A busca - III

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Uma das armadilhas disparou e um uivo de ódio foi ouvido. Quando os pescadores começaram a sair de suas casas, alguns com lanças nas mãos, Capuz já corria em direção aos barulhos na mata. Estacou ao se deparar com uma figura maciça, encolhida em uma rede pendurada em uma árvore. O homem-lobo parecia calmo, passando a rosnar desde que seus grandes olhos se puseram na mulher. No momento em que os homens chegaram, imediatamente se dispuseram a furá-lo com suas lanças de peixes.

― Esperem! Não acho que isso vá prendê-lo por muito tempo ― Capuz ergueu o braço em sinal para que retrocedessem.

― Garota esperta ― o homem-lobo admitiu, com uma voz rosnada.

― Você fala? ― a mulher não conseguiu conter o espanto. No entanto, logo percebeu os braços da criatura se movimentando em suas costas, ele puía as cordas da rede com as garras. ― Para trás! ― Ela gritou tarde demais.

O lobo partiu as grossas fibras e caiu sobre dois dos pescadores, rasgando os peitos de ambos, um com cada mão e atirando-os para longe, onde caíram imóveis. Yael, tomado pela fúria de ver seus companheiros sendo machucados, avançou contra a criatura. Capuz, prevendo o movimento de ambos, lançou-se contra o garoto, desequilibrando-o com o peso do ombro, enquanto puxava a lâmina de um metro de aço brilhante e descrevia um arco no ar para rebater o braço do homem-lobo. Ele retrocedeu, apertando o pulso que agora sangrava. Mas logo rugiu e avançou numa arrancada violenta, impossível de um ser humano desviar ou bloquear. Capuz se estatelou no chão, a espada voou de sua mão e o homem-lobo ergueu os dois braços para esmagá-la. A mulher puxou duas adagas do cinturão que as matinha junto ao tórax e atirou-as no rosto do bicho. Praguejou por ter errado os olhos e aquele praguejou enquanto arrancava as lâminas do rosto ensanguentado. Capuz rolou para longe dele e se levantou a ponto de ver Yael que investia novamente, enfiando sua lança nas costelas da criatura, que era onde conseguia alcançar.

― Não ― o brado de Capuz nada pode fazer novamente, o homem-lobo berrou de dor e meteu as garras no rosto do rapaz, atirando-o ao chão estrebuchando e com a face despedaçada. ― Desgraçado! ― A mulher puxou a manga esquerda da capa vermelha e liberou um tipo de mini besta desmontável, que se abriu com o apertar de um botão. Disparava três dardos por vez e então precisava recarregar, ela mirou na cara do monstro, mas ele bloqueou facilmente com a mão, batendo-a em seguida numa árvore. ― Merda! ― Capuz correu enquanto tentava rearmar a besta e o lobo a seguiu. Ela disparou mais duas vezes para atrasá-lo, mas a criatura agora era mais lobo que homem e corria em quatro patas. Ele estava prestes a alcançá-la quando esta deu dois passos em uma árvore e segurou em um galho, o lobo foi puxado para o alto por uma armadilha de corda que prendeu seu pé e Capuz se atirou, segurando com as duas mãos um punhal de vinte centímetros, o qual enterrou no baixo-ventre da criatura e desceu, se apoiando nele, abrindo o desgraçado verticalmente até sua garganta, depois caindo de costas no chão, com as tripas e o sangue grosso a empapar-lhe o corpo.

Alguns segundos depois Capuz se levantou para apreciar o feito. Tirou a capa encharcada de sangue enquanto se aproximava do monstro pendurado. Seu coração batia forte, mas algo lhe dizia que a sua vingança ainda não estava feita. Logo compreendeu o porquê. Pendendo dos pelos que caíam em abundância de seu rosto, havia contas coloridas de vários tamanhos e formatos, nos seus braços que pendiam moles e no seu peito pinturas tribais escuras contrastavam com sua pelugem cinzenta e, principalmente, Capuz reconheceria o rosto lupino do assassino de sua mãe e vó mesmo em mil anos e não era aquele. Em seguida ela percebeu que o abominável ainda respirava, em arfadas desesperadas que tentava desimpedir o tubo respiratório que saía pelo tórax aberto.

― Como você ainda está vivo? ― Capuz indagou, apanhando os pelos de seu crânio e puxando com força.

― Você já deve ter percebido que eu não sou uma pessoa normal ― ele respondeu entre engasgos. ― No entanto mesmo pra mim é impossível escapar dessa situação.

― Sendo assim responda rápido, você sabe algo sobre um lobo igual a você, de pelos negros?

― Você é ingênua, não sabe de nada, não entende nada ― a criatura fez um barulho que poderia ser um riso ou uma lamúria e quando Capuz ergueu a adaga para tentar torturá-lo, ele morreu. 

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