Partido como nunca

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Estou caída numa rua da calçada onde cresci e me sinto em casa. Acabei de partir o meu coração e estou sozinha, desamparada e frágil, levanto-me e as lágrimas começam a sair pelos meus olhos e nada sangra mas tudo dói. Levo as mãos ao peito e sinto um buraco tão fundo que parece que levei um tiro certeiro no coração, porém, tenho a certeza de que não estou morta.

Caminho agora pelas ruas da minha vila, com a cabeça baixa e com a pior dor que alguma vez senti, passo por algumas pessoas mas ninguém repara no meu vazio interior, pergunto-me como é possivél doer tanto e ninguém ver, ponho os fones nos ouvidos, uma música calma e a dor aumenta, mais uma vez os olhos enchem-se de lágrimas e elas caiem pelo meu rosto.

Chego a casa, corro para o meu quarto e está na altura de diminuir a dor, olho-me ao espelho, a minha cara trancada assusta-me, a minha roupa não brilha e onde devia estar o meu coração está apenas um espaço vazio. Levo a mão ao peito e deixo-a entrar na minha pele, passo as costelas e afinal lá está ele, partido como nunca e mais morto que vivo, envolvo-o na minha mão e puxo-o com toda a pouca força que tenho, imediatamente caio mas desta vez, não me levanto mais. 

22-09-2019

Catarina Constantino 

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