Graça sobre Graça

02. Favor imerecido apenas?

Graça é um substantivo feminino oriundo do termo em latim gratia e significa benevolência, mercê, estima ou um favor que se dispensa ou recebe. Baseado nisto, os pais da igreja criaram o conceito de "favor imerecido". E não, não há erro algum nisto, o que está em jogo é que a Igreja entrou numa zona de conforto espiritual e se contentou em manter a água nos tornozelos enquanto o varão do cordel de medir nos convida a conhecer mais deste Rio. Oséias disse em seu livro , no sexto capítulo e no verso 3 "Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR...". Note que o verbo está no imperativo, é uma ordenança do profeta conhecer a Deus. A escolha de conhecer mais é pessoal, não podemos deixar a preguiça nos impedir de conhecer a Deus.
Considero um absurdo dizer que graça é simplesmente favor imerecido. Graça é a suficiência de Deus em nós. Levarmos em conta apenas o aspecto salvífico da graça, é uma aberração ao texto bíblico, embora sem sombra de dúvidas seja o principal ponto a ser pensando,não é único.
Graça se caracteriza como qualquer favor recebido que não merecemos. Mas , limitar isso a apenas a perdão de pecado é tornar o homem independente de Deus após a conversão, como se o confessar pecado fosse a única exigência necessária para salvação.
Partindo de um pressuposto histórico, temos na Idade Média, Lutero e os reformadores pregando contra a igreja católica ressaltando a necessidade da fé além das obras (Tg 2.20) e parece que na contemporaneidade isto se inverte, achasse que apenas declarar a fé é suficiente, enquanto a vida de comunhão, santidade e fidelidade a Deus ficam em segundo plano. Muitos não entenderem que assim como ter obras e não ter fé é estar morto,o contrário também conduz ao mesmo fim.
A graça gera santificação. Não há como usufruir da graça vivendo uma vida de pecado. Paulo diz aos Romanos:

Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?
De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? (Rm 6.1,2)

Paulo alerta aos cristãos "espertinhos" , que o fato da graça super abundar onde há pecado, não significa que devemos pecar mais para ter mais graça. Pelo contrário, quando Deus nos confere graça, Ele nos dá poder para matar o pecado dentro de nós. E se matamos o pecado,não podemos voltar a praticá-lo corriqueiramente.

Quando falamos de "matar o pecado dentro de nós", imediatamente me recordo do sacerdote Finéias ,filho de Eleazar,neto de Arão. Em números 23 ao 25, a Bíblia narra a investida de Balaque contra Israel. Sabendo ele que não poderia vencer em campo de batalha, contrata a Balaão, profeta de Deus, para amaldiçoar o povo. Balaão ainda demonstrava temor a Deus e não conseguiu amaldiçoar porque a mão do SENHOR era sobre Israel. De repente Balaão e Balaque têm a idéia de oferecer as moabitas, que se prostituam no templo de Baal, para se relacionar com os israelitas. O plano é perfeitamente executado,o povo cai em prostituição e fica vulnerável a ira de Deus que inicia uma praga sobre o povo. E enquanto muitos judeus morriam pelo seu erro, Zinri e Cosme estão entrando uma das tendas para ter relação sexual e então, no verso 7 do capítulo 25, Finéias com sua lança mata aos dois fazendo cessar a ira de Deus.
Quando usamos a lança que Deus nos deu ,que é a graça,contra o pecado que está dentro de nós,a ira de Deus cessa e o Senhor se agrada do zelo que temos para com Ele.
Graça não é só favor imerecido, graça é poder para vencer o pecado.