Capítulo 9

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- 5... 4... 3... 2.... 1. FELIZ ANO NOVO! – todos gritaram na praça. Camila, Normani e Dinah fizeram um abraço coletivo e depois cumprimentaram mais alguns conhecidos por ali.

Clark, um dos alunos mais velhos, convidou a todos que conhecia para uma after party na sua casa. As meninas estavam empolgadas para irem, não era de se esperar menos, haviam conseguido algumas doses de tequila com alguns paqueras. Camila era a única que demonstrava alguma resistência em ir. Talvez porque não bebeu nada alcoólico a festa inteira ou pelo simples fato de ter sido em uma after dessas que sua vida deu um giro de 360°.

- Vocês podem ir, eu vou ficar bem. – ela disse próximo as meninas, devido ao barulho. – Só deixe o carro para trás, Mani. Você já está trocando os pés. – Camila pediu.

- Anda Mila, vem com a gente. – Normani pediu. – Precisamos de alguém sóbrio para nos impor limites. – apelou e Camila mais uma vez negou, fazendo cara de piedade.

- Eu não acredito que vou dizer isso, mas acho que não devemos ir. – Dinah opinou e ganhou olhares curiosos sobre si. – Não me olhem assim! – pediu. – Olha o que aconteceu com a Mila... Se a gente vacilar demais podemos ser as próximas. Ou pior, pegar uma doença. Ou pior, transar com um daqueles nerds tarados e grotescos. – fez careta e depois uma cara de assustada. – Imagina transar com um desses nerds tarados e grotescos e engravidar além de pegar uma doença?

- Dinah, seus argumentos são... – Camila disse pressionando os lábios e negando com a cabeça. Ela aproveitou que a amiga lhe olhava meio perdida e trocou a sua bebida com a dela, derramando a cerveja do copo que era de Dinah ao chão em seguida. – O que acha Mani? – se voltou para a outra amiga.

- Duas contra uma. Vamos beber alguns refrigerantes antes de voltarmos para casa. – Normani deu de ombros.

Elas ficaram mais um tempo na praça dançando e jogando papo fora até Normani se considerar bem o suficiente para dirigir. Dinah se assegurou de testar seus reflexos.




- Lauren, feliz ano novo! – Ally desejou a abraçando. Haviam se desencontrado no meio de tantas pessoas. Lauren correspondeu ao abraço e lhe sorriu.

- Feliz ano novo, Ally! – desejou também. – E o Dylan? – perguntou se referindo ao namorado da baixinha.

- Capotou no dormitório. – Ally respondeu dando de ombros e as duas riram. Elas ficaram um tempo caladas, observando o movimento ao redor. – Agora que você tomou um pouco de coragem – metaforizou a bebida que Lauren tomava. – quer desabafar como você realmente está se sentindo com tudo isso? – perguntou a olhando com cautela.

Allyson sabia que, por trás daquela pose de pessoa super tranquila com tudo, havia uma Lauren tão machucada que mal conseguia se expressar. Lauren suspirou. Ally a conhecia tão bem. Ela apenas assentiu e fez sinal para que seguissem pelo corredor.


- Acho que Asheley não vai se importar se conversarmos aqui. – Lauren disse guiando Ally para dentro do dormitório da outra amiga. Elas se sentaram e Lauren respirou fundo.

- Leve o seu tempo. – Ally pediu apertando o ombro da amiga, em apoio. Houve um silêncio considerável até Lauren começar a falar.

- Quando a Camila e eu brigamos pela quinta vez aquela semana, eu não pensei que tudo fosse desandar. Honestamente, por mais que tenhamos dito coisas demais uma para a outra, sempre ajeitávamos a situação. – Lauren começou coçando a nuca em sinal de nervosismo e depois abaixou os olhos. – Era só mais uma briga que se iniciou por conta dos pais homofóbicos dela, sabe?

Ally assentiu. Conhecia aquela história, mas não se sentia mal em deixar a amiga desabafar.

- Foi tudo tão rápido. – Lauren suspirou, continuando. – Iriamos a uma after party juntas aquela noite, mas como brigamos eu decidi não ir. No próximo minuto eu estava recebendo uma mensagem do Lucca perguntando onde eu havia me metido, porque ele só tinha visto a Camila lá. Naquela hora me subiu uma raiva tão infantil. Eram meus amigos ali. Era a festa de despedida dos intercambistas, depois da cerimonia oficial no auditório da universidade... Enfim, ela não devia estar lá sem mim. – fungou.

Lauren fez uma pausa, para tentar recuperar a compostura e depois voltou a desabafar.

- Meu maior arrependimento foi ir até lá. É aquele ditado, "o que os olhos não vêm o coração não sente". E eu tenho essa devoção de que se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos, teria doído menos. – Lauren choramingou, sem se conter. Ally a envolveu em um abraço. – Lá estava ela, gargalhando agarrada ao pescoço de um cara que a conduzia corredor a dentro. Se não visse com os meus próprios olhos, Ally. – repetiu inconformada. – Quando a confrontei no outro dia ela nem conseguia olhar nos meus olhos para negar.

Houve um momento de silencio enquanto Lauren recuperava as palavras. Ela e Ally se entreolharam e Lauren sorriu encontrando o apoio que precisava para continuar o seu desabafo.

- O pior é que as vezes sinto que foi minha culpa. – Lauren dizia, olhando para as próprias mãos em seu colo. - Ela é muito jovem... Talvez se eu tivesse sido mais complacente, se tivesse pegado mais leve com isso de não esconder relação com uma garota menor e com pais homofóbicos... ou se eu simplesmente tivesse confessado o amor que sinto por ela, ela não teria feito isso comigo.

- Ei... Não diga isso. – Ally a fez a encarar. – Ninguém é perfeito, Lauren. E você não devia se culpar por isso. Eu já te disse algumas vezes que você devia tentar ouvir o que ela tem a dizer. E, eu sei, não há justificativas. – falou quando Lauren fez menção de retrucar. – Mas pode haver uma explicação do que a levou a um ato desses. Mas enfim, continue. – pediu e Lauren assentiu.

- Vero precisou me ajudar no primeiro mês. Eu fiquei muito mau, mas depois consegui erguer a minha armadura e estava quase conseguindo pensar em um futuro sem aquele sorriso... quando ela bate na minha porta pedindo abrigo. – Lauren sorriu triste. – Como você ama alguém e a deixa na rua? – perguntou mais para si mesma. – Era tudo o que eu conseguia pensar. E quando ela me disse que concebeu a criança me traindo... Céus, eu achei que meu coração não poderia se despedaçar mais até aquele momento. – riu tristemente, tentando conter as lágrimas. – Ainda assim eu não podia abandona-la. Eu não posso, Allyson, não posso deixa-la à mercê. E isso dói tanto. – Lauren disse a última frase já em prantos.

Ally a abraçou ainda mais forte, permitindo que a amiga chorasse em seu ombro. Lauren precisava chorar aquelas mágoas, ela precisava desabafar e aliviar um pouco do peso que estava carregando naquele momento.

- Eu só queria dizer que vai ficar tudo bem, mas só o tempo para dizer. – Ally murmurou enquanto a amiga ainda chorava em seu abraço.

Resiliência CAMRENOnde histórias criam vida. Descubra agora