, tento tudo que posso mas nada acontece, olho para ele desesperada.

- Eu não sei oque está acontecendo, me desculpa, solta ela por favor!

-Que pena meu bem, acho que ela não te amava.

Diz no ouvido da Alice antes de lhe cortar a garganta, sangue jorra em minha direção, não consigo gritar nem ter algum tipo de reação, tudo que faço é ver seus olhos perderem o foco e aos poucos se fecharem, ele deixa seu corpo cair no chão e corro até ela, mas antes que possa chegar ele me segura pelo pulso.

-Pelo visto você voltou ao normal, agora podemos brincar.

Não sei de onde saiu a força e coragem que arranjei, consigo me soltar de suas mãos e pego a faca que estava caida no chão apontando para ele.

- Ei ei, não venha com esse tipo de brincadeira, você vai gostar meu bem.

Meu corpo esquenta novamente e corro em sua direção, tudo que ele consegue fazer é desviar de mim, mas acaba tropeçando e caindo no chão. Pulo em cima dele e sem nenhuma hesitação enfio a faca em sua barriga gritando.

- MEU BEM! MEU BEM! MEU BEM! MEU BEM!....

Repito o golpe diversas vezes até sentir as lágrimas caindo, solto a faca no chão e vou até a Alice, evito toca-la pois em minhas mãos está o sangue daquele nojento.

- Eu sempre te amei. "

Quando volto a abrir os olhos o Treevor ainda me abraçava paciente. Estremesso e olho para minhas mãos, mãos sujas.

Kaila- Ele tentou abusar de mim, mas acho que meus poderes acabaram me salvando, depois ele buscou a Alice, queria que eu acabasse com oque estava me protegendo mas eu não sabia como, então ele... ele a matou, na minha frente, ela era minha amiga.

Não consigo falar por um momento, a dor em meu peito é tão grande.

Kaila- Depois que ele fez isso eu fiquei em choque e mesmo assim ele tentou novamente, Treevor ele queria me fazer mal também, eu estava com raiva pelo que ele fez à Alice, então eu...eu...eu o matei.

Digo olhando para ele, seu rosto muda de extremamente bravo, para muito surpreso. Me encolho um pouco, sei que oque eu fiz foi errado por isso nunca contei a ninguém, o medo de me julgarem foi maior e agora talvez perca o Treevor.

A Herdeira da Luz. ( Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora