Capítulo 54 - Explode

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Nunca teremos a real dimensão do quanto nossas decisões afetam a vida dos demais. Nunca teremos a real percepção do exemplo que nos tornamos, das engrenagens que movemos e do impacto que causamos nos demais. Quando Lauren e Camila decidiram assumir para o mundo o amor que sentiam uma pela outras elas não poderiam imaginar que a coragem delas inspiraria várias outras pessoas.

Enquanto Lauren dirigia da cobertura da gravadora, onde o embate com Torres e os demais tinha ocorrido, para o aeroporto, onde pegariam o próximo vôo para Miami, um vídeo foi compartilhado na conta do Twitter que elas e a garotas do Third Harmony usavam para expor a gestão e sua tentativa de esconder a sexualidade de Camila. Em menos de 15 minutos o vídeo já tinha se tornado viral e estava nos Trending Topics de vários países.

O conteúdo, formado por diversos trechos de vídeos gravados por vários artistas jovens, se iniciava com o seguinte texto:

"Cores diferentes. Vidas diferentes. Problemas diferentes. Um mesmo sorriso falso no rosto dia após dia.".

A primeira imagem do vídeo era da mundialmente famosa cantora Demi Lovato, dona de hits como Sorry Not Sorry, Cool For The Summer e Made In The USA, jurada do programa The X Factor e ex estrela da Disney.

"Oi, meu nome é Demetria Devonne Lovato e eu sofro de transtornos alimentares, ansiedade e dificuldade de concentração. Eu venho abusando do álcool e de drogas como heroína e anfetaminas desde que eu tinha 15 anos. Já me cortei, já tentei me matar várias vezes e nunca, em todos os meus anos de indústria, recebi tratamento adequado para nenhum desses problemas. Eu fui obrigada a tomar inibidores de apetite desde que eu tinha 13 anos, para controlar meu peso. Já fui abusada verbalmente, emocionalmente e fisicamente mais vezes do que eu posso me lembrar por diversas pessoas da minha equipe que deveriam cuidar de mim e me manter nos trilhos. Eu fui incentivada a usar drogas pra me manter acordada para não faltar a compromissos. Eu tive minha sexualidade apagada e escondida por todos esses anos porquê meus agentes me fizeram acreditar que ninguém amaria uma cantora pop lésbica. Meu nome é Demi Lovato, e isso é só uma parte do que os chefões da indústria musical não querem que vocês saibam sobre mim", terminou Demi, encarando a câmera com lágrimas nos olhos.

A próxima imagem do vídeo é da cantora country pop Taylor Swift, 29 anos, prestes a lanças seu sétimo álbum de estúdio e ganhadora de 10 Grammys.

"Meu nome é Taylor Alison Swift e eu sofro de ansiedade e distúrbios do sono. Já tive pensamentos suicidas e já usei drogas e álcool. Como a maioria dos artistas, todos os meus problemas foram ignorados por aqueles que deveriam cuidar de mim. Minha carreira foi literalmente roubada das minhas mãos e eu fui obrigada a deixar a música country para ingressar em uma carreira na música pop. Eu nunca pude decidir a minha imagem, o meu corte de cabelo, as minhas roupas, os meus sapatos. Fui pressionada a ser feminina, a ser dócil e a falar baixo, a parecer mais baixa do que sou, a dar entrevistas bobas sobre garotos e a inventar festas do pijama com garotas com as quais eu tinha falado apenas uma ou duas vezes na vida. Eu sou uma mulher de praticamente 30 anos, adulta, forte e bem resolvida, que é obrigada a parecer uma eterna adolescente ingênua. Eu sou lésbica, e nunca pude assumir as mulheres que eu amei. Meu nome é Taylor Swift e isso é apenas uma parte do que a gestão quer esconder sobre mim. Mas eu não vou me calar mais", terminou Swift, lançando um sorriso desafiador para a câmera.

A próxima imagem mostrava a banda Third Harmony, confortavelmente sentadas em um sofá enorme.

"Meu nome é Dinah Jane Milika Ilaisaane Hansen Amasio", começou Dinah Jane.

"Meu nome é Normani Kordei Hamilton", disse Normani, parecendo um pouco nervosa.

"Meu nome é Allyson Brooke Hernandez", disse Ally, sorrindo, "e vocês nos conhecem como Third Harmony, as vencedoras da edição de 2016 do The X Factor. O que vocês não conhecem são os problemas psicológicos, de abuso de substâncias, as humilhações, as horas abusivas de trabalho e o silenciamento de nossas personalidade que foram impostos a nós desde que assinamos nosso contrato", continuou a loira.

