I Blame You Cuz It's All Your Fault

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Entrei hiper atrasado na sala de aula e com um péssimo humor. A professora apenas olhou para mim e continuou sua explicação sem se atentar muito para o meu atraso. Ela sabia que eu não era de me atrasar, e além do mais, não só ela, mas a escola inteira sabia onde eu estava, pois todos ouviram meu nome ser pronunciado no pager junto com o de Augusto Prado. Eu ainda não estava acostumado com a ideia de nossos nomes serem pronunciados juntos no pager toda semana, durante dois meses. Andei até o meu lugar e pude perceber que alguns alunos me acompanhavam com o olhar, provavelmente a treta do banheiro já deve ter rolado por aí, principalmente com o trio que ocasionou a troca de socos fazendo questão de comentar com todos a primeira briga a qual eu me envolvi na escola. Lívia era a única que ainda agia normalmente, prestando a atenção na aula e tudo o mais. Sentei-me no lugar de sempre e ouvi umas risadas entre Yago, Douglas e Guilherme. Eles sentavam fazendo um cerco em torno de mim e eu ficava exatamente no meio. Essa localização era muito bem pensada, pois era eu quem fornecia cola aos três em época de provas, e como os lugares são marcados desde o primeiro dia, nós combinávamos de sentar dessa maneira. No entanto, no momento eu me sinto desconfortável de ter os três ao meu redor. Eu estava me sentindo sufocado, eu mal ouvia o que acontecia na parte da frente da sala só no fundo, somado a um ruído interior, os barulhos dos risinhos deles ecoando em minha mente e as palavras de Augusto martelando em minha cabeça. "Atleta mal resolvido", "tentando performar masculinidade tóxica", "confortável no armário", aquilo estava me deixando pirado e o pior de tudo é que ele tinha razão. Eu estava prestes a ter um surto dentro de sala quando Lívia olhou para trás e sorriu amistosamente para mim. Não bastou mais nada, só aquilo foi o suficiente para me tranquilizar. Ela sabia exatamente o que fazer e quando fazer. Me lembro até hoje de quando Lívia me pegou no flagra batendo uma punheta quando éramos pré-adolescentes. Ela apenas saiu e foi embora. Eu fiquei o dia todo me sentindo desconfortável e paranoico achando que ela ia espalhar para as amigas ou pior, para a escola inteira, mas no dia seguinte ela me tratou como se nada tivesse acontecido e eu me senti bem melhor. Eu gosto da Lívia porque ela sabe quando deve tocar no assunto e quando não deve, diferente da maioria das pessoas.

As aulas seguiram meio que arrastadas para mim, até mesmo os professores perceberam que havia algo de errado comigo. Normalmente eu sou participativo e tudo o mais, contudo hoje eu estou mais na minha o tempo inteiro, principalmente porque não queria chamar muito a atenção do grupinho que estava ao meu redor. Na hora do intervalo eu fui um dos primeiros a sair da sala, sequer esperei Lívia, mas ela me entenderia. No refeitório eu escolhi um lugar isolado de todos na esperança de que ninguém me visse, contudo quando vi Augusto entrando com sua trupe ele foi um dos primeiros a reparar em minha presença. Nossos olhares se cruzaram, mas ele não acenou e nem nada do gênero, apenas seguiu seu grupinho do teatro. Eu me senti mal. Era tão estranho me sentir mal por ser ignorado por Augusto Prado, uma vez que até ontem ele sequer tinha contato comigo a não ser umas piscadas de olhos esporádicas pelo corredor, mas hoje, nem isso eu recebi. Continuei comendo de cabeça baixa até que ouvi alguém colocando uma bandeja sobre a mesa. No início pensei que fosse Lívia, mas quando ergui os olhos dei de cara com Augusto sentado diante de mim. Ele estava seríssimo, no entanto parecia se esforçar para não parecer aborrecido nem nada do gênero. Olhei ao redor e vi que o diretor estava passando pelo refeitório, o que explica absolutamente tudo. Antes que pudesse retornar meu olhar ao Augusto, notei que a maioria dos terceiranistas nos olhavam, principalmente Guilherme e os moleques do time de futebol. Acho que não era nem o fato de Augusto estar de saia que chamou a atenção das outras pessoas, mas sim o fato dele ter se separado do seu grupinho de desajustados para sentar-se a sós comigo, ele nunca se separava deles. Aquilo deixou-me constrangido e feliz ao mesmo tempo, então eu abaixei minha cabeça enquanto dava atenção única e exclusivamente para meu lanche.

- Será que teria como a gente fazer alguma coisa domingo e deixar registrado para o resto da semana? Eu quero antecipar o relatório da semana pra não ter... – Ele pareceu repensar o que iria dizer. Ergui minha cabeça e ele sorria (forçadamente) amigavelmente. – Preciso resolver muitas coisas durante a semana. – Dei de ombros enquanto bebia meu suco.

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