Caminhei pelo pátio, com os fones de ouvido e a minha mente ficou distante, mas, mesmo assim, já sabia que todos da minha turma iam me encarar por ter chegado atrasado. "Deixa eles", pensei, tentando ignorar os olhares curiosos. O mais engraçado é que, quanto mais eu pensava que não me importava, mais eu me sentia incomodado. Mas já estava acostumado com isso. Quando entrei na sala, como esperado, todos começaram a me observar. "Novidade", pensei, dando de ombros e procurando um lugar para me sentar.
— Professora, posso entrar? — perguntei, com um tom nervoso, enquanto tentava não fazer contato visual com os outros alunos. Os olhares curiosos já estavam incomodando mais do que eu imaginava.
— Claro, pode entrar — respondeu a professora com um sorriso acolhedor, como se fosse a coisa mais natural do mundo. "As professoras de Artes sempre são as mais tranquilas... algumas", pensei, aliviado com a forma como ela lidava com a situação.
— Obrigado — murmurei, procurando uma carteira vazia. Não que eu quisesse ser o centro das atenções, mas eu evitava ao máximo, preferia não ficar perto de quem já me julgava sem saber nada sobre mim.
Para minha surpresa, a única carteira vaga estava bem perto dos garotos mais irritantes da sala. "Sério isso?", pensei, desanimado. A última coisa que eu queria era estar perto deles. Respirei fundo e segui até o final da sala, já sabendo que a cada passo estava mais perto de uma situação desconfortável. Eles não deixariam de me encher. Quando passei perto, ouvi um dos garotos sussurrar, com uma voz baixa, mas audível o suficiente para me fazer sentir o peso daquelas palavras.
— Ixi, lá vem o esquisito...
Fiz questão de não ligar. Sempre foi assim. Ser "diferente" aqui na escola significava que eu estava à mercê de piadas e zombarias. Me sentei rapidamente, tirei o celular do bolso e comecei a mexer nele, tentando focar em qualquer coisa que não fosse o ambiente ao meu redor. "Parece que sou mesmo o estranho da turma", pensei, forçando um sorriso amargo. Me distraí com a tela, até que escutei uma nova risada baixinha.
— Eu ouvi dizer que ele gosta de garotos. — sussurrou um dos garotos, a voz cheia de diversão, tentando fazer com que os outros riam junto.
"Isso é sério?", pensei, surpreso com o comentário. O olhar de um deles se fixou em mim, e eu percebi a repulsa ali. Não era a primeira vez, mas mesmo assim sempre me incomodava. "Que nojo", pensei, sentindo uma mistura de raiva e desânimo. Como podiam me julgar sem nem me conhecer?
— Cuidado, ele pode te forçar a beijar ele. — disse outro, rindo com uma intenção maliciosa, como se minhas atitudes já fossem motivo suficiente para temerem algo que nem eu sabia o que era.
Eu estava ficando cada vez mais irritado, mas mantive a calma. "Não vale a pena", repeti para mim mesmo, tentando me concentrar no celular para não reagir. Eles poderiam falar o que quisessem, eu sabia que era só uma fase. Talvez eu fosse um pouco diferente, mas isso não me fazia menos capaz de seguir o meu caminho. Aquelas palavras já não me atingiam tanto quanto antes.
Foi então que o diretor entrou na sala, com sua postura firme, como se o mundo inteiro devesse respeitar o espaço dele. Quando ele cruzou a porta, um sorriso involuntário surgiu no meu rosto. Eu sabia que ele era o tipo de pessoa que não se deixaria levar pelos que os outros falassem. Talvez ele fosse a única autoridade ali que eu respeitasse e espelhasse.
— Bom dia, alunos. Quero informar que, este ano, a regra contra o bullying será mais rígida. Qualquer pessoa que for pega praticando esse tipo de brincadeira será expulsa do meu colégio. — disse o diretor, olhando diretamente para mim. Aquelas palavras me pegaram de surpresa, mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim se aquietou. Eu não sabia bem o que sentir, mas aquela breve menção a mim me deixou com um frio na barriga. "Ai, meu coração", pensei, ainda tentando digerir tudo.
Logo ele desviou o olhar e continuou falando com a turma, mas a sala ficou em um silêncio desconfortável. Alguns alunos se entreolharam, outros simplesmente abaixaram a cabeça, talvez por não saberem como reagir.
— O senhor é o novo diretor? — perguntou a garota mais popular da turma, com aquele tom entediado e desdenhoso que eu já conhecia muito bem. Era uma garota que parecia não se importar com nada, exceto com o que ela mesma achava importante. "Foda-se", pensei, com um impulso de desinteresse. Não queria gastar minha energia com ela.
— Qual parte do "meu colégio" não ficou clara para você? Eu sou o novo diretor. Para quem ainda não me conhece, me chamo Rodríguez — respondeu ele, com firmeza, fazendo questão de deixar claro o lugar que ele ocupava ali.
"Eu gosto dos foras que esse cara dá", pensei, com um sorriso discreto, admirando o modo como ele se impunha sem hesitar. Era como se ele tivesse uma resposta pronta para tudo, e isso de algum modo me inspirava. A sala parecia mais calma agora, como se a tensão tivesse diminuído, mas ao mesmo tempo o nervosismo ainda pairava no ar.
Foi quando um dos garotos, ao me ver com um sorriso bobo no rosto, murmurou:
— Ixi, mano, olha como ele olha pro diretor... deve ter alguma coisa aí.
Outro completou, rindo, mas com um tom mais baixo, para tentar não ser ouvido:
— Vai ver que ele curta cara mais velhos...
Eu estava começando a perder a paciência, mas, de alguma forma, me mantive calmo. Se respondesse, teria que lidar com mais provocações. O diretor, aparentemente ouvindo as conversas baixas, se virou para nós e deu um passo à frente.
— Vocês poderiam falar um pouco mais alto? Não escutei direito — disse ele, com uma expressão séria, mas sem perder a compostura. Ele caminhou até onde estávamos, e o ambiente ficou ainda mais tenso. Eu sabia que ele tinha um poder de presença, mas não esperava que ele fosse tão direto assim.
"Calma, Jeff, ele está vindo", pensei, com meu coração acelerando. Sentia uma mistura de nervosismo e uma estranha sensação de alívio. O diretor estava ali para controlar a situação, e de alguma forma isso me dava uma sensação de segurança. Não sabia se era mais pela situação ou pela confiança que ele passava ao falar.
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DADDY¹ | ROMANCE GAY
RomantizmHistória de autoria de Jefferson Santhos, registrada sob ISBN. A adaptação ou reprodução sem autorização não é permitida. ⚠️ Atenção: Se você está lendo esta história em qualquer plataforma que não seja o Wattpad, pode estar correndo o risco de expo...