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Sophia Narrando


Deixando de lado aquele momento estranho entre mim e o dono do morro, continuei seguindo meu caminho com dona Lurdes ao meu lado, espero que ela não tenha percebido nada, não queria ter que explicar aquela troca de olhares, no momento estava mais preocupada com a minha vida e no fato de que estou voltando para o ninho das cobras. A sensação que eu tenho é que elas podem atacar a qualquer momento e eu nem mesmo sei como me defender ou o que esperar

É horrível viver assim, em constante estado de alerta, esperando o ataque de quem deveria me amar e me proteger, nunca pensei que pudesse temer pela minha vida dentro da minha própria casa, por conviver com a minha mãe

Continuei subindo o morro e a cada passo que me aproximava do barraco que um dia já chamei de lar o medo e a angustia tomavam conta de mim, não queria esta ali, não queria nem mesmo entrar e ter que olhar pra cara daquela mulher, mas eu não tinha pra onde ir e por enquanto é o único lugar que tenho para ficar

Parei em frente a porta respirando fundo me preparando para entrar e enfrentar a mulher dentro da casa, me voltei para dona Lurdes para me despedir e agradecer por toda a ajuda que ela me deu... mas me surpreendi com a expressão determinada no seu rosto, e mais ainda quando ela segurou meu braço e começamos a ir em direção a sua casa

Dona Lurdes: Não posso deixar tú voltar pra aquela casa - Paramos na frente da sua casa depois de mais alguns minutos andando

Sophia: Obrigada dona Lurdes, mas eu não posso aceitar, não quero dá trabalho -

Dona Lurdes: Tú não vai dá trabalho nenhum, eu moro sozinha e sinto falta de alguém pra conversar... tú pode me fazer companhia e começar a me chamar de tia Lurdes - Ela diz sorrindo, mas continuo seria - Menina é perigoso voltar a morar lá, dá próxima vez pode não ter alguém pra te ajudar 

A tia tem razão, se eu voltar pra lá e fingir que nada aconteceu, dá próxima vez elas podem conseguir me matar, e digo "elas" porque sei que Natália também esta envolvida nisso. Tenho que ficar o mais longe que poder dessas duas cobras, não posso sempre contar com a sorte e achar que sempre terá alguém lá para mim. Agradeço a Deus por ter colocado tia Lurdes no meu caminho, não quero pensar no que poderia acontecer se ela não tivesse me ajudado. 

Eu vou aceitar o seu convite pra morar com ela, mas será por pouco tempo, realmente não quero dá trabalho e também quero ter um cantinho pra chamar de meu... o que me lembra que ainda tenho que falar com Grego sobre isso, tenho que me preparar para enfrentar a fera, mas não quero pensar nisso agora, tudo o que eu quero é um banho, comer alguma coisa gostosa porque a comida do hospital não tem sabor nenhum e depois disso uma boa cama.

Depois de chegar a esta conclusão, saí dos meus devaneios e voltei minha atenção a tia Lurdes que me olhava com o cenho franzido 

Sophia: Arg... então dona Lur... - Ela me olhou de cara fechada - tia, eu aceito morar com a senhora sim, mas só até eu consegui alugar um barraco pra mim, esta bem? 

Ela se aproximou de mim sorrindo e me abraçou, feliz com a minha resposta. E foi difícil não lembrar dos momentos em que minha mãe me abraçava desse mesmo jeito carinhoso, de quando meu pai estava vivo e eramos uma família feliz mesmo com tão pouco. Por que ela mudou tanto? Eu não consigo entender o que aconteceu com a mulher carinhosa que me orgulhava chamar de mãe

 Senti meus olhos marejarem e as lágrimas descerem sem permissão quando olhei para a casa onde fui feliz com a minha família e que hoje é motivo de medo e tristeza. Encerrando o abraço tia Lurdes me olhou ainda sorrindo, mas logo o sorriso se foi ao perceber minhas lágrimas

Para Sempre SuaOnde histórias criam vida. Descubra agora