Akai Tenshi - Anjo Vermelho

Uma Noite (Quase) Perfeita

✩ Litoral Oeste da Cidade de Oymashu ✩

✩ Horário: 18h 48m 48s. Nublado. 24C°✩

★ Yamamoto Earl — Número Oito ★

A LUZ DO SOL SE APAGOU ANTES DO QUE EU IMAGINEI. Mas não foi porque ele se pôs no horizonte como acontece todos os dias. A explicação disso foi o que aconteceu comigo, não com o sol, e, exatamente o que, aconteceu comigo? Me lembro de ter sentido a presença de uma cobaia... mas uma que não estou acostumado a sentir. Então uma corda se enroscou nos meus pés e eu fui arremessado para cima, senti uma pressão terrível na cabeça e então a escuridão veio. É estranho, o vácuo onde fica a mente quando estamos inconscientes, a ideia de ser desligado à força. É como estar em uma sala escura sem portas ou janelas, apenas um infinito caminho que não leva a lugar algum. Mas agora essa sala esta diferente, tem uma fragrância nela... um cheiro delicioso de dama da noite. É fraco, doce, convidativo e viciante. Inspiro profundamente com a intenção de sentir mais dessa fragrância gostosa, sinto ela encher meus pulmões e trazer uma luz para a sala escura onde minha mente esta presa. Depois da fragrância, tem um som, um som abafado e distante, mas sei que ele esta ali. O som se arrasta devagar pelo ar, feito da mistura de um assobio do vento e as ondas do mar. O mar... posso sentir o cheiro salgado da água também, a areia molhada e toda a maresia de onde eu estava antes de ser apagado. Me agarro a isso, a sensação de estar despertando e percebendo as coisas ao meu redor. O cheiro da dama da noite é mais forte que o salgado do mar. O som das ondas começa a ficar mais alto, mais evidente, e então misturado a ele algo em um tom mais doce e suave, uma voz. Uma voz que não conheço, mas que me agrada, me chama para sair da sala escura. Uma nova sensação aparece, um leve arrepio na nuca que percorre todo meu corpo e me faz voltar a senti-lo. Finalmente, abro os olhos. Está de noite. A lua me saúda com seu brilho incomparável e perfeito.

— Eu poderia admirar o luar a noite inteira e não reclamaria. — A voz doce e suave agora não é só mais um murmúrio, mas palavras consistentes e claras. Ela está bem a minha frente. A dona da voz. E o cheiro da dama da noite emana dela. — E sei que você poderia fazer o mesmo, Yamamoto Earl. Dono do código C. M. S. 2-VIII e de uma individualidade de pele.

Os olhos dela me encaravam profundamente, bem centrados e sérios, queria saber de que cor são esses olhos grandes e perfurantes. A lua estava sobre a cabeça dela, é lua cheia, o brilho branco no céu noturno é maior que em qualquer outra fase da lua. Hoje é o que eu chamaria de uma noite perfeita. Se não tivesse uma estranha cheirosa que demostra saber tudo sobre mim na minha frente me encarando e esperando sei lá eu o que, essa seria uma bela noite perfeita. Não respondi a nenhum dos comentários dela, embora eu tivesse tantas respostas na ponta da língua pedindo para sairem, permaneci em silêncio, como o céu sem pássaros para cantar. Virei a cabeça para o lado, meu braço estava completamente envolto no que parecia uma corda com folhas verdes... vinha. É uma vinha. E ela se enrolou em mim com a força e precisão de uma serpente. O outro braço também estava preso em vinhas. Minhas pernas não estavam diferentes, as vinhas subiam dos meus pés até os joelhos, tão apertadas que eu sentia uma dormência por toda a coxa. Meu dorso estava agarrado por uma vinha mais grossa, a calibragem devia ser do tamanho do braço musculoso de All Might. Era isso, eu estava preso por vinhas e estendido no ar como um animal morto dado aos corvos.

— Espero que você não esteja tão desconfortável, Yamamoto Earl. — Uma vinha da finura de um dedo subiu da minha cintura e ajeitou uma mecha de cabelo que estava caída sobre meus olhos, jogando-a para trás da minha orelha. O movimento foi sutil como a brisa da noite. — Melhor?

— Já que se importa tanto com isso, eu ficaria bem mais confortável se fosse solto...

— Impossível. — Mesmo sendo curta e grossa, vindo dela a resposta ainda soava gentil. — Você é muito astuto para ser deixado solto.