Fogo, duelo e ladrões - Ryan PoV

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Dois guardas vigiando aquele trecho da muralha sul do palácio, aguardando a troca da ronda e resmungando sobre o tédio.  Foi quando ouviram o zunido e tombaram, com um pequeno dardo em cada pescoço. Em seguida, um pequeno grupo de homens mascarados concluiu sua escalada do mesmíssimo trecho da muralha. Vestidos em armaduras leves de couro, cada um com uma mascara diferente: o maior e mais musculoso usava uma mascara de urso pardo;  três deles usavam mascaras de lobos e; Subindo por ultimo na muralha, um par mascarado como raposas: uma branca como a neve e a outra vermelha como fogo.

Fazendo sinais com as mãos entre si, os com mascara de raposa se separaram, o de branco liderando o grupo, o de vermelho preparando uma flecha com corda e mirando uma das janelas. O disparo foi silencioso e a flecha certeira. Habilidoso, sorrateiro, o mascarado segurou na corda e saltou. Todo movimento era perfeitamente executado, como centenas de vezes antes. A corda firme, o escalar até a janela. tudo perfeitamente sincronizado. Se apoiando no parapeito, o rapaz empurrou suavemente a janela para se abrir para dentro, mas as folhas de vidro se mantiveram imoveis. A janela estava trancada.

- Porco idiota, eu disse para destrancar a quinta janela do lado direito na parede sul. - O rapaz afastou a mascara do rosto, se encostando mais contra a parede. Jovem, não mais que quinze ou dezesseis anos. cabelos escuros e a expressão tipica de um idealista acreditando lutar por um mundo melhor: Esse era o príncipe dos ladrões de Sherwood, Ryan Willian Hood. Suas mãos percorreram os bolsos do traje, pegando um canivete. Se o agente interno não fez o serviço, o plano não poderia parar.

Imaginava os outros já em suas posições, cada qual tranquilamente escondido dentro do castelo, aguardando o sinal para agirem. Todo atraso significava terem que readequar o plano para as mudanças de ronda de guardas e habitantes a qualquer momento saindo de suas rotinas noturnas por qualquer trivialidade. Como seu pai sempre alertava, um ladrão fantasma deve sempre estar preparado para o imprevisível e fazer milagres. E em se tratando de milagres de um ladrão, Ryan se considerava quase um profissional.

Um clique suave indicou o sucesso na abertura da janela. O adolescente entrou com seus pés fazendo um baque suave no tapete. aquele lugar cheirava a burguês safado, o que era de se esperar de um palácio. No geral, só havia mobília coberta com tecidos, claramente uma sala em desuso. Uma sala perfeita para começar um incêndio. Em poucos minutos, já havia feito uma fogueira com os tecidos, agora precisava correr e encontrar o agente infiltrando antes do incêndio se espalhar. Reposicionando a mascara no rosto, Ryan saiu daquela sala. A fumaça sinalizaria aos guardas para onde ir e seria o sinal para seus companheiros saquearem os cofres desprotegidos.

Corredor vazio. Ryan pegou o seguinte dispositivo em seus bolsos: um apito. Mas esse apito, diferente do esperado, fez um barulho de porco, que foi respondido por uma imitação parecendo vir do andar abaixo, um pouco desesperada, aparentemente. O rapaz procurou e desceu escadas o mais rápido que conseguiu, com o cheiro ocre do incêndio lhe atingindo as narinas.

- Oinc! cadê você? 

O som de madeira quebrando pareceu um mal agouro. Guinchos de porco se seguiram, vindos de uma das portas naquele andar. Pareceu obvio para Ryan que o porco estava em perigo. Chutou a porta de onde vinha os pedidos de socorro do porco, dando de cara com a cena mais inusitada de sua vida: uma moça de camisola segurando uma espada, tentando atacar um porco.

- EI! SE AFASTE DO SUÍNO IMEDIATAMENTE!

A jovem olhou para Ryan.  A julgar pela janela aberta e a cadeira quebrada, podia deduzir que Oinc o porco havia realmente errado o andar que deveria abrir. A jovem continuava encarando a mascara de raposa e então atacou com a espada. Ryan apenas fechou a porta de novo vendo a madeira ser facilmente danificada pelo aço da lamina. Passos nas escadas indicavam que havia um pessoal subindo, então restava duas alternativas: encarar a garota e salvar o Oinc ou fugir de uma vez.

- Com licença, moça. - Ousando abrir a porta novamente, Ryan já foi se abaixando e se jogando nas pernas da garota, derrubando-a.

 - Eu e o porco estamos de saída, foi um prazer te conhecer. - Alguns instantes ganhos. Viu o vulto de Oinc passando por cima deles, o que já era uma preocupação a menos, afinal confiava que o porco acharia uma rota de fuga dentro do castelo. Se levantando, o príncipe dos ladrões correu até o parapeito e deu uma ultima olhada na garota, que estava ainda se levantando. Céus, ela era extremamente bonita, mesmo com o olhar raivoso que tinha.

- Você não tem por onde escapar. - Ela ergueu a espada.

- Sou um ladrão fantasma, tenho o dom de fazer milagres. - E piscando, ele pulou, deixando a garota surpresa para trás.

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- Então você pulou da janela, se segurou na corda que havia esquecido de recolher quando subiu e acha mesmo que que o Little John não vai dar uma bronca por quase ter deixado indícios de que não era um incêndio espontâneo?

- Exatamente, irmão. - Ryan se ajeitou nos cobertores na barraca do acampamento improvisado no bosque próximo ao castelo. Seu irmão gêmeo, Richard, estava ainda com a mascara de raposa branca cobrindo o rosto. - E ele não vai brigar comigo, está bem frustado por não haver nada naquele cofre que vocês invadiram.

-Vamos ter que explorar mais de perto antes de uma nova tentativa. Talvez a visita dos sobrinho-netos do rei Lionheart seja útil.

- Se o little John não resolver cancelar tudo e voltar pra casa.

- Duvido. Vou cuidar desse turno da vigia, trate de dormir direito mocinho, ou a mamãe vai ficar sabendo. - Richard bagunçou os cabelos do irmão e saiu. Ryan pegou no sono logo em seguida, e por alguma razão, sonhou com a garota de camisola que havia tentado mata-lo.

A princesa e o ladrão: Um conto de ParamythiaOnde histórias criam vida. Descubra agora