CAPÍTULO 12 | UM ENCONTRO INESPERADO

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Digamos que minha tarde foi bem "animada". Minha mãe não parava de falar sobre o meu diretor, mas eu só fazia escuta, meio distraído. Ela falava, falava, mas eu estava distante, como se estivesse ouvindo um zumbido de fundo, sem realmente prestar atenção nas palavras. A noite chegou com uma baita chuva, e, para aproveitar um pouco o friozinho da tempestade, decidi ficar sem camisa. Pode parecer estranho, mas eu queria muito aproveitar esse frio. Às vezes a gente só precisa sentir a chuva, sabe?

Fiquei ali, na janela, observando as gotas caírem. O vento gelado fazia meu corpo tremer, mas de uma maneira que me parecia boa. "Acho que nunca estive tão confortável no frio", pensei, enquanto me deixava levar pela sensação. Mas a tranquilidade durou pouco. A manhã seguinte trouxe um gostinho amargo.

Acordei com a garganta inflamada, e meus olhos estavam vermelhos, quase como tomates. "Parece até que fumei umas coisinhas", pensei, tentando me convencer de que não era nada demais. Além disso, minha mãe já tinha saído para o trabalho. A casa estava quieta, o que normalmente seria bom, mas naquele momento, só me fez sentir mais sozinho e desconfortável. E pensar que poucas horas atrás estava melhorando de uma gripe.

"Pois é, hoje vou ficar em casa", murmurei para mim mesmo enquanto me levantava da cama e me dirigia ao banheiro. A preguiça era tanta que, por um momento, quase voltei a deitar. Mas, não, eu tinha que me levantar e fazer alguma coisa para comer.

Após fazer minha higiene, caminhei lentamente até a cozinha. Meus olhos ainda estavam quase se fechando, e uma dorzinha na garganta me fazia engolir em seco o tempo todo. Eu sabia que minha mãe, quando chegasse, provavelmente me daria uma boa bronca. "Ela vai gritar comigo por ter dormido sem camisa na chuva. Às vezes parece que nem vou completar 18 anos", pensei, suspirando. Minha cabeça estava a mil, mas eu mal conseguia processar os pensamentos direito.

Enquanto vasculhava os remédios no armário, repentinamente, ouvi batidas fortes na porta. Levantei a cabeça, tentando focar na direção do som. Por um momento, fiquei sem saber se estava sonhando ou se aquilo era real. Com dificuldades para enxergar, comecei a caminhar em direção à porta, me apoiando nas mobílias de casa para não sair batendo em tudo.

— Mãe? Eu acho que estou morrendo. — falei em voz baixa, já sentindo o peso de tudo, antes de fechar a porta.

Logo após, escutei uma tosse profunda que me fez arrepiar da cabeça aos pés. Aquela tosse não era normal. Não era a tosse da minha mãe, nem de ninguém da minha família. Era uma tosse... grave.

— O que você fez agora, garoto? — perguntou uma voz grossa, que me fez estremecer.

— Rodríguez? É-é-é você? — gaguejei, sem acreditar no que estava ouvindo. A voz dele estava mais perto do que eu imaginava.

— Não, é o papai Noel! Anda, garoto, me fala logo o que você tem. — A voz dele, agora mais próxima, era cheia de autoridade. Quando me dei conta, ele já estava com a mão na minha testa, sentindo minha temperatura.

Eu estava completamente sem reação. Rodríguez, o diretor da escola, ali, na minha casa, praticamente me diagnosticando como se fosse médico.

— Assim... ontem choveu muito e, pra aproveitar o frio, decidi dormir no chão e sem camisa. — expliquei, tentando encontrar palavras que não parecessem tão absurdas.

Ele me olhou com uma expressão severa.

— Idiota! — murmurou, desaprovando minha escolha. — Você não tem juízo, não?

Fiquei sem saber o que dizer. Ele estava certo, mas, ao mesmo tempo, o fato de ele estar ali, me fazendo sermões, era tão surreal que eu quase não conseguia acreditar.

— O que o senhor está fazendo aqui? — perguntei, ainda confuso, tentando entender como aquilo tudo tinha acontecido.

— Não te vi no colégio hoje, então decidi vir ver o que houve com você. Além disso, sua mãe me pediu ontem para resolver qualquer coisa que você aprontasse. Ela está ocupada com o trabalho, então não vamos estressar ela. — disse Rodríguez com uma naturalidade que só aumentava meu desconforto.

Ele me fez sentar no sofá, como se fosse um filho. Eu, com dificuldades, tentei me levantar, mas ele me impediu com um gesto firme.

— Não precisa! — protestei, mas minha voz falhou devido à dor.

— Deixa de ser tão infantil, garoto. Aceita a ajuda que estou te oferecendo! — ele exclamou, ainda com aquele tom autoritário que eu já estava acostumado, mas que, de alguma forma, me parecia reconfortante.

Fiz uma careta e resmunguei enquanto me sentava de volta no sofá.

— ...Hummmm... — murmurei, de olhos quase fechados, deixando-me render um pouco à situação. Eu sabia que não tinha muita escolha. Naquele momento, Rodríguez parecia mais uma figura paterna do que o diretor da escola, e eu não sabia o que me incomodava mais.

Rodríguez, por sua vez, já se dirigia à cozinha, fazendo barulho enquanto procurava algo para preparar. Ele estava se movimentando com a confiança de quem já sabia exatamente onde estavam as coisas.

— Agora fica quieto aí e se concentra em melhorar, ok? Eu vou fazer algo para você comer. Não vai ter desculpa de sair dessa casa até você se sentir melhor. — Ele gritou da cozinha, sem nem ao menos olhar para trás.

Eu não disse nada, mas não pude deixar de sorrir para mim mesmo. Em um dia qualquer, a última pessoa que eu imaginaria ver na minha casa seria o diretor da escola. Mas, de alguma forma, a presença dele naquele momento fazia todo o sentido.

DADDY¹ | ROMANCE GAYOnde histórias criam vida. Descubra agora