Capítulo 5

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As vezes, tudo simplesmente da errado, e isso é normal, faz parte da vida. Você não pode ganhar o que quer sempre, não pode ter apenas sorte. Mas as vezes, tudo continua dando mais errado do que você creía ser possível. É como se você apenas caminhasse para trás e quando perece que vai mudar de rumo, que vai dar um passo na direção certa... Então você tropeça e cai mais para trás ainda do que já estava.

Era exatamente isso o que estava acontecendo na minha vida no momento. Depois de caminhar durante quatro anos para trás e para trás, eu finalmente ia dar um passo - um doloroso mas necessário passo - para frente, até que uma pedrinha, conhecida como Lucas Spania, surge em meu caminho e faz com que eu escorregue e me finque de uma vez na miséria.

Meu coração batia tão rápido que parecia estar parado. O que diabos tinha acontecido comigo no meu nascimento? Eu tinha sido amaldiçoada por alguma daquelas bruxas de livros infantis? Meu nome era uma maldição em algum idioma desconhecido? Os deuses tinham escolhido me odiar?

Eu não sei o que tinha acontecido, mas devia ser algo sério, porque não era possível alguém ser tão amaldiçoada na vida quanto eu era, ter tantos problemas.

Minha pedrinha, ou melhor, Lucas, irrompe poucos minutos depois pela porta do chalé, tão rápido que faz toda a madeira velha das paredes ranger e chacoalhar.

- O que você quis dizer com aquilo Katherine? O que quis dizer com "não aguento mais isso" e "estamos ferrados"?

Eu termino de beber meu copo d'água e olho para o meu irmão.

- Eu quis dizer que estamos ferrados, nadando em dívidas, afundados até a cabeça em merda, no fundo do poço... Qual versão você preferir. - respondo sarcástica.

Lucas pisca.

- O que? Mas... Como assim?

Suspiro.

- Temos muitas contas e nenhum dinheiro Lucas. É isso o que significa. - explico objetiva e bebo de uma vez outro copo d'água.

Meu irmão continua me fitando confuso.

- E a pensão que papai deixou?

Sorrio amarga.

- Não existe pensão nenhuma Lucas, tudo que papai nos deixou foi um monte infinito de contas e mais contas. Por causa dele corremos o risco de credores invadirem nossa casa todos os dias para reclamar o dinheiro. O dinheiro que nem de longe temos, nem mesmo para comer. Essa pensão é apenas uma lenda urbana que mamãe inventou.

Lucas parece entender dessa vez, e faz a mesma expressão atordoada que eu fiz ao descobrir. Fica com os mesmos olhos azuis atônitos.

- Puta merda! - ele exclama e passa a mão pelo cabelo, contrariado.

- É, pois é.- digo e tomo mais um copo d'água.

Ele me fita.

- Por que eu não já sabia disso? Por que mamãe não me disse nada?

- Porque ela não queria nos preocupar, nos deixar aflitos. Ela não contou nada a nenhum de nós. Mamãe não sabe que eu sei, e as meninas vivem na mesma ignorância que você estava.

- E como você descobriu? - pergunta resfolegando.

Eu desvio o olhar.

- Isso não interessa agora. Tudo que importa é o que vamos fazer. - balbucio.

Ainda não estava pronta para falar daquele dia. Para contar sobre o que eu vi. Para ninguém. Nem mesmo para Lucas. Eu ainda não conseguia falar, não em voz alta.

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