O rosto sorridente de Khamon fazia com que Saint sentisse seu estômago embrulhar. Não era possível para ele que uma pessoa fosse tão sutil para ser ruim. E ele sabia muito bem quem era o homem e qual sua principal preocupação. Mas isso era irrisório naquele momento, o que importava era somente conquistar a confiança do mesmo.
— Krub, obrigado pela oportunidade de trabalhar aqui. — O homem era tão sorridente que chegava a ter olhos amassados pela pele de suas bochechas.
— O prazer é meu. Ter um funcionário com tantas habilidades é uma honra. — A sessão de elogios parecia não se encerrar, mas a ânsia que isso causava no jovem era mais que visível.
— Fico feliz. Eu gostaria de poder ajudá-lo sempre que possível. Por isso, se precisar de algo, espero que se sinta livre para me chamar e eu lhe ajudarei com todo o prazer. — Khamon era chefe. Era lógico para ele que isso era seu direito. Mas ainda assim, a fala era bem recebida.
— Você é um menino de ouro. Esteja preparado para trabalhar bastante. — O homem sorriu para o seu novo funcionário, quase o dispensando.
— Senhor? — Uma mulher baixinha, de no máximo uns 25 anos adentrou a grande porta da sala, recebendo o olhar impiedoso do chefe. — Khun Saeng está aqui. Ele disse que precisa falar com o senhor e é urgente. — O mais novo não fazia ideia de quem era esse. Mas pareceu alguém com muita influência, já que por causa dele, Saint e Ayla quase foram enxotados da grande e descolorida sala.
Quando saíram, o corredor largo parecia ainda maior do que na ida. Toda a vibração que aquele local emitia era desagradável. A mulher caminhava a passos largos e Saint a seguia no mesmo ritmo. Tudo parecia estar em seu devido lugar.
— É muito movimentado por aqui? — Tirando a mulher de seus devaneios, o rapaz chamou Ayla.
— Depende do que você classifica como "movimento". A empresa é enorme e tem muita gente. Então... — O novo funcionário logo entendeu. Mas ele queria saber mais. Na verdade, de tudo.
— Eu quero dizer... fora os funcionários, há muita gente que vem aqui? — A mulher um pouco mais baixa que o jovem em seus sapatos barulhentos pisava lentamente. Saint se questionava como uma sapatilha podia fazer tanto barulho.
— O tempo todo. Khun Khamon é muito influente por aqui. Você realmente não o conhece? Qualquer lugar que ele passe, é reconhecido. — Olhando para os lados, o mais novo parecia querer perguntar mais alguma coisa, e a senhorinha via isso. — O que você realmente quer saber?
— Eu? — O funcionário apontou para si mesmo e Ayla assentiu. — Nada demais.
— Tudo bem, se você diz. — Ele pareceu se arrepender assim que terminou a frase. — Aliás, se precisar de qualquer coisa, pode me dizer. Fazer perguntas também é comigo.
Dito isso, a mulher encaminhou Saint novamente para sua mesa e iniciou alguns ensinamentos básicos. Tudo ali parecia simples demais, como se ele estivesse naquele local apenas para preencher o buraco de um pedido feito. Realmente, tudo era como parecia.
Uma empresa não tão comum, com funcionários estranhos e assustadores, mas todos tinham aparência de descontentes. Porém não estavam, eram apenas caras disfarçadas em pessoas tão incolores quanto o preto e branco.
O dia transcorreu tranquilamente enquanto Saint era guiado em alguns dos seus serviços. Seus colegas tentavam ser simpáticos, mas parecia cada vez mais impossível. Não via graça em seus olhos, e isso o fazia se identificar com os mesmos.
Assim que saiu do trabalho, rumando a volta ao seu apartamento, não só sua mente como seu corpo pediam por espairecimento. Ele lembrava muito bem que havia combinado um pequeno encontro e isso havia de ajudá-lo a esfriar a cabeça.

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Miríade [PAUSADA]
FanfictionDesde que o mundo é mundo, desonestidade e falsidade fazem parte do ser humano. Mas junto a isso, também há uma série de sentimentos envolvidos. Amor, ódio, vingança e medo. Qual deles irá se sobressair?