"Depressão, abuso de álcool, ansiedade, transtornos do sono, abuso físico psicológico e emocional, privação do sono... nós já chegamos a trabalhar por 36 horas seguidas, sem descanso, bebendo energéticos e comendo barras de cereal. Uma vez eu estava gripada, com 40 graus de febre, no Brasil, e eu implorei para que me levassem ao hospital... chegando lá o médico queria me internar, mas nosso agente disse que eu só precisava de um soro e estaria boa para o show da noite. Eu desmaiei depois que o show acabou, caí de uma escada e fraturei uma costela", disse Dinah Jane, os lábios tremendo de raiva.

"Eu fui criada na igreja, ensinada a não beber e usar drogas, mas eu juro por Deus que é impossível se manter completamente limpa enquanto sua equipe te faz ensaiar por 10, 12 horas por dia, te humilhando a cada passo errado, a cada deslize... o abuso psicológico é absurdo nessa indústria", disse Normani, soltando um suspiro cansado, "eu comecei tomando anfetaminas pra ficar mais tempo acordada, depois passei a cheirar um pouco de cocaína para agüentar dois, as vezes três apresentações no mesmo dia. O tempo todo nosso agente nos estimulava a usar drogas e beber o máximo possível para que estivéssemos sempre alegras, felizes e dispostas. No dia que eu disse que não colocaria mais uma grama de qualquer merda no meu corpo eu achei que ele fosse me matar. Ele berrava que eu era uma imbecil preguiçosa e inútil, que eu nunca alcançaria uma carreira de verdade se eu continuasse sendo uma vagabunda mal agradecida e reclamona", continuou Normani, segurando as lágrimas.

"Eu acho que não preciso repetir o que as meninas disseram, pois passamos pelas mesmas coisas... eu fui tão abusada quanto elas, e me afundei tanto quanto elas. Nós três abrimos mão de sermos quem somos quando assinamos aquele contrato. Eu tive que me apresentar doente, psicologicamente abalada, cansada, de saco cheio, tantas vezes, mas eu sempre colocava um sorriso no rosto. Na verdade, as anfetaminas colocavam um sorriso no meu rosto. Eu tive que mentir sobre minha sexualidade e esconder as pessoas que eu amei por todos esses anos", disse Ally, "meu nome é Ally Brooke e a gestão quer que vocês acreditem que eu sou a boa garota heterossexual evangélica... mas essa não é quem eu sou", continuou a loira.

"Meu nome é Normani Kordei e eu namoro minha colega de banda, Dinah Jane, há 2 anos", disse Normani.

"Nós somos um casal, e essa é apenas uma parte do que a gestão quer esconder de vocês", disse Dinah Jane, estendendo a mão para Normani.

Nos próximos vídeos Shawn Mendes e o namorado, Brandon Routh assumiam seu relacionamento, enquanto Zayn Malik e Perrie Edwards contavam sobre os problemas de ansiedade e transtornos alimentares que enfrentavam, ao mesmo tempo em que eram obrigados a fingir um término que nunca existiu. Jade Thirlwall falava sobre as diversas vezes em que foi obrigada a emagrecer, enquanto Jessy Nelson falava sobre a depressão que se abateu sobre ela na primeira tour da banda Little Mix, quando a gestão simplesmente a obrigava a subir no palco, noite após noite, enquanto segurava as lágrimas. A morena tentou se matar 3 vezes durante a tour. Justin Bieber e Selena Gómez falaram sobre os problemas com álcool e drogas, sobre a ansiedade e a depressão não tratadas que se agravaram rapidamente enquanto ambos se tornavam cada vez mais famosos. Hayley Kiyoko, assumidamente lésbica, falou sobre os problemas de imagem, depressão e ansiedade, e sobre como sua sexualidade foi usada para atrair uma fan base enquanto nos bastidores a cantora era constantemente humilhada e ridicularizada por ser lésbica e não ter um corpo padrão. Liam Payne falou sobre depressão e transtornos de personalidade, e sobre como ele ensaiava três vezes mais que os demais por ser considerado o membro da banda que não sabia cantar.

O vídeo finalizava com um pedido:

"Apoiem seus artistas. Percebam como a gestão molda cada nova estrela ao que o público quer, então queiram pessoas felizes e realizadas, parem de exigir corpos padrões, parem de exigir heterossexualidade, parem de achar que apenas pessoas brancas podem ser bons artistas. Apreciem as músicas feitas, apreciem o trabalho duro, mas parem de exigir uma perfeição inalcançável. Apóiem as pessoas que inspiram vocês todos os dias, porquê elas vão precisar. A maioria de nós ficará desempregada quando esse vídeo se tornar viral, mas nós não nos importamos. Nós queremos ser livres, e para isso precisamos que vocês rompam com a gente esse ciclo de opressão e abuso que permeia a indústria musical.". 

They don't know about us (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora