A floresta estava ainda mais escura e sinistra do que antes. Liderando, Ryan iluminava o caminho com uma lanterna, ciente dos passos da princesa logo atrás. Era impressionante o nível de equilíbrio dela, carregando o porco de pelúcia apoiado sobre sua cabeça.
- Tinha uma mola.
- O que? - Não olhou para trás, apenas prestou um pouco de atenção ao que ela dizia.
- Eu o vi chutar algo embaixo daquele teste de força antes da minha tentativa. Não esperava que eu fosse tão forte quanto você, então podemos considerar que você não foi tão ruim quanto pensa.
Fazia sentido. Envy parecia ser o tipo de pessoa que praticava muita atividade física e seus braços eram até bem definidos, mas não aparentava ser mais forte do que ele. Começou a se perguntar se ela havia tocado no assunto apenas para ser gentil quando um estalo de um galho quebrando chamou a atenção de Ryan. Apagou a lanterna e segurou a mão de Envy, esperando. Outro som logo veio, dessa vez de folhas sendo esmagadas.
- Por que paramos? - Ela sussurrou ao seu ouvido.
- Acho que ouvi alguém.
Folhas esmagadas novamente. Galho quebrado, folhas, folhas, galho e um assovio. Respirando fundo, o garoto finalmente assoviou de volta de modo agudo. Um assovio igual veio em resposta, pondo um sorriso no rosto do rapaz.
- Você está nos esperando a muito tempo, Richard? - Se virando em direção a de onde havia vindo o assovio, Ryan logo se viu encarando seu irmão gêmeo, que saia do meio das folhagens com a lanterna tão fraca que só servia mesmo para iluminar seu caminho.
- Não muito. Fiquei me divertindo distraindo o pessoal e insistindo que vocês nunca saíram do palácio. E adorei sua tiara. - Ele riu enquanto Ryan tirava o adorno da cabeça e se virou para Envy, fazendo uma mesura excessivamente formal. - Richard Hood de Nottinghan. Espero que meu irmãozinho não tenha lhe causado muitos problemas.
- A companhia dele foi bastante agradável. Seu irmão é bastante peculiar.
- Peculiar? Ele é doido mesmo. - Os dois riram juntos
- Ei! Eu estou ouvindo seus abusados. E a gente tem que voltar pro castelo.
- Tem guardas por toda parte, praticamente impossível um acesso discreto pelos portões.
- Acho que tenho um plano. Trouxe meu equipamento?
- Atrás da arvore. - Richard riu, apontando na direção de onde havia vindo.
- Princesa, poderia se virar por favor? Preciso me trocar.
- Como se eu quisesse te ver sem roupa. - Ela revirou os olhos e lhe deu as costas, esperando. Havia uma bolsa conforme Richard indicou contendo seu traje para roubos. Estava terminando de ajeitar as manoplas do traje quando ouviu passos descuidados pisando em galhos e folhas secas.
Richard baixou a lanterna e pegou a besta que estava carregando às costas, mirando na direção do som. Ryan ergueu o braço direito, terminando de ajeitar a mini-besta de pulso da manopla.
- Quem está aí? Se apresente ou vamos atirar. - E para completar a ameaça, Richard ergueu mais a besta, dando um disparo de aviso.
- Non atirrem! - Lumierè entrou na área iluminada pela lanterna, com as mãos para o alto. - Sacré bleu, vocês semprrrre son assim rrrudes atirrando prrrimeirrrrro e depois perrrguntando?
Os gêmeos baixaram as armas enquanto o homem indicava para que o seguissem. Ele não demonstrava nem um sinal do que poderia estar pensando. Caminharam em silencio até os portões, Ryan já aceitando qualquer punição que viriam a ter. O rei e seu mordomo, Horloge, estavam parados no hall de entrada, aguardando por eles. O garoto engoliu seco, estranhando não ver seu pai junto a eles.
- O rei espera que exista uma boa explicação para isso tudo, crianças. - O mordomo encarava um olhar assassino, com seu bigode estando desalinhado e uma expressão quase tão furiosa quanto a do rei. - E que roupas são essas, princesa? Isso é jeito de uma princesa se vestir?
- Pai, eu posso.... - Envy começou a falar, mas Lumierè sinalizou para que ela ficasse quieta.
- Majestade, eles apenas saírron parrra cavalgarrr na florrrêsta e demorraran um pouco. Bem como o jovem Wood.
- Espera, o Wood não estava com eles? - O rei olhou mais sério para Ryan, era como se soubesse que ele tinha algo com o desaparecimento do Christian Wood.
- Foi emborrra. Non há sinais da carrrruagem dele no jarrrdim. E o cavalheirrro Hood, porrr onde anda?
- Ah, ele está com a rainha. - Horloge se adiantou. - Estavam seguindo o rastro daquele criminoso que roubou do tesouro real.
Ryan segurou o riso enquanto eles continuaram conversando sobre o roubo, esquecendo que deviam estar dando uma bronca nele e na Envy. A ironia disso tudo era Robin Hood investigando um roubo que certamente ele mesmo havia cometido. A princesa cutucou Ryan levemente e fez um sinal de que estava de olho nele, praticamente dizendo pensar que ele era o ladrão.
- Está decidido. Envy, querida, pode ir para seus aposentos. Horloge, leve os jovens Hood até um quarto de hospedes. Lumierè, me acompanhe, talvez o criminoso tenha sequestrado o príncipe Wood, devemos nos preparar para agir assim que o pedido de resgate chegar.
- Naturralmente, mestrrre. - Lumierè se virou para o trio. - Com licença, jovens Hood, princesa.
- Vamos logo vocês dois. - Horloge rapidamente se pôs atrás dos gêmeos e começou a empurra-los para as escadas, deixando Envy para trás. O mordomo pareceu perceber isso e logo se virou.
- Mais tarde teremos uma conversa seria sobre seu sumiço para cavalgar, mocinha.
E subiram. Vários degraus, vários corredores finamente decorados e finalmente duas portas de madeira pintadas de branco, parecendo tão delicadas quanto o restante da decoração. Horloge empurrou os gêmeos para dentro da suíte e saiu sem dizer nada.
- Então? - Richard se sentou na cama de casal, o encarando enquanto tirava as botas.
- Então o que? - O rapaz questionou enquanto se dirigia para o banheiro.
- Você passou a tarde toda com uma garota muito bonita e ainda pergunta? Por acaso ficou com vergonha de falar com ela? - Richard riu, se deitando na cama.
- Nossa, como você é engraçado. - Ryan falou cheio de sarcasmo. - Não rolou nada de mais, só levei ela pra um piquenique e um festival noturno.
- E o namorado dela?
- Aí é outra história, meu caro. - Respondeu, fechando a porta do banheiro.
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A princesa e o ladrão: Um conto de Paramythia
RomanceO amor vem com obstáculos, não é surpresa para ninguém. Quando duas pessoas criadas em mundos completamente diferentes se apaixonam, é de se esperar que surjam enormes barreiras para atrapalhar a felicidade do casal. Ela era uma princesa criada para...