Sofyh.
- O que você está fazendo aqui? – Matthew perguntou confuso.
- Eu queria te ver – respondi com simplicidade.
- Ah, sim – Matthew respondeu distraído.
Ele olhava o tempo todo em direção a escada na sua sala de entrada, como se esperando que alguém descesse a qualquer minuto.
- Matthew, está tudo bem? Seus pais vão se importar de eu estar aqui a essa hora? – Perguntei sentindo um clima estranho.
- Sim – ele respondeu olhando para a escada novamente. – Quer dizer não.
- Eu acho melhor eu voltar em outro dia – murmurei já me virando para ir embora.
- Não – ele exclamou segurando meu antebraço com delicadeza. Matthew finalmente encarou meus olhos – Não foi isso que eu quis dizer. Meus pais não estão em casa não há problema algum.
- Tem certeza?
- Sim – respondeu acenando. – Vem. Vamos subir para o meu quarto.
A casa de Matthew era o oposto do que eu esperava. Para começar ficava a vinte quilômetros da cidade mais próxima. Por fora parecia ser uma casa normal, mas por dentro tudo era tecnológico. As portas possuíam sensores de movimento, havia câmeras em cada corredor em que virávamos e monitores. Muitos monitores.
- O que é tudo isso? – Perguntei curiosa.
- A mansão inteira é controlada por um sistema de segurança.
- Mas para que tantos monitores.
- Às vezes uma porta não abre ou a temperatura da casa sobe demais. Minha mãe achou melhor colocar esses monitores pela casa inteira, assim, não precisaríamos andar até o outro lado da mansão só porque não conseguimos passar por uma porta.
Ele continuou andando depois de explicar. Aquilo era algo totalmente estranho. Acho que nem meu pai pensaria em colocar um sistema de segurança tão complexo como aquele. Mas fiquei quieta quanto a isso. Não demorou muito para chegarmos ao quarto dele. Depois de muitas escadas finamente chegamos lá. Ele abriu a porta e deixou que eu passasse.
O quarto de Matthew era extremamente simples. Havia uma cama no centro do quarto com um criado-mudo de cada lado, uma escrivaria na parede da porta e uma estante com livros. Não havia nada além disso. Nenhuma bagunça, nenhum equipamento de futebol, nada. Totalmente diferente do Steven. Não pude deixar de pensar.
Fui até a estante sem saber o que fazer exatamente. Eu sabia por que estava ali, mas não fazia ideia de como começar a conversar com ele. Pela primeira vez não soube o que falar com ele. Parei em frente a estante e comecei a analisar os títulos dos livros. Senti ele se aproximar. Ele parou atrás de mim com seu tórax quase encostado nas minhas costas.
- Esse... – ele apontou para alguns livros gastos enquanto colocava a outra mão na minha cintura. – ...é o meu favorito.
Suspirei com um pequeno contato e voltei meus olhos para o livro que ele apontou. O título dizia Orgulho e preconceito. Sorri com aquilo.
- Não sabia que você gostava de um romance de época. – Digo olhando para ele.
- Há muitas coisas que você não sabe de mim – ele diz levantando uma sobrancelha com um leve sorriso.
- Tipo o q...?
Antes que eu terminasse a pergunta a porta do quarto se abriu e uma figura diminuta entrou pisando forte no quarto. A menina devia ter cerca de 5 ou 6 anos. Ela tinha cabelos ondulados e pretos como os de Matthew. Ela usava um vestido florido branco e vermelho. Seus olhos amendoados se destacavam em sua pele de porcelana. Mas sua característica física mais marcante, estava em seu rosto. Ela possuía Síndrome de Down.
- Por que você demorou, Matt? - Ela cruzou os braços e fez um biquinho fofo.
Matthew tirou a mão da minha cintura e se ajoelho na frente da menininha para ficarem na mesma altura e ela não precisar inclinar a cabeça para olhá-lo.
- Me desculpa, flor. Eu não vou poder brincar hoje – ele diz carinhoso.
- Mas você disse que iria brincar! – Ela exclamou triste.
- Mas a minha amiga está aqui. O que eu faço com ela? – Ele perguntou apontando para mim.
- Manda ela embora – ela sugeriu como se eu não estivesse ali. – Eu sou sua irmã, não ela!
Quase ri depois dessa.
- Mas Jasmim, eu não posso mandá-la ir embora.
- Pode sim.
Matthew me encarou sem saber o que fazer. Depois de um minuto constrangedor falei a primeira coisa que eu pensei.
- Você gosta de sorvete? – Perguntei aleatoriamente.
Ela me encarou com seus olhos verdes e respondeu.
- Quando nos mudamos, mamãe disse para eu não falar mais com estranhos - e saiu correndo.
- Jasmim! – Matthew chamou, mas ela ignorou.
No mesmo instante Matthew corou envergonhado. Fingi não notar e virei para o lado voltando minha atenção para a estante de livros. Ele se recuperou rapidamente.
- Me desculpa por isso, Sofyh – ele pediu.
- Está tudo bem. Ela é apenas uma criança. – Dei de ombros. - Quem é ela?
- Ela é minha irmã.
- Quando eu era mais nova sempre quis ter uma irmã. Era meio chato brincar sozinha. – Ele sorriu.
- É bom ter uma irmã, mas é cansativo. Ainda mais quando se é como a Jasmim.
- É difícil cuidar dela?
- Às vezes sim – respondeu com um suspiro. – Mas sempre tentamos manter ela longe das pessoas.
- Por quê? – Perguntei.
Ele ignorou a pergunta e olhou em meus olhos.
– Sofyh, eu posso te fazer um pedido?
- É claro. – Concordei.
-Não conte sobre ela para ninguém – pediu sério.
- Por quê? – Perguntei achando estranho.
- Um dia eu te conto. Mas não hoje.
- Tudo bem – respondi. Ele sorriu com a minha resposta.
- O que acha de passar a noite brincando de piratas com uma garotinha? – Ele perguntou brincalhão.
- Pegue seu gancho capitão!
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Uma garota diferente.
Teen FictionSofyh Beyller sempre foi uma garota quieta, inteligente e discreta. Seus pais, uma famosa estilista da Austrália, e um engenheiro multi bilionário vivem viajando e passam somente alguns meses em cada país. Depois de um tempo, Sofyh cansa de ficar vi...