Relembrando os velhos tempos

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    Tudo se inicia com mais uma típica e antiga discussão minha com meus pais sobre querer passar o réveillon com meus amigos, mas ser obrigado a ir à igreja, escutar mais uma vez tudo que já escuto desde que me entendo por "cristão". Como sempre, não ganhei, e no dia 31 de dezembro de 2013, sou obrigado a ir à igreja.

    A celebração iniciou-se às 22 horas e eu fui o culpado por chegarmos às 22:40, me atrasei de propósito. Chegando lá, toda nossa família, alguns amigos, os conhecidos de todos os domingos e as palavras do pastor entrando e saindo dos meus ouvidos sem nenhuma reação ou recepção das mesmas.

    Tudo estava completamente normal e típico até eu ver um garoto novo, não novo cronologicamente, mas, "inédito". Seu rosto me é familiar. Alto, loiro, olhos azuis, quem seria? Por que não me lembro de onde o conheço?

    As músicas se iniciam, não tiro os olhos do garoto lá na frente, e mais um ano começa. Ao abraçar mecanicamente meus pais e meus irmãos - são dois, Juliana (14 anos) e Felipe (10 anos) - penso que o ano será diferente, o ano de mudança na minha vida. Ainda não sabia como, mas o que estava pra acontecer realmente demonstrava isso.

    Ao acabar todas as celebrações e cumprimentos, saímos da igreja - eu me sentindo mal por perder a visão do garoto novo em meio a todos os fieis - e nos dirigimos ao estacionamento, buscando o carro para voltarmos a nossa casa e dormirmos como se fosse mais um dia normal. Até que de repente, o rapaz aparece. E com um homem mais velho, e sim, desse eu me lembro bem, era amigo antigo do meu pai. Então, ele era seu filho, Matheus! Claro, convivi com ele na infância e apesar de ter mudado bastante fisicamente, ainda mantinha seus traços.

- Amigo, quanto tempo?! Que prazer em revê-lo. - Carlos, amigo do meu pai, Marcelo, o cumprimenta.

- Nossa, foram 10 anos ou mais? Pensei que ainda estava em Lisboa, não sabia que retornava esse ano. - Meu pai falou o abraçando.

    Enquanto isso, meu olhar foi de encontro ao do Matheus e nós nos cumprimentamos com um singelo aperto de mão, assim como fez meu pai e o resto da minha família, como se fossemos estranhos uns aos outros, mas há alguns anos, a proximidade entre nossas famílias era imensa.

    Lembro-me vagamente de quando a mãe do Matheus faleceu, câncer no intestino. Eu tinha 7 ou 8 anos, mas Matheus ia sempre à minha casa, brincávamos e quando ela faleceu, lembro-me dele chorar muito, assim como seu pai. Foram morar em Lisboa nesses anos, buscaram o amparo da família do Carlos, que era de lá. Mas agora, estavam de volta, e talvez voltássemos à convivência de sempre.

   Toda a conversa se dá entre meu pai e Carlos, foram cerca de 20 minutos de conversa, de olhares trocados entre eu e Matheus, até que Carlos convidou a nós todos para passar uma semana - estávamos de férias - em sua casa de praia, no litoral. Meu pai prontamente aceitou, e eu estava, finalmente, com boas expectativas para o início do ano.

    Nos despedimos todos agora com um abraço, e eu pude sentir, não sei se foi coisa da minha mente, um aperto maior no abraço do Matheus, e um sentimento surgiu em mim, como que bons pressentimentos. E nesse momento ele me surpreende, pois mesmo aparentemente tímido, falou:

- Espero que você possa passar mais tempo conosco agora, sera um prazer relembrar nossa infância e amizade.

    Ele tinha uma expressão engraçada, como se escondessemos algo do passado. Sua voz era diferente, sedutora. Como sou mais tímido ainda, apenas acenei com a cabeça, e me afastei.

    Voltamos para casa, e como sempre, todos foram dormir. Mas dessa vez era diferente, não conseguia parar de pensar em Matheus e relaxar. Dormi às 3:30 da manhã, lembrando do que ele falou e imaginando como seriam os próximos dias, estava bastante ansioso.

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⏰ Última atualização: Oct 28, 2014 ⏰

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