Capítulo 3

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Há alguns momentos na vida em que nos sentimos extremamente impotentes. É como se por mais que nos esforçássemos as coisas nunca fossem dar certo, como se tudo tendesse automaticamente a dar errado e não há nada que fizessemos que pudesse mudar isso.

Naquele momento, enquanto corria desesperada pela floresta, dando leves tropeços quando minhas pernas falhavam, eu me sentia exatamente assim. Sentia como se o mundo estivesse desmoronando e eu fosse a única a morrer soterrada. Sentia que tudo estava acabado e nada fosse mudar isso.

Mais alguns passos e a velha construção de madeira de cedro, que eu conhecia inegavelmente bem, se interpôs a minha frente. Se outra pessoa a olhasse aquela hora, julgaria como um lugar abandonado e feio, mas para mim aquilo era meu refúgio que, nos momentos de desespero, parecia estupidamente belo.

Eu mal entrei no velho chalé e as lágrimas irromperam por meus olhos e deslizaram rápidamente pelo meu rosto, uma atrás da outra. Fecho a porta, mesmo sabendo que estou totalmente sozinha ali. Quase não chego a cama de madeira antes que minhas pernas falhem comigo e eu desabe.

A cama de madeira apodrecida solta um grave rangido quando meu corpo trêmulo se choca contra ela.

Lágrimas caem sem parar e minha boca produz fortes soluços.

Choro desesperadamente, desejando que alguém estivesse ali me dizendo que tudo vai melhorar e ficar bem. Mas não tenho ninguém para me abraçar e sussurrar essas palavras de consolo, não tenho ninguém para me dar algum apoio enquanto desmorono. Estou sozinha nisso. Tenho que enfrentar sozinha essa dor, contornar sozinha esse problema. Não posso nem sequer contar para alguém o que aconteceu, o que estou sentindo.

Lágrimas e mais lágrimas escapam por meus olhos e minha boca produz sons guturais.

Eu não posso contar para minhas irmãs sobre Thomas, pois isso implicaría falar sobre as dividas e, ao contrário de mim, elas não possuem conhecimento delas, e é melhor que continue assim. Elas ainda acham que nós estamos bem, que papai nos deixou em boas condições ao morrer. Elas nem sonham que a cada dia que passa a comida se torna mais escassa e ficamos mais perto de ter nossa casa invadida por credores. Elas nem sonham de onde vem o dinheiro que usamos para comprar as roupas em seus corpos... Ou o que mamãe faz anoite para que tenham comida pela manhã.

Eu também nem sonharia com essas coisas, também estaria vivendo em paz, sem me preocupar com dinheiro e tudo isso, como era quando papai estava aqui. Eu estaria assim... Caso não estivesse no lugar errado na hora errada. Caso eu não tivesse levantado no meio da madrugada em uma noite qualquer há quase quatro anos atrás para beber um copo d'água, e flagrado minha mãe lutando sozinha para tentar conseguir dinheiro para se livrar dessas dividas. Caso mesmo com o que eu tivesse visto, eu apenas deixasse aquilo para lá ao invés de cavar fundo o assunto, apenas para descobrir no quanto de merda estamos afundadas.

Meu corpo todo treme, me sinto fraca e esgotada, todas as minhas energias foram sugadas e por um momento apenas desejo fechar os olhos e não acordar mais. Seria tão mais fácil se isso simplesmente acontecesse, tão mais fácil se eu apenas deixasse de existir, pois assim eu pararia de sentir tudo isso, pararia de ter esses pensamentos paranóicos e essas preocupações...

Me esforço para não pensar assim, me esforço para resistir e ser forte, para apenas continuar lutando e pensando positivo.

Tudo vai melhor, Katherine.

Isso é uma fase, ela vai passar, assim como a dor, e você poderá voltar a respirar em paz e a sorrir.

São as frases que repito para mim mesma na inútil tentativa de me acalmar.

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