Agora é que eles se encontram de novo

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ISBN: 978-85-914784-0-8

Ariel Vargas era o que muitos jornais um dia já chamaram de "O John Wayne de Tulancingo". Essa é a história dele. Sinta-se à vontade, Ariel, para contestar.

O show é seu e de mais ninguém.

O Mustang conversível de Ariel dobrava a esquina do Museo del Santo, que corteja o Santo de Prata. Levava Ariel no banco do motorista. "Era tudo uma questão de dirigir ou morrer", como dizia o avô falecido de Ariel de quem ele herdara o veículo. O John Wayne de Tulancingo usava botas surradas de tantos festivais de música eletrônica pelos quais já pisara, uma camiseta branca que parecia encolhida porque demarcava os pontos acentuados do abdômen e braços definidos (a academia era algo que Ariel fazia para se sentir vivo novamente. Não servia mais tanto para a imagem), e uma calça jeans azul super apertada nas coxas grossas, par de ray-bans aviador protegendo a vista da luz forte do sol que tinha pousado recém sobre os morros ao leste de Tulancingo. Alguns dos morros de Tulancingo eram parecidos com os da Califórnia e era através destes que o ombro da noite recebia o dia, antes de alcançar o topo dos prédios mais altos da pequenina cidade. Era ele, o motorista daquele carro antigo que nunca caía de moda, um dos jovens adultos mais interessantes da sociedade LGBTQIA+ do México.

O som do carro tocava uma das músicas do momento: "John Wayne", música da aclamada cantora Lady Gaga. Era uma das canções que mais podiam descrever Ariel Vargas. A que estava no topo da playlist do celular dele, após aquele repertório estrondoso no Super Bowl: "Baby, vamos ficar fora de si... John Wayne", cantava a Mother Monster. Ariel acompanhava a canção cantando mudo. De manhã bem cedo, Ariel tinha essa mania de percorrer Tulancingo e vislumbrar as melhores vistas de Tulancingo, porque isso o fazia bem. Estava fazendo bem. Ele cresceu lá, na verdade, junto com os pais. Faziam uns meses desde que Ariel retornara para Tulancingo, de um modo, diríamos, não muito agradável. Tulancingo não era uma cidade para jovens progressistas, modernos, com o pensamento evoluído sobre um monte de coisas. Mas ele gostava agora, porque Tulancingo não tem uma pessoa. Duas pessoas. Uma que ele conheceu através da outra que se apaixonou e sofreu no final das contas. Sofre até hoje.

Em Tulancingo, Ariel estava longe da família e próximo aos amigos mais fiéis que não o ferrariam de jeito algum. Tinha seu próprio apartamento. Que o seu pai político emprestou para ele ficar de molho enquanto as eleições para prefeito de Tulancingo aconteciam. O sr. Vargas não queria ver o filho interferindo na campanha na qual ele havia apostado até as calças. Jornalistas, pessoas da mídia, podiam vir à Tulancingo entrevistar o pai de Ariel e pedir por algo que não tinha nada a ver com a disputa eleitoral. "Onde está o seu filho, sr. Vargas?", seria o que a mídia mais iria querer saber. "Podemos fazer algumas perguntas a ele sobre o escândalo que o trouxe de volta à cidade?..." e "Onde ele está morando, sr. Vargas?".

Ariel cursou Comércio Exterior uma época, mas trancou porque não tinha certeza se era isso que estava disposto a seguir pelo resto da vida.

O Mustang continuou sua rota com destino ao apartamento de Ariel no coração de Tulancingo. Era mais de sete horas da manhã agora. Ariel Vargas não perdia o entusiasmo de se sentir livre em um local onde as pessoas não podiam encontrá-lo. Nunca imaginou que pensaria isso em algum dia, mas a fama tem um preço caro. Não acreditava quando um Orlando Bloom alegou cansaço de ver a si próprio na roda da mídia. A hora chega para todos e todas. Você supera, compañero. Hoje em dia, as pessoas não sabem mais o que é verdade simplesmente porque não se importam em buscar pela verdade. Foi por isso também que Ariel voltou para Tulancingo.

Tudo que Ariel mais desejava agora era fazer um mochilão pela América Latina com o dinheiro que ele e Nathan Kings conseguiram das atrocidades que haviam feito para conquistarem a fama. Às vezes, porém, Ariel pensava que se pudesse trocar parte do dinheiro do qual tinha direito a ter pelo esquecimento do que passou nos últimos meses, ele não pensaria duas vezes. Ariel sofreu um abalo profundo quando esteve na cadeia: Crises emocionais e perturbações que sua própria consciência fez enquanto esperava por aquilo o qual estava escrito que não aconteceria... Ele ficou ferrado e chegou ao fundo do poço. E essa história é sobre esse fundo de poço. Como Ariel Vargas foi parar lá e como ele vai renascer após toda essa história dar uma reviravolta impressionante. Não sei nem se estou preparado.

O John Wayne de TulancingoOnde histórias criam vida. Descubra agora